Pela metade

Criador da Lei da Ficha Limpa critica minirreforma eleitoral do Congresso

Juiz afirma que proposta de Jucá não apresenta aspecto 'substancial' ao propor como forma de diminuir gastos eleitorais a redução do tempo de campanha, e não uma mudança no sistema de financiamento

Moreira Mariz/Senado

Jucá (e) enviou proposta para tramitar na casa de Calheiros, enquanto na Câmara há outra iniciativa

São Paulo – Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o juiz e um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, Márlon Reis, afirma que o país não precisa de uma minirreforma eleitoral como a proposta pelo Senado. “Ela não apresenta nenhum aspecto substancial, profundo”, ressalta o diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

O Projeto de Lei do Senado (PLS) 441, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), tem previsão de votação amanhã (4) na Comissão de Constituição e Justiça. Se aprovado nas duas casas do Congresso dentro de exatos 30 dias, será aplicado nas eleições do próximo ano. Jucá apresentou sua proposta como alternativa à reforma política debatida na Câmara como resultado das manifestações de junho. Na visão dele, o trabalho encabeçado pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) é de longo prazo – isso depois de o PMDB, somado a outros partidos da base aliada e da oposição, derrubar o plebiscito sugerido pela presidenta Dilma Rousseff.

A questão central do projeto de Jucá é a redução dos gastos de campanha. Em vez de propor o financiamento público, o parlamentar sugere que as convenções eleitorais ocorram em julho, e não mais em junho. Outra medida é a redução do período dedicado pelos candidatos à propaganda de rádio e TV, de 45 para 30 dias.

Além disso, fica vetado o uso de faixas, placas, cartazes e pinturas em muros. O argumento de Jucá para derrubar este tipo de divulgação foi impedir a realização de “verdadeiros leilões” em torno de paredes, muros, fachadas e até telhados de imóveis particulares com localização estratégica.

Para Reis, o Brasil deveria passar por um processo de reforma política por completo. Ele defende que o financiamento de campanhas eleitorais não seja feito por empresas. “Nós deveríamos investir em modelo misto de financiamento em que tem participação o cidadão, e não a empresa. Empresa não pode doar, empresa não tem direitos políticos. O cidadão, sim, poderia efetuar pequenas doações.”

Além disso, o juiz destaca que é necessária uma mudança no sistema eleitoral e nas candidaturas individuais para que o eleitor vote com maior clareza. “Deveria haver eleições em dois turnos para deputados. Primeiro se votaria em um partido, e depois no candidato”, argumenta.

A Lei da Ficha Limpa, criada em 2010, foi responsável por iniciar o debate sobre a necessidade de reforma política, avalia Reis. “Muitas pessoas que sairiam candidatas ano passado não saíram porque estavam impedidas. Antes, os eleitores brasileiros não questionavam o passado dos candidatos.”

Ouça a entrevista completa aqui.