Aliança

Convenção mostrou que insatisfeitos do PMDB ainda darão trabalho

Apesar de a aliança nacional Dilma-Temer ter sido ratificada, dissidentes sinalizam que continuarão a atuar de forma independente nos estados e também durante apreciação de matérias no Congresso

Wendel Lopes/PMDB

Convenção peemedebista aprova a continuidade da aliança Temer-Dilma para disputar a Presidência

Brasília – Apesar do PMDB sempre ter se destacado ao longo dos anos pela grande divisão interna e da diferença pequena com que foi ratificada a continuidade da aliança Dilma-Temer não ter sido surpresa para quem acompanha o noticiário nacional, a convenção nacional do partido, na última terça-feira (10), revelou a força do grupo que lutou por essa dissidência, mesmo vencido. Na prática, é um grupo que aponta como causas da insatisfação com a aliança entre PMDB e PT a falta de relacionamento com o PT e com o Palácio do Planalto, o esforço de petistas em lançar candidaturas próprias nos estados e o tratamento de pouco destaque recebido pelos parlamentares da legenda no Congresso por parte do restante da base aliada.

Ao avaliarem o resultado da convenção, vários integrantes da legenda deixaram claro que o resultado foi fruto de grande esforço dos caciques peemedebistas, já que uma equipe, capitaneada pelo vice-presidente Michel Temer e outra, sob o comando do ex-ministro Eliseu Padilha, telefonou para todos os delegados nos estados pedindo votos pela renovação da aliança. O trabalho de convencimento também teve conversas reservadas com aliados históricos, seguidas de pedidos para que deixassem de apoiar os principais entusiastas da dissidência.

Na segunda-feira, durante encontro com colegas do PMDB, o vice-presidente Michel Temer teria chegado a afirmar que diante da percepção da dificuldade que a equipe encontrava nos contatos, se a convenção fosse ganha com 51% dos votos, ele já se consideraria satisfeito. A previsão de Temer quase se cumpriu, uma vez que o percentual de votos aprovando a continuação da chapa Dilma-Temer ficou em 59% do total.

O presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp (RO), no entanto, esperava cerca de 80% de aprovação e disse ter ficado “surpreso”, mas os dissidentes destacaram que a situação é bem diversa da convenção de 2014, quando a confirmação da coalizão foi aprovada por 84% dos peemedebistas.

“É um momento totalmente diferente. Há um sentimento de decepção com o governo, de insatisfação com a forma desprestigiada que os peemedebistas foram tratados pela presidente e pelo PT nos últimos anos. Pregamos o voto pela renovação e por um novo tempo para o partido. Não conseguimos ganhar a convenção, mas o percentual de resultados deixou nítida essa mudança de ânimo durante a convenção”, afirmou o deputado Darcísio Perondi (RS). Perondi chegou a gravar um vídeo pedindo aos aliados para rejeitarem a continuidade da aliança.

Na direção contrária a esse discurso, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que, independentemente das realidades políticas nos estados, era preciso manter a aliança e ter consciência da importância da coalizão PT-PMDB no país. “Foi uma questão de coerência, de consciência sobre como é valiosa essa unidade nacional”, justificou.

Peso da bancada

Os peemedebistas, quando feita uma avaliação desse desgaste no relacionamento com o governo, costumam ser questionados pelos parlamentares da base aliada sobre as contribuições dadas pelo partido nos últimos anos. E gostam de apontar participação em projetos na Educação e Saúde e a implantação de políticas públicas em ministérios ocupados durante anos por integrantes da legenda, como Agricultura, Turismo e Integração Nacional, seja de forma direta ou indireta (ou seja, com ministros peemedebistas ou não, no primeiro escalão). Mas preferem citar a participação nas votações do Congresso como os momentos em que demonstraram mais “fidelidade” ao Executivo, principalmente na Câmara.  Isso, antes da intensificação da crise da legenda com o governo, de 2013 para cá.

Hoje, a bancada do PMDB na Câmara é formada por 75 deputados federais. Fica abaixo somente, da do PT, com 88 deputados. “Durante muito tempo, esse governo contou com uma bancada que apoiava o que chegava do Palácio do Planalto em todos os sentidos. Agir dessa forma e arranhar a imagem do Legislativo, deixando de lado as prerrogativas de investigar e fazer a boa política, nunca foi o que a população espera de nós. Sou da opinião que podemos fazer parte da base aliada e, ao mesmo tempo, questionar tudo o que não achamos correto no governo”, frisou o líder na Casa, Eduardo Cunha (RJ), principal timoneiro desse movimento.

Cunha, que evitou declarações bombásticas nos últimos dias, teria dito, durante encontro com Temer e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que se comprometeria a manter a aliança, caso a mesma viesse a ser ratificada durante a convenção.

Arranjos nos estados

Para observadores dos últimos passos da legenda, o que pesou nas votações da convenção nacional foi o reflexo das definições das chapas em sete estados, apesar dos discursos de que, diferenças locais à parte, a aliança tinha de ser mantida. Foram estes: Ceará, Bahia, Pernambuco, Piauí, Paraná, Goiás e Rio de Janeiro.

“O resultado vai permitir à presidenta os cinco minutos do PMDB no guia eleitoral, mas não mostra a vontade de fazer campanha na rua por parte dos peemedebistas”, declarou em tom irritado, na última terça-feira, o deputado Danilo Forte (CE), um dos dissidentes. “Não podemos servir de capacho para o PT, que queria passar um rolo compressor por cima de nós. Esse resultado é muito significativo”, frisou.

Outra deputada que integra o grupo que torcia pelo rompimento da aliança, Rose de Freitas (SC), enfatizou a importância dos peemedebistas ficarem livres para fazer as alianças “que desejarem nos seus estados”, conforme afirmou. “Viemos aqui cumprir o que estava determinado com o Michel e se a aliança foi mantida, foi por respeito a ele. No meu estado, a situação muda e não faremos aliança lá com o PT, até mesmo pelo tratamento ruim que nos foi dado por parte do governo”, colocou.

Para a parlamentar, “o PT não gosta do PMDB”. “Não tivemos uma convivência respeitosa com o governo e o PT a altura do que nosso partido merecia, por vir sustentando todas as bandeiras e votando as propostas”, opinou.

Mais do mesmo

A deputada fez duas avaliações sobre o desgaste da aliança. A primeira é de que seria resultado da falta de participação do PMDB em discussões importantes de matérias diversas, sejam as de ordem tributária, sejam as que abordaram políticas públicas de destaque para o país. A segunda foi o fato dos petistas terem batido o pé para priorizar candidaturas próprias nos estados, deixando de lado candidatos da legenda.

Procurando amenizar esse debate, o vice-presidente Michel Temer tratou de frisar, durante a convenção, que a coalizão é importante para o país. Nesse mesmo tom, ele contou com  a companhia da presidenta Dilma Rousseff, que disse precisar do PMDB como um dos “protagonistas” do governo, ao agradecer a renovação da aliança. Para muitos parlamentares da base aliada, o resultado não surpreendeu e o momento é de buscar consensos para tocar a eleição de forma madura e sem muitos confrontos país afora.

“Mas ninguém está esperando fidelidade suprema por parte de uma legenda tão dividida. Afinal, o PMDB mostrou que, mesmo se mantendo no governo, continua o velho PMDB de sempre”, disse uma liderança do PT.