Petrobras

Para Dilma, denúncias mostram que EUA espionam também por vantagens comerciais

Em nota, presidenta lembra que Petrobras não apresenta ameaça à segurança de ninguém, mas, aparentemente, foi vasculhada. Se confirmada a denúncia, diz, ficam evidenciados os motivos econômicos

Agência Petrobras

Para Dilma, denúncias como a da espionagem da Petrobras são incompatíveis com a convivência democrática

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (9) em nota que o governo brasileiro está “empenhado” em obter esclarecimentos dos Estados Unidos sobre as denúncias de espionagem sobre cidadãos, empresas e instituições do país. Na semana passada, documentos revelados pelo ex-consultor de inteligência Edward Snowden, e publicados pelo Fantástico, da TV Globo, mostraram que Washington interceptou comunicações da própria presidenta. Ontem (8) o programa revelou que a Petrobras também foi vítima da bisbilhotagem.

“Sem dúvida, a Petrobras não representa ameaça à segurança de qualquer país. Representa, sim, um dos maiores ativos de petróleo do mundo e um patrimônio do povo brasileiro”, explica Dilma, para quem os indícios de que a estatal brasileira foi espionada pelos Estados Unidos mostra que o país não monitora comunicações apenas para combater o terrorismo internacional, como argumenta o governo de Barack Obama. “Se confirmados os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança, mas interesses econômicos e estratégicos.”

Em reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para tratar da primeira denúncia de espionagem de Washington sobre o Brasil, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, garantiu que seu país não realizava qualquer tipo de monitoramento com objetivos comerciais. “Tais tentativas de violação e espionagem de dados e informações são incompatíveis com a convivência democrática entre países amigos, sendo manifestamente ilegítimas”, conclui a nota da presidenta. “De nossa parte, tomaremos todas as medidas para proteger o país, o governo e suas empresas.”

Na última sexta-feira (6), antes de deixar a cúpula do G20 na Rússia, Dilma ofereceu uma entrevista em São Petersburgo em que relatou a conversa reservada que teve com seu par norte-americano para tratar do tema. A presidenta externou a Barack Obama seu descontentamento com as denúncias e exigiu ser informada sobre “tudo, tudinho” que os Estados Unidos possuem de informação confidencial brasileira. Obama teria garantido que assumiria pessoalmente a responsabilidade para acabar com a crise e disse que até quarta-feira (11) prestaria esclarecimentos ao Brasil.

Presente à coversa entre Dilma e Obama, o novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, desembarca amanhã (10) em Washington para uma reunião com a conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Susan Rice. A conversa deve ocorrer entre quarta-feira (11) e quinta-feira (12). O objetivo é cobrar pessoalmente as explicações prometidas pelo presidente norte-americano. Enquanto espera explicações convincentes, a presidenta deixou em aberto a possibilidade de cancelar sua visita oficial aos Estados Unidos, marcada para 23 de outubro. “Se não houver condições políticas, obviamente, não se vai”, ameaçou, durante entrevista na última semana.

A Petrobras limitou-se a responder, em nota, aos temores do mercado financeiro sobre sua suposta vulnerabilidade cibernética: informou que dispõe de sistemas “altamente qualificados e permanentemente atualizados” para a proteção de sua Rede Interna de Computadores. “A companhia executa, de forma consistente, todos os procedimentos identificados e reconhecidos como melhores práticas de mercado na proteção de sua rede interna e de seus dados e informações”, atestou. “O trafego e o fluxo de dados são monitorados permanentemente.”

As denúncias de espionagem sobre a Petrobras – e a possibilidade de que empresas norte-americanas podem ter acessado informações privilegiadas da estatal – acenderam as luzes de alerta sobre a realização do primeiro leilão do pré-sal. Em Brasília, porém, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse hoje (9) que o remate do campo de Libra, na Bacia de Santos, previsto para o dia 21 de outubro, segue como antes. “Está tudo mantido como foi programado, não cancela o leilão”. Perguntado se há riscos de dados do leilão terem vazado, ele respondeu: “Não”.

A licitação destinará blocos com potencial de reserva entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris equivalentes de petróleo. A Petrobras terá participação de 30% no consórcio. Lobão também garantiu que está mantido o cronograma do leilão, que prevê o prazo final para o pagamento da taxa de participação e a entrega de documentos para qualificação das empresas interessadas para a próxima semana. A empresa que vencer o leilão terá de pagar um bônus de assinatura à União de R$ 15 bilhões.

Em discurso também hoje, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que os indícios de espionagem comercial demonstram “claramente” uma postura inaceitável de atentado grave à soberania brasileira. “Eles buscam adquirir segredos e informações fundamentais da Petrobras, seja no que se refere às tecnologias desenvolvidas pela Petrobras em prospecção de petróleo em águas profundas, reconhecidamente a tecnologia mais avançada do mundo, como também buscando saber o potencial dos campos de petróleo do pré-sal.” Para o parlamente, o Brasil deveria proibir que empresas norte-americanas participem dos próximos leilões do pré-sal.

Com informações da Agência Brasil e Agência Senado

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