defesa

Dirceu avisa que batalha na Justiça continua e que pode recorrer a cortes internacionais

Condenado a dez anos e dez meses de prisão, petista diz que foi 'escolhido para ser o símbolo de toda a mágoa e ressentimento' das elites brasileiras contra os governos do PT

mário agra/pt/divulgação

Para ex-ministro, elite brasileira não se conforma com a ascensão de Lula e do PT ao poder

São Paulo – Com a “consciência tranquila”, o ex-ministro José Dirceu afirmou hoje (10) em entrevista ao presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, que continuará recorrendo das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive às cortes internacionais.

“Amanhã ou quinta-feira teremos mais um capítulo, não último, porque continuarei me defendendo: há recursos possíveis na revisão criminal e nas cortes internacionais”, afirmou o petista, condenado a 10 anos e 10 meses no julgamento da Ação Penal 470, também conhecida como mensalão. “Cheguei quase no final dessa primeira etapa, mas isso não vai acabar com a sentença do Supremo.”

Na atual fase do julgamento, o STF dirá se aceita ou não os chamados “embargos infringentes” apresentados pelos réus – recursos que pedem reduções de penas em razão de erros cometidos pelo tribunal na época das condenações, no ano passado. No caso de Dirceu, uma eventual redução pode transferi-lo do regime fechado para o semiaberto.

Na conversa de hoje, transmitida ao vivo pela internet, Dirceu disse que se transformou numa vítima do ódio das elites brasileiras, que jamais aceitaram a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República e não conseguem admitir que o Partido dos Trabalhadores venha desempenhando papel essencial para o desenvolvimento do país.

“Fui escolhido para ser o símbolo de toda essa mágoa e ressentimento que disseminam na sociedade contra nós”, analisa Dirceu, que ocupou a chefia da Casa Civil durante os primeiros anos do governo Lula, até ser derrubado pelas denúncias do mensalão. “Não sei se alguém no Brasil sofreu campanha tão intensa, difamante e injuriosa como eu, e muitas vezes sem direito de resposta.”

Dirceu lamentou que seus adversários políticos tenham querido impingir-lhe uma espécie de “exílio” dentro do próprio país ao impedirem de exercer suas funções parlamentares e até mesmo de trabalhar em outras atividades – alternativa que, diz, lhe restou após ter seu mandato de deputado cassado pelo Congresso.

“A razão da minha vida sempre foi o Brasil. Fui obrigado a ser advogado-consultor, como fui obrigado a ter uma alfaiataria, uma boutique e uma loja de confecções (quando vivia clandestino no país durante a ditadura)”, elencou. “Nunca foi minha opção.”

Apesar de todas a expectativa em contrário, dentro e fora do STF, o petista afirmou estar “muito confiante e otimista” em relação a seu futuro.

Ele reconheceu que, ao longo de sua trajetória de quase 50 anos na política brasileira, como líder estudantil, guerrilheiro, clandestino, militante do PT, parlamentar e ministro, cometeu muitos erros.

“Mas não esses de que me acusam”, ressalvou. “Esses, jamais.” Aos que apostam que fugirá do país para não se preso, Dirceu responde: “Minha grande paixão sempre foi o Brasil. Por isso fiz questão de voltar durante a ditadura, mesmo tendo sido banido e tendo mina nacionalidade cassada pelos militares. Era uma morte certa, mas voltei.”

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