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Dilma afirma que interesses da população estão acima das entidades médicas

'O governo não é surdo', afirma presidenta, para quem Mais Médicos atende a uma demanda social frente à falta de profissionais. Em São Gonçalo, Cabral, vaiado, atribui protesto a apoiadores de prefeito

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Ao lado do ministro das Cidades (e), Dilma defendeu Cabral (d) das vaias da plateia no Rio

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (11), ao comentar o Programa Mais Médicos, do governo federal, que o interesse da população brasileira se sobrepõe aos interesses das entidades médicas. “Quando estão em questão os interesses do povo do país, não existe nenhum outro interesse maior, de nenhuma corporação ou segmento. Nós respeitamos os médicos deste país porque sempre foram de grande contribuição, mas faltam médicos neste país, e o governo federal fará o possível e o impossível para garantir que haja médicos disponíveis”, disse.

A afirmação foi feita na cidade de São Gonçalo (RJ), durante a cerimônia de anúncio de investimentos de cerca 2,6 bilhões de reais para a construção da Linha 3 do metrô, que ligará a cidade a Niterói. O investimento faz parte da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Segundo Dilma, municípios como São Gonçalo são aqueles que se beneficiarão do Mais Médicos, que contrata profissionais para atuar na atenção básica à saúde. “Os médicos formados aqui não suficientes para preencher vagas em municípios como este aqui, onde sabemos que faltam médicos nos postos de saúde e na atenção básica, por isso vamos trazer formados fora do Brasil, para trabalhar na atenção básica, nos postos, e garantir que a população tenha acesso aos atendimentos necessários para a atenção básica”, disse.

Na primeira fase do programa Mais Médicos, 701 municípios não receberam nenhuma adesão de médicos, nem brasileiros, nem estrangeiros. Em agosto, 400 médicos cubanos chegaram ao Brasil para atender em regiões pobres e foram recebidos com hostilidade por associações médicas.

De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, trabalharão justamente nestas cidades, que estão entre as que apresentam os níveis mais baixos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em debate na Câmara sobre o programa, em Brasília, no início deste mês, o ministro afirmou que milhares de pessoas esperam por atendimento médico nestas cidades. “Mais de 12 milhões de pessoas moram nesses municípios, que hoje não têm nenhum médico”, alertou. Atualmente, Cuba mantém missões médicas em 58 países.

Dilma ressaltou hoje também os investimentos em infraestrutura que estão sendo feitos no programa e disse que é dever de qualquer governo ouvir pedidos e demandas. “É obrigação de um governo escutar a demanda da população. Um governo não pode ser surdo, tem de ouvir muito. O Brasil tem um problema sério na área da saúde, sabemos porque estamos em contato com governadores e prefeitos e escutamos deles as reclamações.”

Depois das máscaras

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PSDB), que esteve presente à cerimônia, foi vaiado quando discursou sobre as parcerias com o prefeito de São Gonçalo, Neilton Mulim (PR). “Apesar do prefeito de São Gonçalo organizar protestos contra o governo do estado, estamos investindo aqui. Neilton é de outro partido, mas o que vale aqui é o povo de São Gonçalo, que está em primeiro lugar.”

Em meio às vaias, Cabral chamou o prefeito e estendeu a mão para ele. Segundo o governador, a prefeitura de São Gonçalo não tem dinheiro para “quase nada” e os investimentos estaduais são o que garantem a manutenção de serviços públicos no município. “São Gonçalo tem uma das menores renda per captas públicas do Brasil, isso é muito sério. A prefeitura não pode fazer quase nada, não consegue avançar e investir, não tem recurso. O governo do estado investe mais de R$ 1,5 milhão aqui.”

Em resposta às vaias, Dilma abriu seu discurso ressaltando a importância da parceria entre os governos federal, do estado e prefeituras, afirmando que a disputa partidária fica de lado no governo. “Entendo que na eleição tenha disputa. Mas na hora de governar, tem que haver cooperação. O governo coopera, não disputa. Independentemente de partido, há o interesse da população”, destacou.

As vaias a Cabral vieram no dia seguinte à aprovação, pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), do projeto de lei que veta o uso de máscaras em manifestações. Um pequeno grupo chegou a ocupar a frente do Clube Mauá, onde ocorreu a cerimônia em São Gonçalo, com faixas e gritos de protesto.

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