Contradições

Deputados veem má-fé de colega em relato sobre regalias de Dirceu

Segundo Nilmário Miranda, Mara Gabrilli divulgou informações erradas sobre situação do ex-ministro no presídio e tentou 'partidarizar' visita

Alan Marques/Folhapress

Versão de Gabrilli foi desmentida por deputados da Comissão de Direitos Humanos que foram à Papuda

Brasília – Deputados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara que visitaram o ex-ministro José Dirceu no presídio da Papuda esta semana criticaram o comportamento da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) e informaram que a parlamentar divulgou, para os jornalistas, versões diferentes do que foi de fato encontrado na cela de Dirceu. Segundo Nilmário Miranda, ex-presidente da comissão e parlamentar experiente nesse tipo de inspeção, o grupo que esteve na Papuda encontrou o ex-ministro numa cela sem regalias e até com menos objetos que os outros presos, versão confirmada por outros parlamentares.

O grupo também criticou o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) por ter contribuído para partidarizar a visita, ao lado da deputada. Os integrantes da CDH confirmaram que a cela era pequena e aparentava ser um pouco maior que as demais porque consiste no local onde estão detidos, juntos, todos os sentenciados da Ação Penal 470, o mensalão – um critério que costuma ser adotado por penitenciárias em prisões de caráter semelhante para evitar possíveis atentados ou sequestros de políticos, em casos de rebelião.

Os parlamentares registraram que o local apresenta goteiras, o chuveiro não tem água morna – a exemplo de todos os demais chuveiros oferecidos para os apenados na Papuda.

“Além disso, Dirceu faz os mesmos trabalhos que os demais presos, como lavar o pátio do presídio”, colocou Nilmário Miranda. A irritação de Miranda foi acompanhada pelos deputados JeanWyllys (PSol-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP), que também participaram da visita.

Segundo eles, embora Mara Gabrilli não tenha tido acesso à sala em que se encontra Dirceu, em razão de ser cadeirante e de sua cadeira de rodas não ter condições de entrar no local, a deputada aguardou, assim como o colega Arnaldo Jordy, a presença de repórteres na frente do presídio para passar notícias desencontradas de que o ex-ministro estaria recebendo regalias diversas.

Enquanto as declarações de Gabrilli foram de que o ex-ministro estaria recebendo regalias no complexo penitenciário, Jordy, embora ironizando a condição do ex-ministro, contradisse a colega e confirmou que não existem as tais regalias. Mesmo assim, afirmou que a situação de José Dirceu é “muito melhor que a grande maioria dos presos brasileiros, inclusive porque o presídio é melhor que a média”.

Lado político-partidário

Nilmário Miranda, Erundina e Wyllys deixaram claro que não há problema algum em que participem deste tipo de inspeção deputados que não façam parte do colegiado. Mas nesse caso os três avaliam que houve uma situação nítida de má-fé. “Eles levaram a questão para um lado político-partidário e passaram informações que não são verdadeiras”, refutou Miranda.

“Respeito muito a Mara, mas ela não visitou a cela. Acho estranho afirmar categoricamente uma coisa sem ter entrado, porque ficou na porta. Eu não tenho relação alguma com Zé Dirceu, meu partido faz oposição ao PT e posso afirmar o que vi com meus próprios olhos: não existem regalias”, completou Jean Wyllys, em nota divulgada pela assessoria de imprensa, também reclamando da postura dos dois parlamentares.

A visita foi feita pelo grupo, designado pela Comissão de Direitos Humanos, em atendimento a um pedido formal feito pelos filhos de Dirceu, Zeca Dirceu e Joana Zaragoza, pelo fato de o pai não estar cumprindo o regime semiaberto – que lhe permitiria sair durante o dia da penitenciária para trabalhar. Apesar de seus advogados terem feito solicitação para isso junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e de ele ter sido sentenciado ao cumprimento de pena em regime semiaberto, José Dirceu não foi, até agora, autorizado a isso, mesmo com pedido favorável do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Igual a todos

“É mentira que José Dirceu assistia ao jogo entre Real Madrid e Bayern numa televisão de plasma. A televisão era antiga, de 20 polegadas. Existem televisões de plasma em outras celas, mas não na dele. Além disso, a cela é grande porque ali estão todos os presos da AP-470 e, por uma medida universal de proteção, presos políticos e filhos de policiais e de ricos (alvo de se tornar reféns numa rebelião) ficam isolados. Dirceu também toma o mesmo café da manhã de todos os presos, mas mantém uma dieta sem sal nas outras refeições e, como todos os outros presos, ele tem direito a R$ 125 por semana para comprar o que quiser nas cantinas do presídio”, frisou Nilmário Miranda.

Segundo ainda o deputado, o ex-ministro declarou que não tinha queixa da prisão e contou que tem sido tratado com respeito.

A deputada Mara Gabrilli e o deputado Arnaldo Jordy foram procurados pela RBA para comentar o assunto, mas não retornaram os contatos. O gabinete da deputada informou que ela estava em trânsito para seu estado, motivo pelo qual não poderia dar entrevistas. Na próxima semana, a visita dos parlamentares e a troca de informações desencontradas sobre a inspeção feita à Papuda será discutida entre os demais integrantes da CDHM.

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