Eleições 2014

Candidaturas ao Palácio Guanabara azedam relações entre PT e PMDB no Rio

Petista Molon acusa de antidemocrática postura do PMDB de exigir apoio à chapa de Pezão. Lindbergh terá de definir entre alianças com setores progressistas e conservadores. PSDB quer Bernardinho

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Eduardo Paes, Lula, Cabral e Pezão, juntos em 2012, agora estarão em lados opostos

São Paulo – Se já não era tranquilo em 2013, o clima das relações entre PT e PMDB no Rio de Janeiro entrou em águas mais turbulentas neste primeiro mês do ano eleitoral. O anúncio pelos peemedebistas, há dez dias, de que o vice-governador Luiz Fernando Pezão disputará a sucessão de Sérgio Cabral, e a definição pelo PT, há uma semana, de que o senador Lindbergh Farias também disputará o Palácio Guanabara, fez azedar as convivência entre as siglas de Dilma Rousseff e Michel Temer. “Não é razoável que qualquer partido, muito menos o PMDB, queira exigir que o PT não tenha candidatura própria no Rio nessas eleições”, diz o deputado federal petista Alessandro Molon.

As declarações dos peemedebistas, quando definiram pela candidatura própria, deram a entender que uma composição com o PT seria muito bem-vinda, desde que com Pezão na cabeça da chapa. Jorge Picciani, presidente estadual da sigla, afirmou na ocasião ter “certeza de que vamos formar uma aliança com o PT apoiando Pezão, e mantendo a aliança nacional”. Mas o fato é que o PT deixa o governo de Sérgio Cabral no dia 28 de fevereiro para colocar a candidatura Lindbergh nas ruas. “O PMDB não pode querer obrigar o PT a nunca mais ter candidato aqui no Rio de Janeiro. Essa postura é antidemocrática”, continua Molon.

“O PMDB faz uma disputa achando que pode trazer o PT para a aliança. Mas nós achamos que não tem discussão, temos candidatura e pronto, acabou. O PT tem, talvez pela primeira vez na história, uma candidatura competitiva, à altura para ganhar o governo no Rio de Janeiro”, afirma o secretário-geral do partido no estado, Jorge Florêncio. A decisão de candidatura própria conta com apoio do presidente da Executiva Nacional, Rui Falcão.

Molon diz não acreditar que as rusgas possam respingar na aliança em Brasília. “Não consigo ver as eleições do Rio atrapalhando o quadro nacional por uma razão muito simples: se o PT não puder ter candidato onde o PMDB tem, o PT não pode ter candidato praticamente em estado nenhum.” Em sua visão, “a aliança nacional com o PMDB pressupõe, sim, o apoio do PT em alguns lugares, do PMDB em outros, isso é da democracia”, acrescenta.

Mas, no panorama do Rio de Janeiro, para o parlamentar, o quadro é outro. Segundo ele, as manifestações de junho “mostraram que o PT do Rio tem razão em apresentar uma candidatura ao governo, porque essas manifestações mostram que a população está insatisfeita com os rumos dos estado”.

A reportagem tentou ouvir lideranças do PMDB fluminense, inclusive Picciani, mas não obteve retorno. A assessoria do presidente estadual da agremiação informou que ele “não quer falar de cenário por enquanto”.

Para o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), no momento “há muito mais incertezas do que certezas no processo eleitoral” e, como “a relação do PT com o PMDB está indefinida, tanto o PT pode ser um adversário do PMDB como pode ser aliado”. Freixo, que ficou em segundo lugar na eleição à prefeitura carioca em 2012, com pouco mais de 914 mil votos (Eduardo Paes foi eleito com 2,1 milhões), diz que o candidato de seu partido ao Palácio da Guanabara deve ser Tarcísio Motta, o Professor Tarcísio, praticamente só conhecido pela militância. Líder da bancada da legenda na Assembleia Legislativa, Freixo explica que nem ele nem outros nomes mais conhecidos, como o deputado federal Chico Alencar ou o jornalista Milton Temer, disputarão o governo porque “o Psol vai investir mais nas candidaturas proporcionais [deputado federal e estadual] por conta da sobrevivência do partido”.

Lindbergh surgiu como nome obrigatório após manifestações de junho, dizem petistasApesar de o Psol não disputar o governo para valer, Freixo critica o partido de Lindbergh Farias dizendo que “o leque de alianças que o PT vem procurando aqui no Rio para viabilizar uma eleição a qualquer preço, de alguma maneira, vai nortear que governo ele vai ter caso ganhe”, e alfineta: “Quem busca uma aliança com Malafaia não deve buscar uma aliança com um setor mais progressista.”

Porém, há quem diga que, no final das contas, o Psol vai acabar apoiando Lindbergh “direta ou indiretamente”, segundo fontes petistas.

No final do ano, o Projeto de Lei Complementar 122/2006, que criminalizava a homofobia, foi sepultado ao ser apensado ao projeto do Novo Código Penal, e Lindbergh decepcionou o setor LGBT ao se posicionar favoravelmente à bancada evangélica, a ponto de ter sido citado pelo próprio pastor Silas Malafaia em sua conta no Twitter: “PLC122 acaba de ser enterrado no Senado, a Deus seja a glória. Parabéns aos senadores Renan Calheiros, Magno Malta, Lindbergh Farias e outros”, escreveu o religioso.

“Foi um fato conjuntural na Câmara. O Lindbergh já falou que vai convocar os movimentos LGBT, explicar aquela votação e qual é a posição dele”, defende Jorge Florêncio. “As pessoas conhecem a história do Lindbergh, sabem do compromisso dele com os LGBT, com os negros, as mulheres.” O secretário-geral do PT fluminense diz que representantes do movimento LGBT, em encontro com o senador na semana passada, “questionaram, querem entender a votação, mas estão com Lindbergh.”

No xadrez político do Rio, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), de popularidade nada desprezível, pode fazer a diferença. Ligado à bancada evangélica no Senado, ele tem boas chances de ser candidato ao governo do estado. Sua candidatura teria dupla função: seria mais um palanque para a presidenta Dilma e, no segundo turno, poderia ser decisiva a favor de Lindbergh.

PSDB

Já no PSDB, que não tem tradição no estado, as esperanças residem em um nome “da sociedade”, na expressão do presidente tucano no Rio de Janeiro, o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. Trata-se do ex-jogador e atual técnico da seleção brasileira de vôlei, Bernardinho.

Segundo Luiz Paulo, a meta, coordenada pelo presidente nacional da legenda, o senador Aécio Neves (MG), é “tentar o convencimento” do ex-atleta até março. “Se até lá não conseguirmos convencê-lo, aí vamos ter o chamado plano B. Enquanto houver a hipótese do Bernardinho, ele é o melhor nome.”

Bernardinho, filiado ao PSDB no ano passado a convite de Aécio, disse há duas semanas a uma emissora de TV não se sentir “capaz para assumir um cargo político”. “Não me vejo como candidato”, declarou. O presidente tucano no Rio, porém, garante que, para o presidente do PSDB, o pretendido candidato ainda não conversou sobre o assunto e, assim, continua sendo o plano A. “Com o Aécio ainda não houve essa conversa.”

A ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie, filiada ao partido, poderia ser uma opção. Seu nome já foi comentado também para o Senado e até como vice de Aécio para a presidência. “As pessoas podem falar o que quiserem. Ela é filiada ao partido, é um quadro de primeira linha, mas desconheço qualquer proposta dela ser candidata majoritária ou proporcional”, desconversa o deputado.

Pesquisa

De acordo com a última pesquisa Datafolha sobre a disputa do Palácio Guanabara, feita no início de dezembro, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) lidera as intenções de voto com 21%, seguido por Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB), ambos com 15%. Em seguida, vêm Cesar Maia (DEM), com 11%, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), com 5%, Miro Teixeira (Pros), com 3%. Bernardinho (PSDB) e Milton Temer (Psol) têm 2%.

Todos as fontes ouvidas para esta reportagem consideram prematuro falar de pesquisas no momento.

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