Eleições

Com apoio de Lula, Dilma se reaproxima de sindicalistas

Ex-presidente participará de congresso de químicos ligados à Força Sindical. E presidenta vai a plenária da CUT e receberá apoio de centrais durante evento em São Paulo

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Dilma durante reunião com centrais em junho de 2013: idas, vindas e entidades divididas nas eleições

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva descerá a serra na próxima terça-feira (22) para discursar em Praia Grande, no segundo dia do congresso da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), filiada à Força Sindical, cujo presidente licenciado, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SDD-SP), decidiu apoiar o tucano Aécio Neves. A presidenta Dilma Rousseff vai à plenária da CUT no dia 31 (Lula irá à abertura, no dia 28) e receberá apoio de dirigentes das centrais em evento de grande porte marcado para 7 de agosto no ginásio da Portuguesa, zona norte da cidade de São Paulo. A campanha presidencial já envolve o mundo do trabalho, e as posições tornam-se definidas.

Entre dirigentes de CSB, CTB e CUT, há posição majoritária pela reeleição da petista, embora no caso da CTB também atuem dirigentes pró Eduardo Campos (PSB). O presidente da UGT, Ricardo Patah, apoia Dilma, mas é uma posição unitária. Dentro da Força, se Paulinho já se engajou na campanha aecista, vários sindicalistas vão de Dilma. Um grupo, por sinal, reuniu-se com Lula em 30 de junho para manifestar essa posição.

A CUT vem se posicionando publicamente desde o início do ano: “Vou me lançar de corpo e alma pela sua reeleição”, disse o presidente da central, Vagner Freitas, em entrevista à RBA, no início de março. “Não é questão de nome ou de partido, mas de projeto”, acrescentou, observando haver no ambiente eleitoral dois projetos: um que permitiria vislumbrar a evolução da agenda dos trabalhadores e outro que apontaria para um “retrocesso”.

Ao criar o Solidariedade, Paulinho levou vários dirigentes até então, como ele, filiados ao PDT. O presidente da Fequimfar, Sergio Luiz Leite, o Serginho, desligou-se da legenda, mas atualmente está sem filiação partidária.

O Dia do Trabalho, de certa forma, foi o desencadeador das articulações com vistas aos apoios na campanha presidencial. Nos palanques, as centrais deixaram claro com quem estavam e o que pensavam de cada projeto de governo. “Não há como esconder que o último 1º Maio da Força foi palco de exposição e disputa de ideias daqueles que, daqui a poucos meses, se enfrentarão nas urnas”, escreveu em artigo o secretário-geral da central, João Carlos Gonçalves, o Juruna, que apoiará Dilma. “É normal (na Força) a convivência de quem hoje declara o seu voto em Aécio, como Paulinho, em Eduardo Campos, como Nair Goulart (dirigente da central), ou em Dilma, como eu.”

Anfitrião de Lula no evento da Fequimfar na próxima terça, Serginho diz que as divergências políticas são tratadas de forma tranquila na Força. “Temos administrado isso bem. Passou o 5 de outubro (dia do primeiro turno das eleições), a nossa pauta continua a mesma. Temos de discutir com o governo, seja qual for”, observa.

Ele lembra que o fato não é inédito. Em 2006, na campanha pela reeleição, o então presidente Lula recebeu apoio de dezenas de sindicalistas ligados à Força, enquanto o presidente da central apoiava Geraldo Alckmin, do PSDB.

Pauta trabalhista

A maior convergência se deu em 2010, quando as centrais apoiaram de forma quase unânime a candidatura Dilma. Nestes quatro anos, os sindicalistas queixaram-se de certo distanciamento do Planalto e de dificuldades no atendimento da chamada pauta trabalhista, apresentada a todos os candidatos e na qual se destacavam itens como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho. Os dirigentes reclamam que Dilma recebeu mais representantes de entidades empresariais que de trabalhadores. Alguns decidiram romper com Dilma, casos de Paulinho e da CGTB.

Para Serginho, isso de fato aconteceu, e existiram dificuldades na relação entre as centrais e o governo. Contudo ele cita avanços na área trabalhista e social na gestão Dilma, como as propostas de emenda à Constituição (PECs) das domésticas e do trabalho escravo, a conquista dos 10% do PIB para a educação e a isenção de Imposto de Renda até determinada faixa dos pagamentos de participação nos lucros ou resultados (PLR).

“Talvez a linha de comunicação do governo tenha trabalhado mal”, comenta o dirigente, para quem Lula valorizava mais o processo de negociação. Ele também destacou o encontro da presidenta com as centrais nesta semana, durante a reunião dos Brics, em Fortaleza. “Quem sabe isso possa inaugurar uma nova etapa de diálogo”, comenta. “Neste momento, é importante receber essa nossa demanda, de ter uma participação mais efetiva na campanha, e disputar a agenda.”

Na abertura do congresso dos químicos, na noite de segunda-feira (21), são esperados o governador paulista, Geraldo Alckmin, e o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias. Na terça, além de Lula, que deverá fazer seu pronunciamento às 10h30, deve participar o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O congresso terá 300 delegados, representando 170 mil trabalhadores da base.