2014

Oposição baiana tenta achar candidato para enfrentar secretário de Wagner

Ex-ministro Geddel Vieira Lima cobra definição rápida entre PMDB, DEM e PSDB, mas ACM Neto deseja manter tradição carlista e deixar para depois do Carnaval. Ex-governador Paulo Souto é bem cotado

Ichiro Guerra/Folhapress

Paulo Souto, que descartava ser candidato, tem demonstrado animação nos últimos meses

Salvador – Tomada no fim do mês passado, a decisão do PT de já lançar candidato à sucessão de Jaques Wagner no governo da Bahia precipitou as articulações da oposição em torno da definição de nomes para enfrentar o secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa. Apesar da tentativa de demonstrar forte união nos últimos meses, as siglas contrárias ao governo petista começam a dar indícios de que podem ter problemas para definir quem será o adversário da atual gestão. Concentrados em DEM, PSDB e PMDB, os aliados avaliam acordos anteriores, viabilidade eleitoral e estratégias para tentar retomar o poder, mas o que parecia simples ganhou contornos de novela.

Como se as complexidades do processo em si já não bastassem, os adversários do governo retomam o costume da personalização política. Em aparições públicas, à guisa de se esquivar de uma declaração contundente sobre o que falta para definir os rumos, quase todos preferem ceder a decisão final do processo ao prefeito de Salvador, ACM Neto, já considerado ”o grande líder das oposições na Bahia”. Neto, porém, se mostra reticente e não assume a “mão-de-ferro” de seu falecido avô. Ao menos não abertamente.

No bloco oposicionista, três nomes atualmente se revezam como possíveis candidatos: o ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), o ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto (PSDB), e o ex-governador Paulo Souto (DEM). Entretanto, dos três, Gualberto é o que tem menos força. Quem sobrou tem argumentos igualmente fortes para reivindicar a vaga, mas o clima de “empate” já está incomodando há algum tempo.

O mais ansioso para que todo o processo termine e que o nome seja escolhido rapidamente é Geddel. O PMDB foi o primeiro partido a tomar a atitude de formar o bloco oposicionista. Em 2010, rompeu com o governador e começou um processo de aproximação com tucanos e demistas, que estavam bastante fragilizados à época. Ao assumir postura bastante crítica, conseguiu resgatar o discurso contraditório da oposição e encontrou eco nos recentes problemas cotidianos da Bahia, em especial as falhas graves na segurança pública estadual.

O passo principal dado pelo partido para assegurar uma oportunidade de ouro no futuro foi nas eleições de 2012, em que ACM Neto saiu vencedor. Os peemedebistas acertaram apoio irrestrito à campanha de Neto no segundo turno e não exigiram contrapartidas de cargos na administração. O acordo, segundo as informações de bastidores, foi o apoio do prefeito à candidatura de Geddel ao governo do estado dois anos depois.

Confortável, Geddel reassumiu o cargo de presidente estadual do PMDB e passou a rodar a Bahia para conversar com eleitores e lideranças do interior e capital em busca de solidificar a candidatura. Entretanto, o DEM, fortalecido após eleger os prefeitos das duas maiores cidades do estado, demonstrou que a suposta união em torno de Geddel já não era mais tão forte quanto outrora, e o nome do ex-governador Paulo Souto passou a ser ventilado.

Geddel queria uma definição rápida do candidato de oposição, mas agora tem de se submeter a ritmo de ACMDe acordo com uma fonte interna do grupo, Paulo Souto não desejava ser incluído no processo. Informalmente aposentado da vida pública após perder duas eleições seguidas para Jaques Wagner, o ex-governador, entretanto, viu um clamor popular pelo seu retorno. Ao aderir às viagens da oposição ao interior, Souto recebeu inúmeros pedidos de retorno para que dispute mais um pleito e volte ao cargo que já ocupou por duas vezes.

“Ele ainda não se decidiu. Ele espera que o clamor aumente, que as pessoas realmente desejem que ele retorne, para assumir uma postura mais contundente em relação a isso”, revela a fonte. No Facebook oficial do ex-governador, porém, vários indícios dão conta de que a cada dia ele se anima com a possibilidade. No espaço virtual, faz duras críticas ao governo e lembra fatos de campanhas e gestões passadas, ao mesmo tempo em que debate com eleitores.

Apesar disso, jamais fala sobre o assunto publicamente e adota o silêncio como estratégia inicial de campanha. “Pontuação em pesquisa? Não estou sabendo. Estou sabendo por você agora”, comentou no mês passado durante visita do ex-governador paulista José Serra (PSDB) à capital baiana. Apesar de tudo, a decisão de Paulo Souto está “próxima”, segundo uma fonte.

Sentindo a perda de espaço, Geddel passou a defender publicamente que o candidato oposicionista fosse definido logo após o anúncio do nome apoiado por Wagner. O fato não ocorreu, o que deixou o ex-ministro visivelmente irritado em diversas entrevistas concedidas nas últimas semanas. “O que eu penso é público e notório. Todos conhecem a minha opinião sobre o assunto e agora eu espero apenas que os aliados da oposição cheguem a uma decisão. Mas volto a repetir: não serei obstáculo para a união do bloco”, argumentou.

Seus companheiros de aliança, porém, não pensam assim. “Eu acho que nós temos o nosso ritmo. O nosso ritmo não é o do governador. Na vida, nós não podemos ser só um espelho dos outros. Temos que ter nosso próprio ritmo”, argumenta o secretário municipal de Urbanismo e Transportes de Salvador e ex-deputado federal, José Carlos Aleluia (DEM). “Nós temos que nos reunir para tomar esta decisão, mas não é para agora. Temos que avaliar todo o cenário e montar uma estratégia para enfrentar todas estas coisas horríveis do PT que vemos aí”, despistou também o ex-prefeito da capital e atual deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB).

A impaciência de Geddel com o atraso na decisão se deve unicamente ao relógio. O ex-ministro sabe que esta é a única chance que terá de disputar o governo com reais chances de vitória nesta e na próxima década. Derrotado em 2010 por Wagner, estava isolado na época por ser uma candidatura alternativa da base do ex-presidente Lula. Agora, tem a oportunidade de se aproveitar da união das oposições e, mais importante, não concorrerá com o nome de ACM Neto.

Está nas mãos de ACM Neto a negociação para tentar chegar a um consensoO prefeito de Salvador já declarou diversas vezes que não sairá candidato no ano que vem por conta do compromisso com a gestão na cidade. Entretanto, é unânime que em 2016 tem a reeleição local nas mãos e que, portanto, é nome certo para o governo em 2018. Se for atropelado por Paulo Souto, Geddel jamais será páreo para o nome do prefeito e, assim, não terá condições de brigar pelo sonho de ser governador.

Além disso, as pesquisas internas de opinião não têm sido favoráveis ao peemedebista. Quando consultada, a população revela ter boas memórias de Paulo Souto, que aparece sempre como o nome mais lembrado entre os oposicionistas. Por vezes, ele é o que mais pontua entre todos os prováveis candidatos. Geddel, por sua vez, pontua apenas de maneira intermediária devido ao relativo desconhecimento que o eleitor ainda tem de seu nome.

Atualmente, Geddel aguarda a decisão de ACM Neto e até já se conformou com o fato. “Achava que era agora (a decisão), fui vencido e não tenho mais por que insistir. O assunto está entregue ao prefeito, a quem cabe liderar. [O anúncio vai sair] no momento que ele achar conveniente”, resignou-se em entrevista concedida nesta quinta-feira (12) ao site “Bahia Notícias”. A ideia, provavelmente, é refazer a tradição criada pelo falecido ACM e anunciar o nome apenas depois do Carnaval.

Esta data, porém, não é confirmada nem desmentida pelo prefeito. Desconfortável ao falar de política em qualquer uma de suas entrevistas coletivas que concede semanalmente na sede da prefeitura, Neto declara que, para ele, não há tempo de falar do assunto e que a oposição está debatendo lentamente. Sobre se é mesmo o líder e terá a decisão final sobre datas e nomes, mais mistérios. “Vamos ver”, encerra, entre sorrisos enigmáticos.

O ex-deputado, afinal, não tem muitas opções. Entre romper com o bloco e ficar novamente isolado ou esperar o fluxo da maré e continuar a trabalhar a própria viabilidade, Geddel não esconde que a primeira possibilidade não é sequer considerada. Porém, sabe que corre o sério risco de ser alijado do processo no Executivo. Voltar a ser deputado também está fora dos planos. “Já dei minha contribuição na Câmara”, atesta.

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