Violência

Cúpula da Segurança em SP confia que policiais não burlarão registros para bater metas

Secretário e subcomandante da PM paulista afirmam que transparência e mecanismos digitais tornam 'impossível' mascarar ocorrências. 'Quando há morte não tem como esconder'

Moacyr Lopes Junior/Folhapress

‘A boa técnica de gestão mostra que prêmios têm um conteúdo motivacional’, diz Grella

São Paulo – A cúpula da Segurança Pública em São Paulo confia que os policiais civis, militares e científicos beneficiados pela política de bonificação anunciada na última segunda-feira (20) não conseguirão burlar os registros de ocorrências para bater metas de redução da criminalidade. Em entrevista à RBA, as autoridades argumentam que não há espaço para mascaramento e subnotificações.

“Temos a delegacia eletrônica, que é um canal aberto do cidadão, temos a divulgação permanente dos índices de criminalidade, que é transparente, e temos a disposição de apurar e punir, se for o caso, qualquer falta que tenhamos notícia nesta ou em outras matérias”, afirmou ontem (22) o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, após cerimônia de posse do novo ouvidor das polícias do estado, Júlio César Fernandes Neves.

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Inspirada em experiências de outros estados e em técnicas de gestão empresarial, a nova política prevê o pagamento de bônus de até R$ 8 mil por ano aos policiais que conseguirem cumprir as metas de redução da criminalidade propostas pelo governo paulista em casos de homicídio, latrocínio, roubos e furtos de veículos e roubos em geral. A letalidade policial será um fator que reduzirá os prêmios.

“A bonificação trata dos crimes contra a vida (homicídio e latrocínio), roubos em geral, furto e roubo de veículos. A questão dos confrontos, da letalidade, ela é, de acordo com a decisão do secretário, como uma causa de desconto. E ainda nestes casos não há como esconder”, complementa o subcomandante da Polícia Militar, Leônidas Pantaleão, também presente à posse do ouvidor. “Quando há morte não tem como esconder.”

Confira conversa com o secretário Fernando Grella, em que também aborda a preparação das polícias para possíveis protestos durante a Copa do Mundo, sobre a repressão do último 13 de junho e uso de armas menos letais contra manifestantes.

De onde surgiu a ideia de implementar a política de bonificação dos policiais? Qual é a inspiração?

Primeiro, ela já é uma experiência em termos de segurança pública que existe em dois estados, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e, salvo engano, em Recife também. E tem mostrado alguns resultados positivos. Em segundo lugar, é uma política que já existe no estado de São Paulo em outras secretarias, como na Fundação Casa e na Secretaria de Educação, também com bons resultados. Digamos que não é um ato inovador o que estamos fazendo no estado. Há experiência em outras partes. A própria iniciativa privada, a boa técnica de gestão, tem mostrado que esses prêmios e incentivos revelam o reconhecimento da meritocracia e têm um conteúdo motivacional também.

Como os soldados receberam essa política? Algumas associações criticaram…

Respeitamos a opinião de todas as associações, evidentemente, mas as informações que temos daqueles que estão em atividade são positivas, são expectativas positivas, de quem quer evidentemente empreender esse esforço a mais e participar do programa de bonificação.

Alguns setores apresentaram temor com a possibilidade de haver subnotificação e mascaramento de informações, que podem ocorrer na ânsia do policial em bater a meta.

Quanto à subnotificação, ele estaria dirigindo essa crítica à Polícia Civil. Não há esse risco, porque os principais indicadores, como letalidade violenta, que é latrocínio e homicídio… Não há subnotificação em homicídio e latrocínio. Os outros indicadores são roubo e furto de veículo – também não há (subnotificação) porque a maioria das pessoas têm seguro, portanto, fazem a notificação. Quanto aos roubos em geral, também não haverá subnotificação, porque abrimos recentemente a delegacia eletrônica, onde a pessoa pode fazer a notificação do crime pela internet de sua casa quando ela foi vítima de roubo e roubo de veículo. Então, não estamos deixando à livre disposição da delegacia. Não há riscos. Além do que, nós divulgamos há muito tempo, e mensalmente, desde 2011, os indicadores de cada um desses crimes que compõem as metas estratégicas do programa. Isso é transparente para a sociedade. Há controle social. Por estas razões, acreditamos que não haverá qualquer risco de manipulação.

A Secretaria de Segurança Pública está se preparando de maneira especial para as manifestações que poderão ocorrer neste ano?

Sim, a polícia está preparada. O papel da polícia é assegurar que a manifestação transcorra de maneira pacífica. Esse é seu primeiro papel. Sempre tivemos manifestações em São Paulo e a polícia sempre deu mostras disso. Ela procura inclusive organizar o trânsito para que a manifestação e aqueles que participem da manifestação possam ficar tranquilos, sem incidentes, com o menor transtorno possível para a cidade. E a polícia está preparada também para situações que a gente não gostaria que acontecesse, mas, se acontecer, a polícia estará preparada.

Outro 13 de junho poderá ocorrer em 2014?

Olha, 13 de junho foi um momento em que vimos grupos de pessoas violentas investindo contra a polícia. Houve notícias de abusos por parte de policiais. Estas notícias foram objeto de inquéritos que estão em andamento, sendo apurados, e nós pedimos inclusive que esses inquéritos, que o comando geral solicitasse à Procuradoria Geral de Justiça a designação de promotores para acompanhar essas apurações. Não temos nenhuma dificuldade em apurar a ocorrência de abusos. Mas queria enfatizar que o 13 de junho não pode ser atribuído à polícia com exclusividade. Houve grupos violentos que investiram contra a polícia, que foram responsáveis por incêndios em ônibus e outros locais.

E o uso das armas menos letais?

Temos uma recomendação que, em relação aos manifestantes, não é para haver emprego disso. Mas é evidente que é uma arma prevista pelas técnicas policiais. Ela não pode ser banida. Mas há esta orientação.

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