Reforma administrativa

Dilma nomeia Berzoini e ordena negociação ‘altiva’ e ‘permanente’ com Congresso

Presidenta afirma que novo ministro é 'militante das boas causas da democracia' e entende importância de unir em um projeto partidos com orientações diferentes. Deputado volta à Esplanada após nove anos

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Dilma enalteceu a capacidade de articulação do novo ministro, deputado desde 1999

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff oficializou, na manhã de hoje (1º), a nomeação do deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) para a Secretaria de Relações Institucionais, pasta com status de ministério que divide com a Casa Civil a articulação política com o Congresso para aprovar projetos de autoria do governo. Berzoini assume o posto no lugar da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que passa a comandar a Secretaria de Direitos Humanos. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que esteve à frente da SDH por 33 meses, retorna à Câmara e se prepara para disputar as eleições deste ano.

Berzoini é um militante das boas causas da democracia e entende como poucos a importância da negociação altiva, honesta e respeitosa com o Congresso. Com larga experiência parlamentar e ministerial, Berzoini compreende a natureza do nosso presidencialismo de coalizão, marcado pela união entre partidos de orientações diferentes, mas que precisam entrar em acordo pelo bem do país”, pontuou Dilma.

Ao longo de seu discurso, a presidenta destacou a “grande vitória” que foi a aprovação do Marco Civil da Internet na Câmara dos Deputados, sem citar diretamente o racha momentâneo que o texto causou entre PT e PMDB, partidos que já vinham se desentendendo em relação às alianças eleitorais para a disputa deste ano. Diante desse cenário, Berzoini vem para “impedir que razões meramente eleitorais impeçam a solução dos grandes problemas nacionais”, como destacou Dilma em sua fala. O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), compareceu à cerimônia acompanhado do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

“O acúmulo na secretaria de Relações Institucionais fará muito bem à Ideli, já que foi nesse período em que foram aprovadas a criação da Comissão da Verdade, a Lei de Acesso à Informação e outras leis importantes para os Direitos Humanos”, disse Dilma em mensagem a Ideli. A presidenta reafirmou ainda a necessidade de que a pasta mantenha diálogo “intenso e proveitoso” com os movimentos sociais.

CPI

Berzoini, disse que a orientação de Dilma é que os aliados do governo no Congresso Nacional trabalhem para evitar a “exploração eleitoral” de uma possível comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a Petrobras.

A oposição ao governo no Congresso está buscando um acordo que viabilize a criação da comissão para investigar denúncias de irregularidades na compra de uma refinaria no Texas (Estados Unidos) pela Petrobras.

“A orientação é que façamos diálogo com lideranças da base para ver qual o melhor caminho para obter justamente o que ela falou no seu discurso, que é evitar a exploração político-eleitoral de um assunto tão importante para o Brasil como é a questão da Petrobras”, disse Berzoini.

Para o novo ministro, a criação de uma CPI em ano eleitoral tem mais objetivos políticos que de investigação. “CPI em ano eleitoral, com esse viés, principalmente se tratando de uma empresa como a Petrobras, obviamente cria uma expectativa mais na disputa político-eleitoral do que efetivamente uma apuração criteriosa”, avaliou. Berzoini argumentou que já existem investigações em andamento para apurar as supostas irregularidades que a CPI pretende apurar.

De acordo com Berzoini, a estratégia do governo será dialogar com as lideranças da base aliada no Congresso, sem interferir diretamente na articulação. “Vamos apoiar o que os líderes entenderem ser o melhor caminho. O governo não participa articulando a ação dos partidos nessa questão da CPI. Ouvimos várias opiniões sobre como tratar e vamos dialogar, ouvindo a posição dos líderes para ajudar no melhor possível”, ponderou.

Marco Civil

Ao lado de Aloizio Mercadante, que assumiu o comando da Casa Civil em fevereiro, Berzoini terá de ajudar a articular a votação do Marco Civil no Senado Federal e dos demais projetos de autoria do Executivo que serão enviados ao Congresso neste ano. Berzoini, que não discursou em seu ato de posse, já havia antecipado a “convocação” que recebeu da presidenta para a secretaria por meio de sua conta no Facebook, na última sexta-feira (28). “Recebi, inesperadamente, a convocação da presidenta Dilma Rousseff para assumir a Secretaria de Relações Institucionais. Digo convocação, pois foi essa a síntese da conversa com a nossa presidenta, que solicitou minha colaboração na equipe do Palácio do Planalto”, contou o deputado.

Berzoini retorna ao primeiro escalão do governo federal após nove anos, desde que deixou o governo Lula, em 2005. À época, Berzoini, ministro do Trabalho e Emprego, pretendia retomar seu trabalho como deputado federal para ajudar a defender o partido da intensa ofensiva organizada pelos partidos da oposição e parte da imprensa em torno do chamado “mensalão”, cuja tese central foi criada naquele ano em entrevista do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), à Folha de S.Paulo. O parlamentar, no entanto, foi escolhido como candidato à presidência do partido pela corrente interna Construindo um Novo Brasil (CNB), e assumiu a tarefa após ser confirmado nas eleições internas como novo líder nacional do partido. Antes, entre 2003 e 2004, foi também ministro da Previdência Social, época em que foi aprovada a primeira reforma da previdência realizada durante os governos petistas.

Funcionário concursado do Banco do Brasil, é atuante no movimento sindical desde a década de 1980. Foi secretário de imprensa, secretário-geral e presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, além de presidente nacional da Confederação dos Bancários da Central Única dos Trabalhadores (CUT).