Rádio Brasil Atual

Mídia tradicional e PMDB buscam disputar terceiro turno com Dilma

Paulo Vannuchi avalia que ofensiva peemedebista na volta do Congresso é 'demonstração cabal' sobre necessidade de repensar arquitetura de governo e lamenta questionamento da disputa democrática

Gustavo Lima/Câmara

Ressentimento de Alves pela derrota no Rio Grande do Norte não é o único motivo para a rebelião

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi considera que “não vai nada bem” o terceiro turno buscado pelo PMDB com apoio da mídia tradicional e entusiasmo dos partidos de oposição a Dilma Rousseff. O partido dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), buscou impor derrotas e mandar recados à presidenta reeleita pelo PT na primeira semana de fim do chamado recesso branco.

A principal questão foi a derrubada do decreto presidencial que regulamenta a Política Nacional de Participação Social. Na terça-feira a Câmara votou o projeto de lei que derruba a medida feita por Dilma, com declarações ácidas de Alves, e agora Calheiros garante que também entre os senadores vai prosperar a iniciativa. Na próxima semana os deputados prometem aprovar a Proposta de Emenda à Constituição do Orçamento Impositivo, que tira do chefe do Executivo a capacidade de barrar emendas orçamentárias apresentadas por parlamentares.

“É uma demonstração cabal de que Dilma precisa repensar toda a arquitetura de governo. Pode-se dizer que ele (Henrique Alves) voltou furioso porque perdeu para um candidato do Pros que teve apoio do PT”, avalia Vannuchi em seu comentário de hoje na Rádio Brasil Atual. Para ele, porém, o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva ao vencedor Robinson Faria na reta final no Rio Grande do Norte não é o fator decisivo para explicar o gesto de rebelião.

A ideia cai por terra ao se observar o comportamento de Calheiros, que, mesmo tendo visto seu herdeiro político, Renan Filho, sair vencedor da disputa em Alagoas, manteve tom de críticas a Dilma na primeira semana de volta aos trabalhos legislativos. “Para quem precisa de pretexto, qualquer pretexto é pretexto. Ganha ou perde, o PMDB mostra as suas garras. Ocorre um terceiro turno da eleição presidencial em que o PMDB encampa o que ele quer, que é manifestar a determinação de manter a presidência da Câmara, rompendo acordo de dois anos atrás”, diz o analista político.

Ele entende ainda que o clima tenso da primeira semana após as eleições é vitaminado pela mídia tradicional, que, ao ver Aécio Neves (PSDB) sair perdedor, passou a buscar a imposição de uma agenda política que resulte prejudicial a Dilma. A tentativa de divulgar nomes de eventuais ministros da petista e o apoio à candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB) na disputa pela presidência da Câmara em 2015 são as demonstrações mais claras nesse sentido.

Cunha obteve ontem, por unanimidade, apoio da bancada para se manter como líder em 2015 e oficializar sua pré-candidatura, o que rompe o acordo fechado com o PT para que houvesse um revezamento no comando do Legislativo. Nos últimos dois anos o PMDB comandou as presidências da Câmara e do Senado. Agora, o deputado lança mão da visão de que os petistas não deveriam ter, ao mesmo tempo, os comandos do Executivo e do Legislativo. Pela tradição, porém, cabe ao partido que tem a maior bancada ocupar a presidência da Casa, o que daria ao PT o direito de indicar o presidente.

“O partido da mídia, que aparentemente faz uma cruzada contra a corrupção, nesse caso comprova que não tem nenhum compromisso com o combate à corrupção. Quem se apresenta em cena criando dificuldades para Dilma, para o PT, é transformado imediatamente em herói”, critica Vannuchi. Há denúncias que recaem sobre Cunha, conhecido por defender no Congresso os interesses das empresas de telecomunicações.

Para o analista político, o eco dado por empresas de comunicação a setores que não pretendem aceitar a vitória de Dilma é um aspecto preocupante do chamado “terceiro turno” das eleições. Tão logo foram anunciados os resultados, no domingo, alguns jornalistas e colunistas passaram a advogar o impeachment da presidenta com base em uma suposta tolerância com a corrupção.

“O crime de imprensa praticado pela Veja não pode ser acobertado agora pelo fogo de artilharia que a mídia faz contra Dilma”, adverte. Na sexta-feira pré-eleitoral a revista do Grupo Abril publicou reportagem de capa em que acusava a presidenta e Lula de terem conhecimento de um esquema de corrupção na Petrobras. A informação supostamente fornecida pelo doleiro Alberto Youssef, pivô das acusações resultantes na Operação Lava Jato da Polícia Federal, foi prontamente desmentida por seu advogado. Ontem o jornal O Globo revelou que o depoimento dado na terça-feira anterior à eleição à Justiça do Paraná foi alterado para favorecer a divulgação de uma informação falsa.

Em lugar da afirmação inicial, de que o doleiro não sabia se Dilma e Lula sabiam do esquema, a versão final passou a dar conta de que os dois tinham conhecimento dos desvios. “O clima no Brasil ainda é de amplo questionamento da ideia democrática mais central, que é respeitar o voto popular, respeitar que houve uma disputa, uma disputa que não terminou empatada. Houve uma vantagem de três milhões de votos com toda a mídia trabalhando contra Dilma e com um crime eleitoral que deu milhões de votos a Aécio”, finaliza Vannuchi.

Leia também

Últimas notícias