Crise politica

Planalto ganha fôlego na busca por negociações e novos entendimentos

Empenhado em pôr fim à crise com PMDB, governo indica ministro da legenda, comemora recuo do Pros em blocão e dá continuidade às reuniões com peemedebistas

Arquivo ABr e Valter Campanato/ABr

Sérgio Cabral e Eduardo Cunha. Sucessão no RJ teria sido o pé na porta na relação do governo com o PMDB

Brasília – Depois de três dias de perdas constantes em votações do plenário e em comissões da Câmara dos Deputados, o governo conseguiu terminar esta quinta-feira (13) com um saldo positivo na crise entre PT e PMDB. Além da divulgação do nome de seis novos ministros, incluindo na listagem um peemedebista – legenda na qual, até a última terça-feira (11), dois integrantes tinham se recusado a assumir um ministério –, também perdeu força o blocão partidário instalado no final de novembro para ter uma atuação independente e confrontar o Executivo.

Com o anúncio da saída do Pros do bloco, na tarde de hoje, o grupo, originado por nove partidos, ficou reduzido a cinco – PSD, PDT e PP já haviam recuado. Apesar disso e da irritação demonstrada por alguns parlamentares na queda de braço com o Palácio do Planalto, o clima ao longo do dia tem sido de entendimentos e tentativas de conciliação. Apesar disso, ninguém aposta que a crise esteja perto de acabar.

“Acho que não é compreensível nos encontrarmos nessa posição, sendo um partido que tem a vice-presidência da República. Devemos satisfação, inclusive, para com a opinião pública quanto a isso e estamos tentando fazer os colegas verem o tamanho da incoerência”, afirmou o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), durante solenidade no Palácio do Planalto.

Raupp disse que apesar das indicações de integrantes da legenda para os ministérios da Agricultura e do Turismo (sendo que, no caso do Turismo, a indicação terminou não sendo confirmada), a crise não deve ser encerrada de imediato, mas confirmou que conversas e reuniões isoladas entre representantes do governo e parlamentares prosseguem.

No início da manhã, tanto deputados e senadores como representantes do Executivo apostavam, como avanço dos entendimentos, no resultado da reunião entre a presidenta Dilma Rousseff, o governador e vice-governador do Rio de Janeiro, respectivamente Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, e o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes.

Um dos sinais da irritação dos peemedebistas – tanto quanto ou mais do que as suposta de falta de diálogo e de liberação de emendas para os parlamentares – tem sido a polêmica que envolve o interesse do PT em indicar o senador Lindbergh Farias (RJ) como candidato a governador do Rio de Janeiro. A ira peemedebista, exposta na figura do líder Eduardo Cunha, baseado no Rio de Janeiro, teria o dedo de Sérgio Cabral, que pleiteia apoio exclusivo do Planalto a Pezão.

Neri Geller

Os líderes da base aliada também trataram de anunciar a escolha do nome do ex-deputado federal Neri Geller para ministro da Agricultura. Geller, secretário de Política Agrícola do ministério, era filiado ao PP antes de se filiar ao PMDB do atual titular, ministro Antonio Andrade, que deixa o posto. Sua indicação chegou a ser alvo de ironias entre colegas, que afirmaram ser a iniciativa “coisa muito mais do PP do que do PMDB”, conforme ressaltou o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ).

O líder peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que tem capitaneado o confronto do partido com o governo e afirmou várias vezes ao longo da semana que a bancada iria evitar indicar qualquer integrante da legenda para novos ministros, enfatizou que se tratava de um técnico competente. Mas frisou que a escolha “nem ajuda nem atrapalha” as divergências existentes entre PMDB e Executivo, dando a entender que o critério a nortear a indicação não teria passado pelo crivo do partido.

Geller tem adotado uma postura técnica em sua passagem pelo ministério e a confirmação do seu nome foi vista como tentativa de continuidade. Mas pesou, também, na escolha, a legenda ao qual é filiado.

Já para o Ministério do Turismo a indicação de Ângelo Oswaldo, também da legenda, terminou sendo deixada de lado. Sobretudo, conforme informações de bastidores do próprio Palácio do Planalto, porque foi avaliada como uma medida que não chegaria a unir forças entre os integrantes do partido em seu estado de origem, Minas Gerais. Oswaldo é jornalista, escritor, curador de arte e advogado com uma atuação importante em turismo, tendo ocupado cargos públicos voltados para o setor, inclusive o de secretário estadual.

Blocão reduzido

Em relação ao blocão, a saída do Pros marcou uma mudança de postura dos parlamentares da legenda, que até então reclamavam da falta de atenção por parte dos ministros do Executivo. O líder do partido, Givaldo Carimbão (AL), embora tenha dito que continuará cobrando do governo a liberação de recursos das emendas parlamentares, acentuou que o Pros “está disposto a ajudar na governabilidade”.

“Não serei líder do tipo que aceitará tudo o que vier do Executivo, mas quero contribuir para que o governo tenha uma melhor relação com o Congresso”, afirmou Carimbão, mudando o tom do discurso dos últimos dias. A saída do Pros estimulou outras legendas a deixar o blocão.

O líder do PP, deputado Eduardo da Fonte (PE), anunciou a saída do PP no início da semana. E hoje voltou a justificar os motivos da debandada de forma mais contundente. “Topamos participar no início porque os propósitos eram outros, mas confudiram tudo. A ideia era nos mantermos independentes, não provocar enfrentamento.”

Ao mesmo tempo em que o governo comemorou o enfraquecimento do grupo estimulado pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha, o PSC anunciou que pretende ser um partido independente da base governista, embora seus representantes não tenham confirmado se passarão a integrar ou não o blocão.

Durante a tarde, ventilava-se nos bastidores que estaria agendada para acontecer até esta sexta-feira uma conversa entre o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e Eduardo Cunha.

Novos ministros

Além do ministro do PMDB, o Palácio do Planalto confirmou também os nomes de indicados para outros quatro ministérios. Para o Turismo, apesar das especulações em torno do nome do jornalista e curador Angel Oswaldo, ex-prefeito de Ouro Preto (MG), o indicado foi Vinícius Lages, assessor internacional do Sebrae. Para o ministério das Cidades, será empossado o vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi.

Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário o escolhido foi o atual presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rosseto, que já ocupou o cargo. No Ministério da Ciência e Tecnologia, por sua vez, o indicado foi o ex-reitor da Universidade de Minas Gerais, Clélio Campolina Diniz – nome que já vinha sendo cogitado dentro do governo. E no Ministério da Pesca assumirá o senador Eduardo Lopes (PRB-RJ).