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Lula fala de política, economia e Copa com Brasil x Argentina na final

Em entrevista a correspondentes estrangeiros no país, ex-presidente descartou que a Copa influencie eleições e critica o 'terrorismo' midiático: 'O povo aprendeu a distinguir a verdade da mentira'

Heinrich Aikawa/institulo lula

Lula: ‘Muitas pessoas não foram verdadeiras com o Brasil, tentaram vender desgraças’

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou hoje (3) com nove correspondentes de veículos estrangeiros no Brasil. Copa, Fifa, protestos, economia, educação, segurança pública, eleições e política também pautaram a conversa. Manteve o tom descontraído já conhecido pelos jornalistas e não abriu mão de falar muito de futebol, deixando claro o desejo de assistir à final disputada entre Brasil e Argentina no Maracanã, no Rio, no próximo dia 13.

Ele descartou que a Copa do Mundo possa influenciar as eleições presidenciais de outubro, criticou o “terrorismo” midiático contra a organização do evento e disse que os protestos contra a competição foram “dizimados pelo povo”. Lula considerou que a classe política no Brasil e nos organismos internacionais está “podre”, motivo pelo qual é necessária uma reforma integral em nível global e local, e que é preciso convencer os jovens para que evitem “a negação da política” e se integrem a projetos coletivos.

Disse ainda que o Brasil está “orgulhoso da organização da Copa”, da qual foi o mentor político em 2007, quando o país foi escolhido como sede. “Não acho que o resultado (esportivo) da Copa possa influenciar na questão eleitoral. Eu fui eleito em 2002 vencendo o governo de então depois que a seleção venceu o Mundial e reeleito em 2006, após a eliminação na Alemanha”, lembrou.

O ex-presidente destacou a pesquisa divulgada hoje pela Datafolha na qual a presidente Dilma Rousseff recuperou 4 pontos percentuais nas intenções de voto. “A Copa do Brasil, mesmo com todo o terrorismo que fizeram, é a terceira com maior público da história, com todos os estádios cheios e bom futebol”, acrescentou. Segundo ele, sem o “terrorismo que venderam” talvez o país tivesse recebido mais turistas. “Falavam de caos nos aeroportos, em todos os lados, assaltos, mas o verdadeiro caos ocorreu com as seleções de Espanha, Itália e Inglaterra, que eram favoritas e saíram antes do tempo.”

Lula afirmou ainda que muitas pessoas “queriam o fracasso da Copa” e citou o ex-jogador Ronaldo, que se declarou “envergonhado” pela organização uma semana antes da competição apesar de ser membro do Comitê Organizador Local (COL).

“Muitas pessoas não foram verdadeiras com o Brasil, tentaram vender desgraças. Neste país se trata bem a todos os estrangeiros. Se um estrangeiro que vem ao Mundial entra na casa de um pobre, não sai sem tomar um café ou de comer uma galinha”, comentou.

O entrevistado enfatizou que a maior parte dos investimentos em obras para a Copa não partiu dos cofres públicos, mas sim de créditos que serão cobrados, e lembrou que seu governo começou a “tirar o país do atraso” de séculos em termos de emprego, renda, educação e saúde pública.

“O povo aprendeu a distinguir a verdade da mentira”, enfatizou após qualificar sua gestão como “uma revolução social” com a ascensão social de mais de 40 milhões de pessoas. Sobre os protestos que se esperavam contra a Copa, Lula disse que as manifestações foram “dizimadas pelo povo brasileiro”.

“Houve um momento de protestos e agora é o momento que o povo escolheu para ver a Copa, uma das nossas paixões nacionais. Em minha vida política carreguei todas as bandeiras de protestos, mas agora temos que protestar contra os rivais do Brasil”, disse.

Ao ser perguntado sobre a brutalidade policial em São Paulo e outras cidades contra os protestos, Lula respondeu dando como exemplo sua participação nos protestos contra o fechamento das minas na Inglaterra ou nas cúpulas do G-8 nos Estados Unidos e Europa. “O Mundial está sendo mais tranquilo que outros, graças ao povo brasileiro”, opinou.

Lula previu que, depois da Copa, parte da imprensa começará a falar sobre as demoras nas obras dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016. “Todas as obras que foram feitas e que continuarão sendo feitas serão para o povo brasileiro. Não terminam com a Copa ou as Olimpíadas… No Rio deixarão a cidade ainda mais bonita.”

São Paulo

O ex-presidente afirmou que a política de segurança pública no estado de São Paulo, governado pelo PSDB, “fracassou” já que o crime organizado alcançou níveis de “organização política”. “No estado de São Paulo o crime organizado tem força quase de organização política e isso demonstra o fracasso da política de segurança do governo do estado, que afeta, principalmente, os pobres e os negros das periferias”, disse.

Ele destacou que na corrida para as eleições presidenciais de 5 de outubro, nas quais a presidente Dilma Rousseff tentará a reeleição, não há candidatos de São Paulo pela primeira vez desde 1989. “Será a primeira eleição nacional sem candidatos presidenciais de São Paulo. Se analisamos o comportamento do candidato opositor (Aécio Neves), ele é o grande inimigo de São Paulo. É o que dizem em Minas Gerais, onde também dizem que tinha muita censura da imprensa”, declarou.

Segundo o petista, pelo fato de não ter candidatos paulistas, Dilma tem grande chance de ter mais participação na campanha no estado.

Economia

Questionado sobre a economia brasileira, disse que o Brasil tem sofrido da mesma desaceleração do crescimento que atinge a Europa e os Estados Unidos, mas que o país tem criado empregos em ritmo mais rápido.

“Obviamente o PIB (Produto Interno Bruto) nosso não é o PIB que a gente gostaria”, observou, acrescentando: “Quando as pessoas acham que o Brasil não cresceu muito nestes últimos quatro anos, a pergunta que faço é: ‘Quem cresceu mais do que o Brasil’?”

O ex-presidente antecipou que a presidenta Dilma Rousseff quer impulsionar uma reforma política para “ganhar participação e transparência”. Ressaltou que não é preciso reformar apenas o Brasil, mas também muitas outras partes do mundo: “Há muitas coisas podres na política atual. Veja como terminou a Primavera Árabe, ou o que significa que na ONU nem a Índia nem os países latino-americanos estejam representados no mais alto nível”.

América Latina

Lula descartou a existência de um ciclo de decadência nos países da América Latina e defendeu os processos políticos na Argentina, na Venezuela, na Bolívia e na Colômbia. “Não vejo nenhuma decadência na América Latina, que nunca antes em sua história viveu em estabilidade como vive hoje”, afirmou.

Lula respaldou o governo argentino de Cristina Kirchner na disputa com os fundos de investimento conhecidos como “abutres”. “Desde que Néstor Kirchner assumiu, em 25 de maio de 2003, escuto dizer que a Argentina vai quebrar. O fato é que é um país extraordinário que está conversando sobre o tema da dívida”, citou.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, também foi exaltado por Lula por ter estabilizado a economia do país andino e ter conseguido acumular reservas internacionais de US$ 15 bilhões, “o que representa quase a metade de seu PIB”.

Sobre a Venezuela, disse que existe um “pessimismo louco” contra o governo de Nicolás Maduro e que o o país “tem um potencial extraordinário”, comentou.

O ex-presidente também aplaudiu a reeleição de Juan Manuel Santos à presidência da Colômbia por promover o diálogo de paz com a guerrilha das Farc. “Com esse acordo estaremos livres do único foco de violência em nossa querida América do Sul”, disse.


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