Tragédia

Interesse por política e simplicidade foram marcas da vida de Campos

Ex-governador cresceu acompanhando o avô materno e, segundo amigos próximos, desde pequeno sonhou em formar uma família grande e ser presidente da República

PSB

Campos em Arapiraca (AL) na sexta-feira (8), quando comemorou 49 anos completados naquele dia

Brasília – Ele cresceu admirando a história política do avô materno e o acompanhando por todos os lados. E o avô, Miguel Arraes de Alencar, mesmo tendo vivido um tempo distante, no exílio, não escondia de ninguém que era o seu neto preferido. O pernambucano Eduardo Henrique Aciolly Campos participou e aprendeu sobre o metiê das campanhas políticas desde cedo, sempre fez questão de ir a todas as reuniões e tinha, adolescente ainda, o olhar atento de quem sabia que queria para si a vida política.

Era filho de um escritor e poeta, Maximiano Campos, vizinho de Ariano Suassuna desde que nasceu. Mas em vez dos versos, preferiu se aprofundar na economia e preparar-se para a vida pública.

Foi aluno laureado do curso de economia da Universidade Federal de Pernambuco, orador da turma e, pouco tempo depois, oficial de gabinete do avô no Palácio dos Campos das Princesas. De lá para ser eleito deputado estadual, foi um pulo. Depois ocupou o cargo de secretário estadual várias vezes, elegeu-se deputado federal por três legislaturas, foi ministro da Ciência e Tecnologia e, por fim, governador duas vezes. Desde cedo, circulava na companhia da mulher Renata, que conheceu criança na mesma rua em que morava, e com quem teve cinco filhos.

Ainda como oficial de gabinete do então governador Miguel Arraes, no Palácio dos Campos das Princesas, em Recife, já chamava a atenção de jornalistas e parlamentares pela habilidade. Tornou-se fonte e “político jeitoso”, como se diz em Pernambuco. Anos depois, quando licenciou-se do cargo de deputado federal para assumir, primeiro, a secretaria de governo de Pernambuco, e depois, a Secretaria da Fazenda, sua atuação no governo estadual era considerada tão intensa e vital para o governo de Arraes que ele chegou a ser chamado de “segundo governador”. Passou a se destacar por si próprio.

Uniões e conchavos

Em sua gestão como governador e também no  período em que ocupou o Ministério da Ciência e Tecnologia, no governo Lula, Eduardo Campos sempre procurou dar espaço tanto para políticos da chamada esquerda socialista, que criaram décadas atrás o PSB, como também expoentes de outras legendas. E foi envolto nesse emaranhado político, nem sempre bem aceito, que trabalhou ao longo da vida.

No Congresso, foi incansável nas discussões por recursos para o Orçamento Geral da União, sobretudo em relação às emendas para o seu estado, nas reuniões para tratar da guerra fiscal entre os estados e nos projetos para redistribuição de ICMS.  Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou denúncias de tráfico de pessoas, atuou como sub-relator.

Também foi autor de dois projetos tidos como emblemáticos, como o que tipifica o sequestro relâmpago como crime no código penal, o da responsabilidade social e o que exige do governo a publicação do mapa de exclusão social. No Ministério da Ciência e Tecnologia, reelaborou o planejamento estratégico, revisou o programa espacial brasileiro e o programa nuclear.

Foi como ministro da Ciência e Tecnologia que Campos articulou a aprovação de programas de biossegurança e a votação, no Congresso Nacional, da polêmica Lei da Inovação Tecnológica, que passou anos sendo discutido pelos parlamentares sem uma consolidação. Ganhou de vez, com o feito, a afeição de Lula e da então ministra Dilma Rousseff.

Desenvolvimento e meritocracia

Em 2005, assumiu a presidência nacional do PSB. Em seguida, disputou o governo de Pernambuco, inicialmente, como terceiro colocado nas pesquisas. Correligionários próximos declararam que ele era novo ainda para entrar na disputa, que sua vez seria anos depois. E apostavam que seria apenas uma experiência de campanha. Mas Eduardo Campos despontou nos debates e cresceu a ponto de ganhar a eleição. Conseguiu se reeleger com folga quatro anos depois, em 2010, e permaneceu no cargo até deixar o governo, este ano, para candidatar-se à Presidência da República.

Ao mesmo tempo em que era torpedeado por reunir à sua volta antigos adversários e estilos nada parecidos com o dos antigos companheiros, Campos também era elogiado por tentar demonstrar que queria buscar um modelo desenvolvimentista e baseado na meritocracia.

Passou por períodos difíceis em sua biografia, quando foi acusado de participação no esquema de fraude de precatórios para pagamento de despesas do governo, golpe que foi observado nos estados de Pernambuco e Alagoas e na prefeitura de São Paulo, na década de 1990. Secretário da Fazenda na época, ele chegou a depor na CPI dos Precatórios do Senado e terminou sendo inocentado no relatório final.

Nas eleições de 2008, em vez de apoiar o candidato do PT à prefeitura do Recife, preferiu trabalhar para impor um candidato próprio, que elegeu – o que deu início às divergências com o governo Dilma. Mas o ex-governador, por seu estilo simples e ar de sertanejo, típico da família Arraes, conquistou a simpatia de muitas pessoas, inclusive as que nunca votaram nele.

Morro da Conceição

Eduardo Campos subia todos os anos o Morro da Conceição, local de louvação à nossa senhora da Conceição (uma das padroeiras de Recife) no dia 8 de dezembro ao lado da mulher. Muitas vezes, mesmo ministro ou já governador, ia sem seguranças, com um dos filhos no ombro ou nos braços. E com a mesma simplicidade, acompanhava os jogos de futebol do campeonato pernambucano.

Também era visto constantemente em feiras e festas do interior, em roteiros que, anos atrás, pouco tinham a ver com seus compromissos políticos. Nos últimos dois anos de governo, em razão de uma reforma no palácio que fez com que deixasse o local onde morava com a família, preferiu, em vez de alugar uma casa maior (como é praxe entre os governadores) passar uma temporada na casa do sogro.

E quando seu último filho nasceu, em janeiro passado, fez questão de fazer um pronunciamento público para contar que o pequeno Miguel tinha síndrome de Down. Formava, junto com Renata, os filhos, a mãe – a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes – e a avó, Madalena Arraes, a imagem de uma família unida.

Eduardo Campos, de 49 anos, vem de família longeva. Sua bisavó viveu mais de 100 anos e o avô, Miguel, chegou aos 88. Nunca tinha escondido que era homem de grandes ambições: sempre declarou em entrevistas pessoais que queria ter muitos filhos (como de fato teve). Os amigos de infância contaram que, desde criança, dava sinais de que queria ser governador e, um dia, presidente do Brasil. O próprio Lula o via com um potencial cabeça de chapa na eleição de 2018, com apoio do PT.

Nesta quarta-feira (13), a queda de um jatinho em Santos fez este sonho ser interrompido, deixou um país inteiro perplexo e os moradores de Pernambuco um pouco órfãos. Se não pelo neto, porque relembraram a perda do avô, que se foi nove anos atrás, exatamente num dia 13 de agosto.

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