Sem especulação

PSB diz que tomará decisão sobre disputa eleitoral ‘quando julgar oportuno’

Horas após irmão de Campos declarar apoio a Marina, partido desautoriza especulação e diz que cuidará neste momento apenas de homenagens. Rede prevê conciliação entre luto e prazo político

Joel Silva/Folhapress

Marina ontem, em Santos, ao anunciar a morte. Até agora, ex-ministra desautoriza negociações

São Paulo – O PSB divulgou hoje (14) comunicado desautorizando especulações sobre a posição da sigla na disputa pelo Palácio do Planalto após a morte de Eduardo Campos, ocorrida ontem em acidente aéreo em Santos, no litoral paulista.

Na nota, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, reitera que está de luto pela “trágica morte” do candidato à presidência da República. “(O partido) recolhe-se, neste momento, irmanado com os sentimentos dos seus militantes e da sociedade brasileira, cuidando tão somente das homenagens devidas ao líder  que partiu. A direção do PSB tomará, quando julgar oportuno, e ao seu exclusivo critério, as decisões pertinentes à condução do processo político-eleitoral.”

A nota do PSB vem horas depois de o irmão de Campos, Antônio, divulgar carta afirmando que o momento deve inspirar uma reflexão sobre o Brasil e apoiando a candidatura de Marina. “Como filiado ao PSB, membro do Diretório Nacional com direito a voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes, presidente do Instituto Miguel Arraes – IMA e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição pessoal que Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo Brasil liderada pelo PSB, devendo a coligação, após debate democrático, escolher o seu nome e um vice que una a coligação e some ao debate que o Brasil precisa fazer nesse difícil momento, em busca de dias melhores. Tenho convicção que essa seria a vontade de Eduardo.”

A exemplo de Antônio, o governador de Pernambuco, João Lyra Neto, falou abertamente sobre a substituição de Campos depois de se reunir no Palácio dos Bandeirantes com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). “A tendência é ter candidato próprio e isso deve se confirmar. Mas não posso adiantar nada com relação a isso, porque depende das conversações que vamos iniciar a partir de agora”, disse. Ele afirmou que seu partido trabalha com dois prazos: o legal, estabelecido pela Justiça Eleitoral, de dez dias, e o político, determinado pelo início da propaganda no rádio e na televisão, já no próximo dia 19.

“A decisão do partido será tomada quando terminarem todas as conversações. A Marina é um grande nome, sem dúvida que é. Mas o partido vai começar a discutir, a amadurecer essa decisão, e anunciará o mais rapidamente possível, apesar do momento de dor que passamos. Temos um prazo político legal e temos que obedecer à lei”, disse o governador.

A socióloga Sigrid Andersen, integrante da executiva nacional da Rede Sustentabilidade, admite a necessidade de equilibrar o respeito ao luto pela morte de Campos com o tempo político para a escolha de um novo candidato para encabeçar a coligação Unidos pelo Brasil, formada por PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.

“Acho que existe aí um processo de reclusão que todos que conviviam diariamente com Eduardo Campos na campanha precisam”, diz a integrante do grupo político de Marina Silva, abrigado dentro do PSB desde o ano passado, quando a Rede não conseguiu reunir o número necessário de assinaturas para ser reconhecida como partido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “É um momento de luto, é o inesperado. Então, eu acho que temos primeiro que esperar e nos reequilibrar desse momento emocional.”

Vice na chapa encabeçada por Eduardo Campos na disputa pelo Palácio do Planalto, Marina Silva vem se mantendo reservada desde ontem. Ela fez breve declaração à imprensa sobre o luto provocado pelo acidente aéreo que vitimou o ex-governador de Pernambuco, ocorrido pela manhã em Santos, no litoral paulista. A interlocutores próximos, teria desencorajado qualquer conversa sobre a disputa eleitoral de outubro.

Do ponto de vista da competitividade, o nome de Marina, que foi candidata pelo PV em 2010, com 16% das intenções de voto, é visto como o melhor dentro da coligação encabeçada pelo PSB. Pesa contra ela, porém, o fato de ser uma integrante temporária do partido – após o reconhecimento pela Justiça Eleitoral, ela e os demais integrantes da Rede deixarão a sigla. Além disso, o programa defendido pela ex-ministra do Meio Ambiente em termos de economia e sustentabilidade frequentemente entra em confronto com os valores defendidos pelos membros tradicionais do PSB.

“A Rede sempre tentou colocar sustentabilidade em todos os sentidos, seja ela ética, ambiental, social, econômica”, diz Sigrid, em entrevista à Rádio Brasil Atual. “Eu acho que esse início de conversa entre a Rede e o PSB foi um pouco pesado no sentido de que montássemos uma agenda em comum. À medida que o PSB entendeu isso, nós fomos construindo a coisa com uma certa facilidade.”

Publicamente a principal desavença entre PSB e Rede se deu justamente em torno da questão do meio ambiente. Marina e os integrantes de seu grupo sempre fizeram críticas ao agronegócio, setor importante para Campos, que contava em trazer para sua candidatura o peso político e econômico dos ruralistas.

A favor de Marina, por outro lado, contam a boa relação que veio desenvolvendo com Campos ao longo dos últimos meses, o desempenho nas urnas em 2010 e a proximidade com grupos empresariais que tentam passar ao consumidor uma imagem de compromisso com o meio ambiente e com acadêmicos ligados a um pensamento econômico de caráter liberal.

Para Sigrid, haverá condições de tomar uma decisão dentro do prazo. “O fato da gente ter que, em cima da tragédia, pensar o rápido e tomar uma posição certeira vem também da própria posição do político. Em qualquer emergência, o político tem que se levantar e tomar uma posição em conjunto com seus assessores. Mas isso ainda vai ser feito”, diz, considerando que a candidatura de Marina é uma possibilidade real.

“Passa muito pela vontade da Marina e pelo que ela sente que pode fazer nesse momento e em outros, se tratando de uma participação política relevante, que é a presidência da República. Eu acredito que o nome dela pode estar, sim, é um nome a ser colocado, mas nós temos que conversar com o restante da Rede, com a Marina e com o PSB.”

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