Troca de cadeiras

Escolha de ‘ministeriáveis’ domina votações e reuniões do Congresso

Deputados e senadores questionam que critérios guiam Dilma para as indicações e traçam encontros para articular seus representantes no primeiro escalão. Base aliada tenta conter clima de ansiedade

Brasília – A confirmação, pelo Palácio do Planalto, de que amanhã (27), mesmo sem a aprovação do projeto que altera a meta de superávit primário, a presidenta da República anunciará os três integrantes já definidos para a equipe econômica ajudou a definir melhor o entendimento de que Dilma Rousseff está empenhada em traçar uma estratégia pessoal de escolha dos novos integrantes para estes ministérios – encerrando o suspense de “vai, não vai” sobre quem será nomeado. Mas não impediu as críticas que têm sido feitas tanto em reservado, como publicamente por integrantes do PT, bem como técnicos, políticos e intelectuais de outras legendas que apoiaram sua reeleição.

No Congresso Nacional, como é praxe acontecer em períodos como esse, as discussões para aprovação de vetos e matérias de interesse do Executivo tiveram, por trás, especulações sobre quais critérios estariam sendo utilizados pela presidenta para fazer suas escolhas. As conclusões têm sido as mais diversas, sempre deixando margem para dúvidas. “Ela está, mesmo, é fazendo tudo o que quer”, ironizou um senador do PT, ao questionar, inclusive, que está em jogo o resultado das reuniões que o ex-presidente Lula teve com a presidenta logo após as eleições.

Devem ser anunciados os nomes de Joaquim Levy e Fábio Barbosa, respectivamente, para os ministérios da Fazenda e Planejamento, e a manutenção de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central. Também é aguardado o anúncio do senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE) para o ministério do Desenvolvimento. Outras nomeações, ainda a serem confirmadas, são da senadora Kátia Abreu (PMDB-GO) para o ministério da Agricultura e Miguel Rosseto para a Secretaria da Casa Civil.

Os critérios a princípio aventados foram, aos poucos, caindo por terra. Levy e Barbosa são nomes do mercado financeiro, simpatizantes de mecanismos de condução da economia diferentes do que vinha sendo visto até agora. Monteiro Neto, que demonstrou fidelidade à reeleição da presidenta, foi derrotado na candidatura ao governo de Pernambuco em outubro – quebrando, dessa forma, a expectativa de que os derrotados não teriam vez na nova equipe ministerial. E Kátia Abreu é criticada por sua ligação com a bancada ruralista, mas mantém um bom contato com Dilma Rousseff.

Mais representatividade

Contadas como indicações tidas até agora como da própria presidenta, as decisões pelos nomes de Kátia Abreu e de Monteiro Neto somam-se ainda nesse quesito à transferência de Miguel Rosseto, considerado pessoa de confiança total para Dilma, do Ministério de Desenvolvimento Agrário para a Secretaria da Casa Civil. As informações repassadas, inicialmente, são de que os indicados farão parte da equipe de transição do novo governo. Deverão, por conta disso, trabalhar no próprio Palácio, aguardando a data da posse – que não ocorrerá de imediato.

No PT, o recado passado pelo Planalto aos líderes, segundo informaram parlamentares do partido, foi de que apesar das reclamações com as indicações de Levy e Barbosa, os deputados e senadores petistas – que pediram, durante reunião fechada realizada na primeira semana deste mês, a indicação de ministros melhor preparados politicamente e que dessem mais representatividade à legenda no Executivo – serão bem contemplados com ministérios mais fortes.

Mas entre eles (os deputados, principalmente), a principal dúvida é se serão ouvidos pelos ministros durante audiências a serem solicitadas em 2015 e também em reuniões com a presidenta.  “Após a eleição, o que mais foi mencionado nesta casa foi a importância de ser retomado o diálogo com o Executivo, para que esse relacionamento passasse a ser mais estreito. Fica difícil acreditar que essa aproximação vá acontecer mesmo”, disse um ex-líder do partido na Câmara.

Diferenças minimizadas

Já no PMDB, os integrantes da legenda deram sinais de que estão dispostos a negociar em troca de cargos no primeiro escalão. Desde segunda-feira, após reunião realizada entre Temer, o líder da legenda na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e o presidente da Casa, Henrique Alves (RN), as diferenças entre peemedebistas em relação ao apoio ao governo foram minimizadas.

Cunha, que é candidato à sucessão de Alves e trava uma briga de anos com o Executivo, sempre que se movimenta para impedir que projetos encaminhados pelo Palácio sejam aprovados, desta vez se esforçou para ver apreciado o texto que altera a meta de superávit primário na Comissão Mista de Orçamento. Em seguida, foi a vez dos presidentes das duas Casas – Alves, na Câmara, e Renan Calheiros (PMDB-AL), no Senado – demonstrarem disposição em atender ao pedido do governo.

Calheiros chegou a discutir com parlamentares da oposição a aprovação dos vetos presidenciais, como forma de assegurar – após essa apreciação dos vetos – a votação do projeto referente ao superávit.

Henrique Alves, que voltou a Brasília depois das eleições declarando estar magoado com o ex-presidente Lula e com o governo, foi outro que trabalhou de forma discreta, mas procurando atuar para votar conforme orientação do Planalto, em gesto que levou os colegas a darem como certa a sua ida para algum dos ministérios na cota do PMDB.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), tem saído em defesa dos futuros ministros. Mas, além de ressaltar as qualidades técnicas de Levy e Barbosa, Costa tem ponderado que Dilma Rousseff quer garantir a unidade e seguirá, ela própria, dando a última palavra em todas as áreas do governo.

“A presidente jamais abrirá mão de ser a condutora da política do governo. Qualquer que seja a história dos ministros que venham a ser indicados, ela tem um compromisso acima de tudo com as propostas que apresentou nesta campanha e com o projeto que teve início com o presidente Lula em 2002”, ressaltou o líder.

‘Mosqueteiros’

Também é forte entre os integrantes da base aliada, a certeza de que o reforço às articulações no Congresso passará a ser mais fortalecido no segundo governo Dilma, a exemplo do que aconteceu no segundo governo de Lula. Isso, por conta da retomada de outro trio na condução das reuniões para discussão das matérias encaminhadas.

No governo Lula, o trio que partia para marcar presença e fortalecer as articulações com o Legislativo era formado por Jacques Wagner, Wellington Dias e Marcelo Deda, respectivamente, governadores da Bahia, Piauí e Sergipe. Bem sintonizados com o Congresso, de onde tinham saído, eram chamados de “os três mosqueteiros do governo”, porque atuavam sempre que a aprovação de alguma matéria importante estava em risco.

Este ano, espera-se que o grupo seja formado pelo mesmo Jacques Wagner – que ocupará um dos cargos, embora ainda não esteja certo qual deles – o hoje secretário de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (que pode ser remanejado para outro ministério), e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

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