Disputa

Em ano eleitoral, Lavagem do Bonfim ganha caráter político na Bahia

ACM Neto aproveita bom momento e se apresenta com três pré-candidatos ao governo estadual. Jaques Wagner acredita que início de ano não é termômetro do que virá no futuro e atenua importância de evento

Raul Golinelli/Governo Bahia

Apesar da atitude em contrário, os dois líderes desconheceram o caráter político da Lavagem do Bonfim

Salvador – A Lavagem do Bonfim, mais importante festividade religiosa do calendário de Salvador, tem a tradição de ser o “pontapé inicial” do ano político na capital baiana. E em um ano eleitoral, o evento tem uma importância ainda maior. Em 2014, a avaliação final da presença dos políticos no cortejo de oito quilômetros entre as igrejas da Conceição da Praia e do Bonfim teve aplausos ao prefeito da cidade, ACM Neto (DEM), e expôs a baixa popularidade atual do governador Jaques Wagner (PT).

As consequências da aclamação e da rejeição repousam inevitavelmente nos candidatos de cada um dos líderes às eleições de outubro. Ainda que indefinido, larga na frente no quesito popularidade o candidato do prefeito, enquanto ao escolhido de Wagner – o secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa – foi separada uma recepção não mais que morna, quase indiferente, por parte do povo.

ACM Neto e Jaques Wagner estiveram juntos durante a tradicional celebração ecumênica nas escadarias da Igreja da Conceição da Praia. Logo depois, com o início do desfile, cada um se recolheu ao seu bloco para fazer a caminhada sagrada. Entretanto, o governador pulou esta parte e se ausentou da jornada quase inteira por conta de uma fissura em um dos tornozelos.

O petista andou somente o início do trajeto e depois saiu de carro para um atalho que o levou até o corredor final, mais tarde. Lá, terminou a caminhada, subiu a Colina Sagrada e tomou o tradicional banho de cheiro das baianas. Logo depois, desapareceu discretamente e sem ser notado por eleitores e nem por jornalistas. Em seu lugar, Rui Costa se esforçou por angariar reconhecimento. Porém, o vice-governador e pré-candidato ao Senado pelo grupo, Otto Alencar, foi mais celebrado.

ACM Neto aproveitou o momento de alta na popularidade, mas negou interesse políticoToda a situação pareceu perfeita para que o prefeito aproveitasse a ocasião. O prefeito estava acompanhado de todo o séquito da oposição, que aproveitou para ficar mais evidente aos olhos do eleitor. Os três pré-candidatos ao governo – o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB), o ex-governador Paulo Souto (DEM) e o ex-prefeito da cidade de Mata de São João, João Gualberto (PSDB) – se revezavam ao lado de ACM Neto. Todos se esforçaram para dizer que o nome da cabeça da chapa ainda seguia um mistério. Por outro lado, animados, os aliados preferiram avaliar a situação como uma demonstração de que o atual governo precisa ser mudado e o será por uma aclamação popular.

“O sentimento de mudança se revela aqui. As pessoas estão cansadas deste projeto político que cuida exclusivamente de fazer campanha. O governador agora reorganiza o seu secretariado pensando unicamente em tempo de televisão. Tem que pensar na administração pública. Melhorar a segurança, saúde”, avaliou o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA).

Wagner teve passagem breve pelo tradicional evento e evitou falar em sentimento de mudançaOs dois líderes, porém, evitaram a todo custo associar a política ao cortejo religioso. Para Wagner, a tradição do Bonfim é mais importante do que a presença das autoridades e partidos. Segundo o governador, o Bonfim não pode ser considerado um bom termômetro porque sem as convenções partidárias e o período eleitoral propriamente ditos, candidatos que outrora estavam valorizados podem de repente cair na preferência porque levaram em consideração um período imaturo.

“Político tem que estar onde o povo está, mas eu acho que o predomínio aqui para todo mundo é paz, convivência, a questão da tradição e da fé. Ninguém vê muita gente aqui. O povo vê a Colina Sagrada e o Senhor do Bonfim. Todos os candidatos vão caminhar, mas não é hora ainda de apresentar. Às vezes eu acho até que acaba tendo interferência demais da política na questão da tradição. Vamos andar, cumprimenta quem você quiser, mas é melhor não ter ninguém com faixas, com cartaz. É melhor assim.”

Já ACM Neto acredita que o evento tem na política um elemento secundário e, pessoalmente, acredita que comparece ao cortejo para ser saudado pelo povo e, assim “recarregar baterias”. “Não deixa de ser um termômetro, mas acho que o mais importante é ter todo mundo aqui com o propósito de renovar sua fé e prestar sua devoção ao nosso Senhor do Bonfim. Eu não quero fazer vinculação política. Não é o momento. O momento é de pensar na festa, na beleza que o povo baiano é capaz de fazer nesta festa. Não tem que pensar em política, não”, declarou no início do cortejo.

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