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Lula interrompeu gravação e torceu para que notícia sobre Campos fosse mentira

'Filho político', ex-governador de Pernambuco ainda era visto como possível candidato de consenso nas eleições de 2018 pelo petista, que acreditava em reconciliação após o período eleitoral

Alan Marques/Folhapress

Lula e o ‘filho político’ no Planalto em 2006, após eleição de Campos ao governo de Pernambuco

São Paulo – Ao receber a notícia da morte do candidato à presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravava participação no programa televisivo da presidenta Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, que seria exibido na próxima terça-feira (19), quando se inicia a propaganda eleitoral gratuita. De acordo com o diretor do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que também participava das filmagens, o ex-presidente se mostrou bastante abatido com as notícias sobre a queda do jato que transportava seu “filho político” e suspendeu as gravações.

“À medida em que as notícias foram chegando, Lula ficou muito consternado e na expectativa de que isso não fosse verdade, de que pudesse ter sido um equívoco, mas, lamentavelmente, os fatos foram se confirmando. Quando ele recebeu a notícia da possível morte não teve mais clima para gravar. Paramos a gravação e ficamos torcendo para que a informação não fosse verdadeira, mas, infelizmente, ela foi confirmada e nós suspendemos as atividades e vamos ver o que faremos daqui para frente”, conta.

As notícias sobre o acidente foram sendo atualizadas gradualmente até a confirmação da morte dos sete integrantes da aeronave que se dirigiam à Santos (SP) para cumprir uma atividade prevista na agenda de campanha de Campos. O jato transportava, além do candidato do PSB, sua equipe de mídia, com o ex-deputado federal Pedro Valadares Neto, o cinegrafista Marcelo Lira, o fotógrafo Alexandre Gomes e Silva, o assessor de imprensa da campanha Carlos Augusto Leal Filho e os pilotos Geraldo da Cunha e Marcos Martins.

O ex-presidente Lula publicou ontem (13), em seu perfil no Facebook, uma nota em que lamenta a morte de Campos. Nela, diz estar profundamente entristecido com a morte de um grande amigo e companheiro e afirma que o candidato foi um “homem público de rara e extraordinária qualidade”.

Lula e Eduardo Campos foram aliados políticos até 2013 e amigos próximos. Campos foi nomeado ministro da Ciência e Tecnologia no primeiro governo do ex-presidente Lula (2003-2006) e assumiu a presidência nacional do PSB em 2005. O pernambucano deixou a Esplanada e voltou para a Câmara naquele mesmo ano para ajudar nas articulações políticas da base aliada em meio à crise aberta pelo caso conhecido como mensalão.

Em 2007, com apoio do líder petista, Campos elegeu-se governador de Pernambuco e se manteve no cargo por dois mandatos consecutivos (2007-2014), sendo reeleito com 82% dos votos em 2010. Mas, durante o mandato de Dilma Rousseff, teve início um processo de afastamento que se intensificou após as divergências em torno da aliança entre PT e PSB na disputa pela prefeitura de Recife. O PSB deixou oficialmente a base aliada no ano seguinte, quando a candidatura do ex-ministro à presidência já estava definida.

Mesmo com o afastamento entre PT e PSB, Lula e Eduardo tinham uma relação próxima “de respeito e carinho”, como explica Okamotto. “O Eduardo tinha se comportado, mesmo agora no período eleitoral, em uma relação muito respeitosa com o presidente Lula. Realmente, ele era um herdeiro, uma figura da esquerda, que todos nós tínhamos muito respeito e muito carinho porque ele tinha um grande futuro promissor”.

Segundo o diretor do Instituto Lula, o ex-presidente seguia a enxergar em Campos um possível sucessor para o governo do país em 2018. Lula estava convicto de que, passado o período de eleições deste ano, Eduardo Campos e o PSB reatariam com o PT e retomariam o projeto conjunto dos partidos. “Em 2018 ele estaria no nosso campo e a gente poderia tranquilamente caminhar para uma candidatura de Eduardo Campos. O PT não tem a pretensão de ser o único candidato da esquerda, precisa haver outros partidos e ele certamente era um candidato.”

Paulo Okamotto ainda lembrou que, devido à relação próxima de Campos e Lula – ambos pernambucanos – o estado nordestino recebeu vários projetos de articulação estadual e federal, voltados ao desenvolvimento da região. “Eduardo era um político muito carismático, esperto, vivo, articulado, e que acabou levando vários projetos para Pernambuco. O fato é que o estado  deu um grande salto com Lula e Eduardo. Infelizmente, nós não temos mais o Eduardo entre nós, mas teremos seu legado.”