Corrupção

Após denúncias chegarem à cúpula, Alckmin diz que não afastará secretários sem provas

Questionado sobre envolvimento do primeiro escalão em pagamento de propina para caixa 2 do PSDB, governador de São Paulo repete o que fez há quatro meses: vai apurar suspeitas com 'rigor total'

Edson Lopes/Governo SP

Alckmin ao lado de Garcia (e) e Aparecido (d): destinatários das propinas, segundo delator do esquema

São Paulo – Assim como fez há quatro meses, quando surgiram os primeiros indícios de corrupção contra a administração do PSDB em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin repetiu hoje (21) que é o maior interessado na apuração das denúncias contra políticos tucanos e seus aliados. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, membros da cúpula do partido e integrantes do governo paulista – como Rodrigo Garcia, Edson Aparecido e José Aníbal – estão envolvidos no pagamento de propina por empresas metroferroviárias que nos últimos anos fecharam negócios com metrô e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

“Nosso compromisso é com a verdade, doa a quem doer, não interessa o cargo, não interessa quem é. Apuração rigorosa”, afirmou o governador na tarde de hoje, após anunciar desoneração fiscal para padarias no Palácio dos Bandeirantes. Alckmin falou com a imprensa durante sete minutos e dedicou apenas três para responder sobre as denúncias de corrupção. E disse que, apesar de ser favorável à elucidação do caso, não vai afastar nenhum secretário sem provas. “Não tem sentido fazer afastamento se não tivermos acesso aos documentos. Nosso compromisso é rigor absoluto na investigação, rigor total. Somos os maiores interessados e estamos tomando conhecimento hoje pela imprensa.”

Na denúncia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, um ex-executivo da empresa alemã Siemens, envolvida na formação de cartel, alega ter “provas suficientes ajudar o Ministério Público a retomar imediatamente a investigação sobre prática de corrupção em pelo menos seis projetos metroferroviários”. O diretor da companhia diz ainda ter em seu poder “uma série de documentos (originais) que provam a existência de um forte esquema de corrupção em São Paulo durante os governos Covas, Alckmin e Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do Caixa 2 do PSDB e do DEM”. Os indícios teriam sido encaminhados ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O executivo garante que o senador Aloysio Nunes e os secretários Jurandir Fernandes (Transportes) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Social) tinham estreita relação com o diretor-presidente da Procint, Arthur Teixeira, que liderava o esquema. Segundo o Ministério Público e a Polícia Federal, a Procint Projetos e Consultoria Internacional é suspeita de intermediar o repasse da propina. Além deles, o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, e o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) teriam sido citados por Teixeira como destinatários do dinheiro desviado.

“Já determinei ao corregedor-geral da administração, Gustavo Úngaro, para que requisite imediatamente ao Cade e à Polícia Federal todas essas informações”, informou Alckmin, repetindo o mesmo discurso utilizado quando as primeiras denúncias de formação de cartel começaram a aparecer. “Essas denúncias são mais de um ano e meio anteriores ao acordo de leniência (entre Cade e Siemens) e nunca tivemos informação desse depoimento. Então, estamos requerendo judicialmente que nos enviem toda essa documentação para apurarmos rigorosamente tudo.” E insistiu: “Precisamos ter acesso aos documentos.”

Em nota, Edson Aparecido disse que vai processar o “deputado Pedro Simão” – alusão ao atual secretário de Serviços da cidade de São Paulo, Simão Pedro, autor de uma das denúncias originais contra o cartel, em 2008, além do Cade e do ex-diretor da Siemens. “Os três produziram um acordo espúrio em que o próprio denunciante admite fazer acusações em troca de cargo, diz ter informações privilegiadas sobre o andamento das investigações e negocia um apoio de um partido, e não do Estado. Eu desafio esse cidadão a mostrar quaisquer provas contra mim. Ele não mostra porque não as tem. Elas não existem.”

Hoje de manhã, o secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Jurandir Fernandes, admitiu ter recebido Teixeira “três vezes em seu gabinete”. Fernandes é um dos secretários citados pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer como tendo “intensa relação com Teixeira”, em relatório entregue ao Cade.

“Eu conheço o Teixeira. Tive de fazer um levantamento correndo para saber o grau de intimidade que eu tenho com ele. Duas vezes ele acompanhou um grupo de portugueses da Efacec. E uma outra ele veio apresentar a empresa dele, que é a referida na reportagem. Essa é a intimidade que tenho com ele”, disse Fernandes, em entrevista coletiva de lançamento do Bilhete Único Mensal, na sede da prefeitura de São Paulo. Alckmin esteve presente à solenidade, mas não teceu qualquer comentário sobre o tema.

Após um mês de sua criação pelo governador, em agosto, o Movimento TranSParência, formado para envolver a sociedade nas investigações sobre corrupção no Metrô e na CPTM, havia realizado poucas reuniões sem que qualquer informação relevante tivesse sido tornada pública. Segundo o advogado Vicente Bagnoli, da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB-SP), que participou dos encontros, as entidades que representam a sociedade civil fazem só um acompanhamento. “A OAB não decide, não faz sugestão de como o estado deva ou não proceder, não é papel da OAB. A OAB simplesmente acompanha as ações do estado.”

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