Ir e vir?

Policiais militares encurralam protesto contra prisão de ativistas na avenida Paulista

Repetindo tática utilizada em protestos anteriores, policiais fazem cordão em torno de manifestantes e não permitem saída de marcha sem que movimentos apontem lideranças formais

Manifestantes protestam na Paulista contra prisões e violência policial <span>(Oswaldo Corneti/Fotos Públicas)</span>Manifestantes protestam na Paulista contra prisões e violência policial <span>(Oswaldo Corneti/Fotos Públicas)</span>Manifestantes protestam na Paulista contra prisões e violência policial <span>(Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas)</span>Manifestantes protestam na Paulista contra prisões e violência policial <span>(Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas)</span>

São Paulo – Cerca de 300 pessoas realizaram ato político nesta quinta-feira (26) na Avenida Paulista, região central de São Paulo, para exigir a libertação dos ativistas Fábio Hideki e Rafael Marques, presos na última segunda-feira (23) por policiais civis enquanto participavam de uma manifestação contra a Copa do Mundo. Eles foram detidos separadamente, mas acusados de associação criminosa por terem sido identificados como adeptos da tática black bloc.

Entidades de direitos humanos criticam ainda as prisões por suspeitarem que a informação da polícia, de que foram encontrados artefatos explosivos com os ativistas, é falsa: vídeos de celular registraram o momento da prisão de Hideki, e, quando os policiais revistam sua mochila, não fazem menção a ter encontrado nenhum material perigoso. Já Marques teria sido preso sem nenhuma mochila, bolsa ou sacola onde poderia portar tais objetos.

Mas não é só pelos dois ativistas. Não importa neste momento o que eles pensam, quais as suas ideologias, etc. Eles são vítimas de um Estado que forja descaradamente acusações. Trata-se de um ataque a toda a população, um ataque às mínimas liberdades democráticas! “, afirma o texto de convocação para o ato, no Facebook.

Militantes da frente “Se Não Tiver Direitos, Não Vai Ter Copa”, do Comitê Popular da Copa, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Fanfarra do Mal e outros coletivos tentaram dar início a uma marcha, mas foram impedidos pela Polícia Militar: em número muito superior ao de manifestantes, e com batalhões da cavalaria, do Choque e da Rota, os policiais repetiram a tática de cercar o movimento e impedir sua livre movimentação pela rua.

Entre as palavras de ordem que nortearam a manifestação, estava a Ditadura Não e críticas ao secretário de segurança pública, Fernando Grella. “Num Estado Democrático tais ações arbitrárias seriam, sem dúvida, motivo suficiente para justificar a saída do Secretário de Segurança Pública Fernando Grella, bem como dos policiais militares e civis diretamente responsáveis pelas ações repressoras dos últimos meses”, dizia o texto-manifesto.

O coronel Pignatari, comandante da operação na Avenida Paulista, impôs a condição de que apenas se os movimentos presentes indicassem lideranças a serem responsabilizadas por eventuais delitos, seria possível realizar a passeata.

Manifestantes negaram-se a aceitar a condição da PM, e foram cercados pela cavalaria sob o vão do Masp a partir das 18h, e seguiram assim até o fim da movimentação. A preocupação era com novas prisões consideradas “arbitrárias”. Além disso, coletivos horizontalizados, de orientação anarquista e, por definição, sem hierarquia, negaram-se a eleger líderes.

Manifestantes negaram-se até a dar entrevistas à imprensa, com medo de que fossem identificados posteriormente pela polícia como porta-vozes dos movimentos por sua aparição em reportagens. Nos últimos meses, a polícia tem recorrido com frequência à tática das detenções preventivas de ativistas, para evitar sua participação em atos políticos.

A argumentação de que a Constituição Federal não exige que haja lideranças formais para a realização de protestos não demoveu a PM, que cedeu apenas após a intervenção do padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, que acompanhava a manifestação. Ele conseguiu liberar uma faixa da Avenida Paulista, diretamente em frente ao Masp, por 40 minutos, das 19h20 às 20h. Nesse ínterim, os primeiros manifestantes começaram a deixar o local.

Quando a “trégua” acabou, a própria polícia havia fechado a avenida pela maior parte do tempo: as faixas no sentido Paraíso foram ocupadas pela cavalaria, duas viaturas da Tropa de Choque e PMs com armaduras. No sentindo Consolação, um batalhão da Tropa de Choque e PMs no meio-fio da calçada. Alguns policiais da cavalaria e do Choque estavam sem identificação em suas fardas, e apresentavam uma câmera acoplada ao uniforme ou à armadura para registrar imagens dos manifestantes durante o ato.

No final da manifestação, ativistas independentes acusavam o movimento Território Livre de terem cedido às pressões da polícia. “Eles foram embora com medo de serem presos. Mas companheiros nossos, inocentes, estão presos e nós estamos aqui, tendo nosso direito de manifestação negado. Vamos ficar”, afirmou um deles que não quis se indentificar.

Restaram menos dez manifestantes sentados no chão da avenida. Por volta das 21h, os últimos remanescentes aceitaram liberar a pista. Homens da Tropa de Choque permaneceram isolando o vão do Masp quando só havia advogados, observadores legais e jornalistas sob o museu. Segundo o grupo Advogados Ativistas, não houve prisões durante a manifestação.


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