Divergência

Vaccarezza diz que não se intimida e que está ‘sintonizado’ com o PT

Deputado afirma que pedido de expulsão contra ele parte de grupos que 'não deveriam estar' no partido, garante que representa maioria, reitera que não sairá e vê divergência no Congresso como pontual

Luiz Alves/Câmara

O parlamentar atribui a nota da Juventude do PT à ação de grupos isolados e garante que não sai

 

Brasília – O deputado federal Cândido Vaccarezza (SP) disse hoje (3) que ninguém o intimida e atribuiu a pressão por sua saída da sigla a grupos isolados de dentro do PT que, em sua opinião, “não possuem compromisso com o partido”. A Juventude petista apresentou pedido formal para que o parlamentar seja expulso.

Em entrevista à RBA, Vaccarezza lembrou sua trajetória como membro da executiva e do diretório do PT ao longo de anos. Afirmou também que o seu trabalho como parlamentar é “sintonizado com as alianças e coligações” defendidas pela maioria petista e deixou claro que segue as orientações dadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidenta Dilma Rousseff. “Isso é nota de pessoas que não deveriam estar no PT”, minimiza. “Sou defensor da aliança ampla, de centro-esquerda, com PT, PR, PCdoB, PDT. Essa aliança que o Lula fez, é essa que eu defendo.”

Apesar disso, trata-se do segundo episódio em menos de 24 horas envolvendo o nome do deputado em confronto com entidades organizadas ou membros da juventude do PT Primeiro, ele foi abordado – na última quarta-feira – por manifestantes que defendiam o direito dos índios na apreciação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, de 2000, cujo objetivo é transferir a decisão sobre demarcação de terras indígenas para o Congresso, tirando do processo a Funai. Vaccarrezza teve o carro parado por manifestantes ao chegar à Câmara, o pneu foi furado e notas de dinheiro foram jogadas sobre o veículo.

Além disso, poucas semanas atrás, foi a voz contrária, dentro do PT, à posição de obstruir o projeto de minirreforma eleitoral. Ele defendeu publicamente a matéria. Na ocasião, o parlamentar convocou uma entrevista coletiva para dizer que não concordava com a decisão tomada pela legenda, por meio de determinação da executiva nacional. “O problema dele é que fala demais. E muitas vezes sem pensar”, opinou um colega parlamentar.

Ligação com PMDB

Vaccarezza também tem sido visto com reservas e certo ar de cautela pelos petistas, por conta da sua estreita ligação com expoentes do PMDB, tanto no governo como na Câmara dos Deputados – sobretudo com o presidente da Casa, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Algumas das queixas feitas pelos colegas nesses períodos de atrito são de que, em determinadas situações, tem se movimentado muito mais próximo do PMDB do que do PT.

Vaccarezza, no entanto, contesta todas essas considerações e ressalta que há pessoas dentro do partido que não gostam dele. Destacando que sua única divergência real da posição defendida pelo PT se dá em relação à minirreforma eleitoral, o deputado negou as acusações e considerou que consistem em jogo de intriga de grupos internos do PT. Conforme destacou, “partem de pessoas que não deveriam estar no partido”.

“Este é um ato (o pedido protocolado) de pessoas que não deveriam estar no PT, que nunca se encontrarão numa posição majoritária e sempre fizeram parte de grupos que não defendem as posições do partido. Amo a sociedade e o parlamento e sou, inclusive, um dos responsáveis pelo projeto de lei que instituiu o Estatuto da Juventude. Tenho recebido vários elogios de jovens de todo o Brasil, menos desse grupo”, acentuou.

Vaccarezza disse ainda que tem tido participação presente nas posições majoritárias do PT. “Não integro nem concordo com a posição de minorias que estão encasteladas dentro do PT defendendo seus partidos. Sou da maioria do PT, sou dirigente nacional, eleito pela chapa majoritária. E fui, por muitos anos, membro da executiva nacional. Poucas pessoas tiveram tanto tempo na diretoria nacional do PT quanto eu e posso dizer: a minha é a posição majoritária do partido”, acentuou.

Sobre as críticas à relação que possui com outros membros do PT e o estreitamento do contato com o PMDB, o deputado refutou que, com exceção de uma, ganhou todas as disputas de que participou dentro da legenda, com o voto dos colegas. “Fui líder do PT eleito numa disputa (com o deputado Paulo Teixeira, SP) e fui líder do governo por mais de dois anos. Agora, se me criticam por ter bom relacionamento com os parlamentares de outros partidos, é preciso esclarecer que as alianças e coligações foram defendidas pelo Lula”, ressaltou.

Orientação de Lula

Para o deputado, as pessoas que não gostam de determinadas posições defendidas pelo PT, como as alianças firmadas, “deveriam procurar um outro partido, que melhor correspondesse às suas posições”. Ele citou como exemplo a aliança entre PT e PMDB que resultou na indicação do hoje vice-presidente Michel Temer (SP) para a cabeça da chapa majoritária nas eleições de 2010.

“Até hoje tem gente que não gosta de ver o Temer na vice-presidência e que fala de mim por ter um bom entendimento com os peemedebistas. Quem pregou a aliança entre PT e PMDB foi o PT, foi o ex-presidente Lula, foi a presidenta Dilma”, colocou.

Sobre as divergências que têm sido observadas em relação à reforma política e o trabalho do grupo técnico criado pelo presidente da Câmara, que tem seguido um caminho diferente do que esperava o PT em relação ao tema, ele lembrou que a discussão da proposta está sendo feita por uma comissão composta por representantes de cada partido. Acrescentou, também, que constantemente tem conversado com o ex-presidente Lula sobre os itens discutidos.

Na prática, o que mais tem irritado a base aliada do governo tem sido a iniciativa adotada pelo deputado de chamar jornalistas para esclarecer declarações ou posições polêmicas sobre a reforma política ou minirreforma eleitoral.

Mas não se discute, faltando dois dias para o encerramento do prazo de filiações partidárias e migração dos parlamentares para outras legendas, qualquer possibilidade de mudança de Vaccarezza para outro partido. O deputado não mencionou nada neste sentido e sua assessoria explicou que tal hipótese não é sequer considerada.