Política que segue

Eduardo Campos é sepultado e PSB apressa redefinição da chapa

Governador de Pernambuco afirma, em entrevista, que é preciso dar continuidade ao projeto de país lançado pelo presidenciável; viúva esteve muito ao lado de Marina Silva

Fernando Frazão/Abr

Entre as 160 mil pessoas estimadas pela PM presentes ao funeral, algumas procuraram pontos mais altos para assistir ao enterro de Campos

Recife – Muitas pessoas ainda se concentram nas imediações do portão do cemitério de Santo Amaro ou caminham pelas ruas do centro do Recife para chegar até os locais onde estão estacionados carros e ônibus, depois do sepultamento do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

A estimativa da Polícia Militar, que interditou diversas áreas para passagens de veículos, é de liberação das ruas aos poucos, de forma a amenizar o trânsito desta noite, que promete ser grande – sobretudo, em razão da volta de muitos ônibus que conduziram moradores de municípios mais distantes de Pernambuco até o local, para render as últimas homenagens a Eduardo. E, também, porque os cálculos iniciais são de que o funeral foi acompanhado por um público de 10 mil pessoas a mais que o previsto, totalizando cerca de 160 mil pessoas.

Sepultado há pouco em meio a muitos fogos de artifício e ao grito de “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro” – que foi estimulado pelo filho mais velho, João, e repetido pela esposa, Renata – o presidenciável, falecido num trágico acidente na última quarta-feira (13), teve o corpo depositado ao lado do túmulo do avô, Miguel Arraes de Alencar.

A cerimônia contou, no momento final, com cenas tão intensas quanto durante a chegada do caixão na base aérea, no final da noite de sábado (16).

Renata e Marina

O velório foi encerrado com músicas tidas como as preferidas de Eduardo Campos, interpretadas por vários cantores pernambucanos, dentre os quais Alceu Valença, Maciel Melo e Petrúcio Amorim, além do hino de Pernambuco. Uma dos estrofes, que diz “Pernambuco, imortal, imortal”, foi trocado por “Eduardo, imortal, imortal”. Também, foi incluída por Valença, na última hora, a música “Madeira que Cupim não Rói”, uma das marcas das campanhas do ex-governador, o que levou vários correligionários aos prantos.

Chamou a atenção da multidão o fato da esposa de Eduardo Campos, Renata, ter seguido no carro do corpo de bombeiros junto com o caixão, ao lado da candidata pelo PSB à presidência, Marina Silva, os filhos, a sogra e o candidato de Campos ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara.

O gesto soou como uma mensagem explícita de retomada da campanha eleitoral com o apoio da família, após a tragédia que vitimou o ex-governador. E provocou na multidão gritos que soaram como de campanha, como “Ina, Ina, Ina, Renata e Marina”, numa alusão à possibilidade da esposa de Eduardo Campos vir a ser a candidata a vice-presidente na chapa.

Sem candidatura

No meio do caminho até o cemitério, por intermédio do cunhado, Antonio Campos, Renata, que evitou dar entrevistas, mandou avisar que a família continuará, sim, na política, até numa forma de homenagem ao marido (referindo-se a ela, os filhos e a sogra, a ministra do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes), mas garantiu que não será candidata e que a prioridade, no momento, é cuidar dos filhos, principalmente os mais novos: José, de 9 anos, e Miguel, de sete meses).

Renata, dando continuidade à atitude demonstrada desde a notícia do acidente, tomou a frente das homenagens e, quando o caixão do esposo foi retirado do carro do Corpo de Bombeiros, seguiu caminhando ao lado do carrinho elétrico que conduziu o corpo do marido até o túmulo, ao lado dos filhos.

Como ocorreu ao longo do dia, muitas pessoas passaram mal e precisaram ser atendidas ou retiradas do cemitério. Outras se amontoaram em cima de árvores para ver o sepultamento do ex-governador. Os que conseguiram chegar mais perto da família e dos políticos depositaram fotos diversas de Eduardo Campos ao lado do avô, Miguel Arraes, que foram deixadas junto do caixão. Flores foram jogadas no túmulo.

Projeto continua

“Vamos dar continuidade ao projeto que Eduardo pensou para o Brasil e não abriremos mão disso”, afirmou, numa entrevista em clima de despedida, após o sepultamento, o governador de Pernambuco, João Lyra. “Vai-se uma pessoa que poderia mudar o país”, disse em outro local do cemitério o líder do PSB no Senado, senador Rodrigo Rollemberg (DF).

Conforme avisou nos últimos dias o vice-presidente nacional do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral, com o término do funeral de Eduardo Campos a legenda começa a definir, de fato, os rumos da campanha depois da perda do presidente e candidato.

A primeira reunião ocorre nesta segunda-feira (18), às 10h, em Recife, e contará com a presença de Renata Campos. Se estenderá em encontros no Rio de Janeiro e em Brasília, na próxima quarta-feira (20), quando deve ser formalizada a nova chapa – o nome que substituirá Eduardo Campos (que já se sabe, será Marina Silva) e do novo vice-presidente.

Leia também

Últimas notícias