Sucessão

Disputa à presidência da Câmara passa por discussões entre PT, PMDB e terceira via

Petistas cogitam três parlamentares. Peemedebistas parecem dispostos a romper acordo para lançar Eduardo Cunha. Surgimento de terceiro nome leva a receio de novo caso Severino Cavalcanti

Luis Macedo/Câmara

Marco Maia (PT) e Eduardo Cunha (PMDB) despontam como dois dos favoritos para a disputa de 2015

Brasília – Aberta tão logo fechadas as urnas da disputa presidencial, a temporada de articulações e negociações para a presidência da Câmara dos Deputados vem se mostrando a mais tumultuada dos últimos anos. O PT já deixou claro que não pretende abrir mão do acordo feito em 2010, para alternância entre integrantes da sigla e do PMDB no comando da Casa, e vai mesmo indicar um candidato próprio. No PMDB, é certa a candidatura do líder Eduardo Cunha (RJ). E vários parlamentares deram início a conversas para emplacar uma terceira candidatura, cujos nomes mais cogitados são Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) – senador que em janeiro assume vaga como deputado – e Miro Teixeira (Pros-RJ).

“Se os partidos não chegarem a um ponto em comum, a Câmara tende a repetir o episódio observado em 2005, quando os deputados elegeram o então colega Severino Cavalcanti, do PP, que renunciou pouco depois (envolvido no escândalo de pagamento de propina para concessão de um restaurante na Casa). Foi um desastre geral do ponto de vista institucional”, avaliou o cientista político e consultor legislativo Marcelo Albuquerque.

As negociações de agora envolvem uma intrincada rede. No PT, é dada como certa a intenção de José Guimarães (CE), ex-líder do partido na Casa, de concorrer à vaga. Ele teria se reunido com correligionários no seu estado, no último sábado, confirmando essa ideia, mas é grande o número de integrantes da legenda que consideram melhor candidato o gaúcho Marco Maia. Ele, também querido pelos pares, é elogiado pela forma como conduziu a presidência no período entre 2011 e 2012.

Outra corrente petista almeja ver o atual vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), como candidato. O argumento em prol de Chinaglia é o fato de que ocupou vários cargos na Casa nos últimos anos e tem maior experiência para exercer tal função. O parlamentar, no entanto, conta com a resistência de um grupo que o acha mais crítico em relação à postura adotada pela presidenta Dilma Rousseff junto aos deputados, o que poderia vir a ser considerado um problema na condução dos trabalhos.

“Continuamos sendo a maior bancada e não temos dúvidas que queremos lançar um candidato”, disse o líder do partido, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (SP), em entrevista na última semana. José Guimarães, que antecedeu Vicentinho na liderança da sigla, ponderou para a importância de ser travado um diálogo maior entre o PT e as demais legendas, e destacou o cuidado que os petistas pretendem dar ao tema. “Não podemos ter queda de braço neste momento pós-eleições”, colocou.

Eduardo Cunha

No PMDB o deputado Eduardo Cunha já realizou reuniões com integrantes da legenda para definir sua candidatura. Ele tem tido como principal padrinho o atual presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Embora não tenha assumido publicamente tal apoio, Alves comentou na última semana em reuniões reservadas que estaria magoado com o governo pelo fato de ter perdido a eleição para governador do Rio Grande do Norte no segundo turno, após o apoio explícito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu adversário, Robinson Faria (PSD).

A mágoa, que poderia suscitar retaliações pelo hoje comandante maior da Câmara, tem procurado ser diluída por meio de conversas e reuniões mantidas por ministros no Palácio do Planalto com Alves – e inclusive, por especulações de que ele estaria sendo cogitado para ocupar um ministério a partir de janeiro. Mas o atual presidente nunca escondeu sua predileção por Eduardo Cunha para substituí-lo na vaga. Nesse xadrez, entra em cena como uma peça importante o vice-presidente Michel Temer, que marcou um jantar em sua residência oficial, o Palácio do Jaburu, para discutir o quadro sucessório da Câmara.

Oficialmente, a assessoria de Temer informou que o jantar é de boas vindas aos deputados após as eleições, mas a expectativa do governo é de que a conversa do vice-presidente da República e presidente nacional do partido com os parlamentares seja no sentido de demover os peemedebistas ligados ao governo da ideia de apoiar a candidatura de Eduardo Cunha, visto como um oponente à tramitação de matérias encaminhadas pelo Executivo à Câmara.

Se Temer será bem-sucedido nesta operação, e se vai usar de todo seu empenho para conseguir segurar os peemedebistas, ainda é cedo para dizer. Eduardo Cunha, porém, também agendou para esta terça-feira um encontro com integrantes do bloco partidário criado por ele no inicio do ano, formado por PMDB, PTB, PR, PSC e Solidariedade. O objetivo é pedir apoio explícito à sua candidatura. Em seu discurso, o deputado prega a independência dos parlamentares em relação ao Palácio do Planalto e argumenta que o fato de pertencer a uma legenda que faz parte da base aliada não deve implicar na aprovação de todas as matérias encaminhadas pelo Executivo.

Terceira via

Numa espécie de terceira via, vários deputados da oposição programaram de se reunir na quarta-feira para discutir uma nova candidatura que possa vir a fazer contraponto tanto ao PT quanto ao PMDB. O primeiro nome cogitado, o do atual senador Jarbas Vasconcelos, deputado federal eleito, chegou a afirmar em conversas de bastidores que via com cautela a situação, sem se comprometer com essa possibilidade de imediato.

Vasconcelos sempre se manteve ao lado do PSDB. Ele não integrou a aliança do partido com o PT, faz oposição ao governo e, nos últimos meses, encampou primeiro a candidatura do ex-governador pernambucano Eduardo Campos à presidência da República, depois a de Marina Silva e, por último, a de Aécio Neves, do PSDB.

Em nota divulgada no início da tarde, o deputado Silvio Costa (PSC-PE) confirmou que há um grupo interessado nesta terceira candidatura, mas não há ainda um nome firmado. Também foi mencionado, caso Vasconcelos não entre na disputa, o nome do deputado e ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira (Pros-RJ).

Nanicos e socialistas

Há três outros fatores, em meio ao imbróglio. O primeiro, por parte dos partidos nanicos, que pretendem se reunir num bloco, de modo a negociar melhor o apoio ao candidato que resolverem apoiar. Segundo o deputado Luis Tibé, do PTdoB, a articulação destas legendas é vista como uma questão de sobrevivência para as mesmas na próxima legislatura, já que, juntas, tais siglas congregam 24 deputados. São estas PHS, PTN, PRP, PMN, PEN, PSDC, PTC, PT do B, PSL e PRTB.

O segundo fator é a posição a ser tomada pelo PSB, que após o final das eleições e a morte de Eduardo Campos vai decidir esta semana que rumo tomará. É grande, entre os socialistas, uma corrente descontente com o rompimento com o governo e que trabalha para voltar a fazer parte da base aliada. Essa posição se contrapõe ao grupo de Campos, que quer manter a postura oposicionista da legenda.

Ao falar sobre a reunião da executiva, marcada para a próxima quarta-feira em Brasília, o senador eleito por Pernambuco, ex-ministro da Integração Fernando Bezerra Coelho, externou bem o quadro: “Queremos militar na oposição, mas vamos discutir como o PSB fica, porque também não queremos ser apêndice do PSDB”, acentuou.

E, como terceiro ponto, há a intenção já anunciada pelo governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), de reunir integrantes de várias legendas para um novo partido a ser criado por ele, que possa ampliar a base de sustentação do governo. Caso Cid e seu irmão Ciro Gomes insistam na ideia, devem tirar, justamente, muitos políticos que hoje pertencem ao PSB.

Um arranjo complicado cujas negociações estão atreladas, mais do que nunca, à discussão pelos nomes que deverão ocupar ministérios e à distribuição dos demais cargos cargos na esfera federal.

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