cidade em disputa

Ex-secretário de Serra culpa Haddad por falta de estrutura de São Paulo

Vereador Andrea Matarazzo interrompe entrevista do petista Nabil Bonduki para dizer que proposta de Plano Diretor cria 'corredores de fumaça', promove adensamento desordenado e esquece as periferias

Amauri Nehn/Brazil Photo Press/Folhapress

Matarazzo considera que avançar na construção de edifícios sem mudanças estruturais é um risco

São Paulo – Os vereadores Nabil Bonduki (PT), relator da primeira proposta do Plano Diretor da capital elaborada em 2002, e Andrea Matarazzo (PSDB) deram o tom de como serão os embates sobre o projeto de revisão do plano entregue hoje (26) à Câmara Municipal de São Paulo pelo prefeito Fernando Haddad (PT). Para Matarazzo, o novo plano é pior do que o plano original.

Para Bonduki, a nova gestão quer fazer aquilo que já estava proposto e foi ignorado pelas últimas administrações. Em 2007, as gestões José Serra (PSDB)-Gilberto Kassab (PSD) deveriam ter proposto uma revisão do PDE, elaborado durante o mandato da petista Marta Suplicy. Mas o debate não avançou e, no final do mandato de Kassab, sob risco de retrocesso, entidades da sociedade civil conseguiram travar judicialmente a tramitação do projeto.

“O novo plano consome a cidade. Criar emprego próximo das moradias é legalizar a cidade. Regulamentação fundiária é fundamental para levar empregos para a periferia”, afirmou Matarazzo, praticamente cortando a entrevista coletiva que Bonduki concedia ao grupo de repórteres que acompanhava a entrega do plano.

“É preciso fazer um plano mais democrático, que pense em criar cidade para aqueles que precisam: os que moram longe. Principalmente as periferias, que foram completamente esquecidas nesse plano diretor.” Segundo Matarazzo, nas zonas sul e norte não se consegue levar emprego porque não existe legalização fundiária.

Um clima de enfrentamento se estabeleceu e Bonduki tentou reaver o foco da entrevista, enquanto Matarazzo procurava manter o foco dos repórteres. “O senhor está enganado”, disse Bonduki, aproveitando uma brecha de respiro do adversário. “Não estou, não, é só ler o texto”, devolveu o tucano.

Bonduki lembrou que a proposta contempla ações em diversas áreas e que não se reduz a uma regulação fundiária. “O plano não é só regulação de uso do solo. É também um conjunto de intervenções, ações, obras e projetos. A permissão para o adensamento se dará ao longo dos eixos de mobilidade de acordo com a liberação das obras. Vai haver uma compatibilização entre o avanço da infraestrutura e o adensamento”, afirmou o petista.

Matarazzo, no entanto, considera que a proposta da gestão Haddad é fazer uma operação urbana sem trazer qualquer benefício para as regiões afetadas. “Aumentar a possibilidade de construção para coeficiente quatro vai causar uma operação urbana sem os benefícios, que é a aplicação de recursos na região. Ao adensar a região dos corredores, vai se criar grandes corredores de fumaça”, criticou. O coeficiente corresponde ao número de vezes que se pode construir, relativo à área do terreno.

O tucano também bateu na falta de infraestrutura na cidade, ressaltando alagamentos e problemas com semáforos, sem, no entanto, mencionar as duas últimas gestões, das quais fez parte. Ambas são criticadas por terem ignorado o plano diretor. “Não se pode ampliar a construção sem considerar que a rede de esgoto, de água e eletricidade são as mesmas há 50 anos. Hoje cai três pingos de água e alaga a cidade, desligam-se todos os semáforos”, afirmou. Matarazzo foi secretário de Serviços de Serra entre 2005 e 2006, cargo que tem a responsabilidade de cuidar, entre outras coisas, de ações relacionadas a alguns dos problemas que ora elenca.

Outra crítica do tucano se deu sobre a imposição de outorga onerosa, um valor que é cobrado do empreendedor para ampliar a área construída, que será cobrado para se construir até o limite de duas vezes o tamanho do terreno nas áreas residenciais. “Criou-se uma taxa de construção, o que para mim parece absurdo”, afirmou.

Para Bonduki, a medida vai preservar os bairros exclusivamente residenciais, onde não haverá nenhum tipo de modificação. “O adensamento vai para perto do transporte e não para o interior dos bairros, preservando as características locais e a qualidade de vida”, esclareceu.

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