Ditadura

Câmara de São Paulo mantém investigação sobre acidente que matou JK

Motorista apontado na época como responsável disse ontem que recebeu oferta em dinheiro para assumir a culpa, mas recusou

divulgação/câmara de são paulo

Josias (de camisa azul) durante o depoimento: ‘O mundo inteiro me acusou de criminoso’

São Paulo – A Comissão da Verdade “Vladimir Herzog”, da Câmara Municipal de São Paulo, mantém investigação sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, pela suspeita sobre o acidente que matou JK e seu motorista, Geraldo Ribeiro, em 22 de agosto de 1976, na rodovia Dutra. Ontem (1º), foi ouvido o ex-motorista Josias Nunes de Oliveira – à época na viação Cometa, ele foi acusado de ser o responsável pelo acidente, mas acabou inocentado. No depoimento à comissão, Josias disse ter recebido uma oferta de uma grande soma de dinheiro para assumir a culpa.

De acordo com o ex-motorista, “dois caras cabeludos que se disseram repórteres” foram até sua casa, oferecendo o dinheiro. “Se eu não aceitasse, eles disseram que iriam bater em mim. Eu não aceitei o dinheiro e eles nunca mais me procuraram. Não lembro o nome deles e nem de qual veículo eram.”

Pelo seu relato, Josias estava na faixa da esquerda e o carro em que ia JK na da direita, em velocidade um pouco maior. “De repente, tinha uma curva leve para a direita e o motorista do Juscelino continuou em linha reta. Como naquela época a Dutra não tinha guardrail, o carro atravessou sem o menor problema”, afirmou Josias, que mora hoje em uma casa de repouso em Indaiatuba, interior paulista. “Minha vida piorou bastante. O mundo inteiro me acusou de criminoso.”

Josias contou ainda que parou o ônibus no acostamento e foi até o veículo do ex-presidente. “JK não morreu logo depois da batida, ele chegou a mexer os olhos. Eu não o reconheci logo de primeira. Ele estava no banco de trás com o livro As Mudas se Levantam e eu só descobri que era o ex-presidente quando vi uns documentos que caíram de uma pasta”, disse.

Em agosto, a comissão municipal ouviu quatro pessoas sobre o mesmo assunto: Serafim Jardim, ex-secretário particular de JK, o advogado Paulo Castelo Branco, que pediu a reabertura do caso em 1996, Paulo Oliver, passageiros do ônibus, e Gabriel Junqueira Villa Forte, filho do proprietário do hotel em que Juscelino se hospedou antes do acidente.

Oliver também contestou a versão oficial de que o carro de JK foi fechado pelo ônibus. “Eu estava sentado na poltrona e tinha visão de tudo o que estava acontecendo. Vi apenas um carro passando em alta velocidade, mas o ônibus não encostou no carro”, relatou. Já o filho do dono do hotel disse que não há o que investigar. “A curva onde aconteceu o acidente é muito perigosa mesmo. O motorista provavelmente estava rápido e perdeu o controle da direção. Não tem a menor chance de ter sido algo diferente.”

“Temos muitos indícios duvidosos que nos levam a crer que o caso ainda não está encerrado”, comentou o presidente da comissão, vereador Gilberto Natalini (PV).

Com informações do site da Câmara Municipal de São Paulo

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