Caso NSA

Espionagem: governo adota tom de cautela à espera de resposta dos EUA

Ministro da Justiça afirma que reação vai depender da versão apresentada por Barack Obama, que prometeu a Dilma uma resposta até esta quarta-feira

Valter Campanato/Agência Brasil

Cardozo repetiu Dilma ao afirmar que a espionagem por motivos empresariais seria fato gravíssimo

São Paulo – O governo adotou tom de cautela hoje (10) ao comentar as denúncias de espionagem, pelos Estados Unidos, de Dilma Rousseff e da Petrobras. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou durante entrevista coletiva em Brasília que as respostas do lado brasileiro vão depender da versão apresentada pelos norte-americanos – Barack Obama prometeu à presidenta apresentar uma explicação até amanhã.

“É uma situação que evidentemente exige uma explicação dos Estados Unidos”, disse Cardozo. “Práticas que evidentemente não são adequadas a países que mantêm uma relação de amizade, de parceria estratégica como Brasil e Estados Unidos. Portanto, aguardamos explicação do governo americano justamente para sabermos o que está acontecendo e por que aconteceu.”

No último domingo, o Fantástico, da Rede Globo, revelou que a Petrobras foi atingida pelo esquema de espionagem comandado pela NSA, órgão de segurança dos Estados Unidos. Na semana anterior, o mesmo programa trouxe a informação de que Dilma Rousseff foi alvo da operação. As denúncias levaram a presidenta a cobrar explicações de Obama durante a reunião do G20 realizada em São Petersburgo, na Rússia, e a cogitar cancelar a viagem a Washington, marcada para 23 de outubro.

Ontem, em nota, Dilma lamentou o episódio, afirmando que o fato de a Petrobras ser espionada traz à tona a possibilidade de que os Estados Unidos se valham do esquema para atender a interesses empresariais – oficialmente, a alegação da gestão Obama é de que se trata de uma questão de segurança, o que leva à justificativa de que não é possível suspender o programa. “Se confirmados os fatos, obviamente apontam para uma possibilidade de uso empresarial que é lamentável. O governo americano sempre negou essa possibilidade”, reiterou hoje Cardozo.

Ele evitou entrar em detalhes sobre quais medidas efetivas estão sendo adotadas pelo governo. Uma das propostas certas é a aprovação do marco civil da internet, atualmente em debate no Congresso, mas que sofre pressões das empresas de telecomunicações para que seja alterado. Hoje, o Ministério da Defesa anunciou a criação de um grupo de trabalho para melhorar a defesa cibernética nacional. O colegiado poderá convidar especialistas de outros órgãos e entidades públicas para ajudar nos trabalhos, que têm prazo de conclusão de 60 dias.

Enquanto isso, no Senado a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem aprovou hoje convite para que sejam ouvidos jornalista britânico Glenn Greenwald e o seu companheiro, David Miranda. O repórter é o responsável pelas denúncias de que a NSA tem espionado as comunicações na internet no Brasil. Ele recebeu documentos vazados pelo ex-agente do órgão de segurança Edward Snowden.

Cardozo confirmou hoje que a presidenta da CPI, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), pediu que Greenwald seja protejido pela Polícia Federal. “Houve uma preocupação da CPI pedindo, em ofício dirigido a mim, a proteção. Imediatamente tivemos contato entre o jornalista Greenwald e a Polícia Federal onde captamos aquilo que nos colocou.”

Depois do jornalista e de seu companheiro, que foi retido por mais de 8 horas em Londres, e teve seu computador apreendido pelas autoridades inglesas, a CPI pretende ouvir autoridades brasileiras. Foram aprovados convites para a presidente da Petrobras, Graça Foster, a diretora da Agência Nacional de Petróleo, Magda Chambriad, e um especialista em segurança eletrônica, que será escolhido.

Serão convidados também os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo; da Justiça, José Eduardo Cardozo; da Defesa, Celso Amorim; de Relações Exteriores, Luiz Figueiredo; e do Gabinete de Segurança Institucional, José Elito. Nenhum dos convidados é obrigado a comparecer.

Com informações da Agência Brasil.

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