Megaventos

‘Se eu disser que está tudo 100%, não é verdade’, diz Rebelo sobre preparação da Copa

A empresários do setor imobiliário, ministro garante que torneio será um sucesso, diz que manifestações na Copa das Confederações foram ‘elogio’ a governo e nega remoções forçadas

Adriano Vizoni/Folhapress

O Castelão, em Fortaleza, às vésperas da Copa das Confederações: falta muito, realmente

São Paulo – O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, reiterou hoje (29) em São Paulo que o Brasil tem “todas as condições” para realizar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, apesar de reconhecer que não está fácil garantir o cumprimento dos prazos. “Se eu disser que está tudo 100%, não é verdade”, confessou. “Temos que correr bastante.” Rebelo afirmou que não vê críticas, mas elogios ao governo nas manifestações que ganharam as cidades-sede da Copa das Confederações durante os jogos da seleção – e que foram especialmente intensas em Fortaleza, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O ministro disse ainda que, ao contrário do que denunciam movimentos sociais, os preparativos para o torneio da Fifa não estão provocando a remoção forçada de nenhuma família brasileira.

Rebelo ofereceu uma palestra reservada na capital paulista por iniciativa do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP) para comentar “o que tem sido feito” no país para receber os dois maiores megaeventos do planeta em 2014 e em 2016. O ministro falou por mais de 40 minutos para uma plateia que demonstrou apreço por seu desempenho, ainda como deputado, na relatoria do projeto de lei que cria o novo Código Florestal e por sua contrariedade à demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Incorreu em inúmeros clichês sobre como o futebol tem sido importante para a formação da identidade nacional, como o Brasil ganhará os olhos do mundo durante a Copa e as Olimpíadas e como nosso povo consegue ser acolhedor aos visitantes estrangeiros. Até os feitos do bandeirante Raposo Tavares na definição das fronteiras do país encontraram espaço no discurso.

“Creio que as razões fundamentais”, afirmou, analisando os protestos durante a Copa das Confederações, “são nossas deficiências em serviços como educação, saúde, transporte e segurança pública. As pessoas viram que a competição estava acontecendo em estádios modernos, que foram entregues dentro do prazo, e acharam que, se nós podíamos fazer a Copa das Confederações com tanta eficiência, por que não poderíamos ter eficiência também em saúde e educação, transporte e segurança pública? É isso o que elas querem”, interpretou Rebelo, para quem as manifestações foram muito mais um elogio do que uma crítica ao governo. “Isso não tem tanto sentido crítico, mas sim de reconhecer nossa capacidade em algumas coisas, que deveria ser transferida para outras.”

A RBA questionou o ministro do Esporte sobre se os protestos não estariam relacionados aos “efeitos colaterais” da preparação do país para os megaeventos. De acordo com a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), cerca de 250 mil famílias estão ameaçadas de despejo e remoções forçadas para que suas casas deem lugar a diversas obras nas cidades-sede da competição. “Creio que não, porque não há nenhuma remoção forçada relacionada à Copa”, rebateu. “A remoção está relacionada a obras de infraestrutura urbana, obras de mobilidade, que seriam executadas mesmo que a Copa não viesse para o Brasil. Expansão do metrô, VLTs, BRTs, alargamento de avenidas, todas essas obras que acontecem nas cidades-sede, e outras que não são sede, aconteceriam com Copa ou sem a Copa. As pessoas podem, por estarem desinformadas, achar que isso tem relação com o torneio. Mas não tem.”

Falando a empresários da indústria imobiliária paulistana, Aldo Rebelo aproveitou para defender a construção de estádios mesmo nas capitais que não possuem times na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. “Isso não inviabiliza as obras”, defendeu, lembrando que as estruturas não serão destinadas apenas ao futebol. “Eles foram construídos como arenas multiuso. Além de estádios, são centros de convenção e áreas de lazer. Muitos têm cinema, teatro, shopping centers, e acho que isso vai permitir que eles se sustentem e se viabilizem economicamente.” Por isso, o ministro argumenta que, ao invés de elefantes brancos”, as estruturas se transformarão em “elefantes de ouro”, como já ocorre com o Mané Garrincha, em Brasília, e outros fora do país. “Wembley, por exemplo, não acolhe muitos jogos de futebol por ano: acolhe mais jogos da seleção inglesa e outros eventos.”

Nesse sentido, Rebelo discorreu sobre a importância das arenas para bairros desvalorizados nas grandes cidades brasileiras, como é o caso da zona leste de São Paulo, que receberá o estádio da abertura da Copa. “São obras privadas ou com financiamento do governo federal ou renúncia fiscal em função do desenvolvimento da região”, sublinhou. “Itaquera é um dos bairros com menor índice de desenvolvimento humano da cidade. Precisava de um processo de valorização.” Para provar que esse processo já vem ocorrendo, Rebelo citou a inauguração da USP Leste em 2005 e outras iniciativas em implementação pelos governos municipal, estadual e federal na região. “Há uma série de ações na zona leste, e no meio há o estádio, assim como em Recife teremos a Cidade da Copa, com 200 hectares para fazer, junto com o estádio, conjunto habitacional, universidade, centro de convenções, shopping, cinema, teatro… um complexo.”

Por fim, o ministro do Esporte expôs a opção do governo pelo “desenvolvimento” do país em detrimento da preservação ambiental – visão que vem se intensificando desde o final da administração Lula. “Temos hoje uma legislação em que cada coisa que acontece na gestão pública é quase um milagre. Você tem que celebrar como um milagre, porque tudo é feito para não acontecer”, criticou, em referência às leis elaboradas para combater a corrupção e malversação das verbas públicas, além dos estudos de impacto e viabilidade ambiental. “A contrapartida disso muitas vezes é a paralisia: levamos mais tempo para construir a segunda ou terceira pista do aeroporto de Brasília do que levamos para construir Brasília. No meio da obra, um lobo-guará cruzou a pista, e só pra fazer o estudo do lobo-guará levou um tempão. Preservar é importante, mas sempre com racionalidade.”