Eleições 2014

Na Bahia, PSB apronta candidatura ao governo e pode rachar base de Jaques Wagner

Partido defende senadora Lídice da Mata como nome da coalizão para o ano que vem, mas PT quer manter cabeça da chapa. PDT e PSD também tentam viabilizar nomes

Governo Bahia

Wagner entende que o PT tem a cabeça de chapa, mas há no PSB quem peça por Lídice

Salvador – Deflagrado na semana passada pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), o movimento de candidatura própria do PSB ao governo da Bahia tem a força de provocar a primeira grande baixa na base de sustentação do governo petista de Jaques Wagner no estado, em simultâneo à provável candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos à Presidência.

Na última semana, quando esteve em Salvador para participar de um encontro regional de seu partido, a parlamentar paulista aproveitou para martelar sem medo a jornalistas e correligionários o que o partido já vem gestando há alguns meses: em 2014, a senadora Lídice da Mata será candidata da sigla ao governo da Bahia.

Erundina adotou um tom mais “agressivo” do que o da própria senadora, que é presidente do PSB na Bahia. Para a deputada, não há nenhuma dúvida de que o partido lançará sua candidatura. Ela entende que “está mais que na hora” de haver uma candidatura socialista no estado e que “todas as condições estão dadas a ela”. Lídice foi prefeita de Salvador na primeira metade dos anos 90 e, desde então, acumula uma série de mandatos de deputada estadual e federal. Nas últimas eleições, conquistou uma das duas vagas baianas no Senado, ao lado de Walter Pinheiro (PT).

A própria Lídice é mais cuidadosa ao tratar o fato. Apesar de revelar que tem o desejo de se tornar governadora, nos últimos meses o discurso da socialista tem sido o da conciliação entre os diversos partidos da base. Seu argumento é o de que, com a concentração de capital político e experiências acumuladas, seu nome seria o mais qualificado entre todos os sete prováveis nomes que atualmente tentam se viabilizar como o nome de Wagner para a sucessão.

Em maio, ela declarou ao jornal A Tarde que era o “plano A” do governador para as eleições do ano que vem para manter unida a base de mais de dez partidos que apoia Wagner. “Estou lutando para ser uma candidata da base do governo. Vejo as pessoas comentando: ‘É (o senador Walter) Pinheiro primeira opção de Wagner, é Rui (Costa, secretário estadual da Casa Civil) o plano A, o plano B’. Eu acho que sou o plano A de Wagner, sua primeira alternativa porque minha candidatura pode representar a maior agregação política para a candidatura que o governador pode apresentar à sua sucessão. Venho dessa história política e não sou do PT. Portanto, não dou à chapa uma característica de exclusivismo político que uma candidatura do PT, seja qual seja ela, terá”, explicou em entrevista.

O governador, no entanto, não deu chancela aos argumentos de Lídice e, mesmo deixando aberta a disputa, defende que o candidato da base seja do PT. Por conta disso, a reação de Erundina evidencia o movimento do partido. Ao passo que a candidatura de Eduardo Campos ao Planalto fica cada vez mais desenhada, o cenário estadual também ganha seus contornos com uma candidatura própria visando o palácio de Ondina. A ex-prefeita de São Paulo entende que o PSB tem sido fiel ao PT em todo Brasil, mas que o prazo de abrir mão de seus anseios já chegou ao fim.

“Temos uma mulher com a experiência, dimensão e representatividade que a Lídice tem aqui no estado. Como governadora será um fato inusitado na política estadual, assim como foi na prefeitura e que marcou a vida política administrativa da capital. Tenho certeza que fará o mesmo no âmbito estadual”, revelou a deputada ao site Bocão News no último sábado (13).

A pretensão, por outro lado, esbarra em um “compromisso” assumido no pleito de 2010. Na época, a disputa pelo senado tinha duas vagas para três concorrentes de grande potencial. O então senador César Borges (PR) buscava a reeleição e liderava todas as pesquisas antes e durante a corrida ao Congresso. A coalizão petista, porém, uniu as candidaturas de Lídice e Walter Pinheiro, disseminando o conceito da “casadinha”. Usando forte a propaganda política e a aparição em dupla ininterrupta, conseguiu uma virada improvável e deixou o ex-governador baiano de fora.

A eleição de Lídice foi tratada como um grande investimento petista no PSB e, para 2014, deveria haver a recíproca dos socialistas em apoiar o nome da base na sucessão de Jaques Wagner. Entretanto, o cenário nacional, com as ambições de Eduardo Campos cada vez mais externadas, tornou difícil para os correligionários do governador de Pernambuco cumprirem o acordo estadual.

Debandada?

Caso o desejo chegue à realidade, a base do governador sofrerá sua primeira grande baixa para o ano que vem e outras também podem acontecer. É o caso do PDT, que atualmente prepara o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo, para ser o nome da base. Eleito para o terceiro período seguido à frente da Casa, Nilo revelou por diversas vezes desde o começo do ano que não tem intenção de continuar a ser deputado estadual. Para ele, seu próximo passo deve ser governar a Bahia e, para isto, diz ter a experiência do homem do interior, que entende a realidade dos problemas dos baianos que não estão na capital.

Ciente de que seu nome, apesar de bom trânsito entre os aliados, não é nem de longe cogitado para ser de fato o que representará a base, Nilo vive uma incógnita. Em viagens semanais para o interior do estado em busca de contatos com prefeitos e lideranças políticas, o pedetista continua a construir seu caminho e, por conta de sua vontade, pode também forçar o partido a deixar o grupo e lançar candidatura própria.

Outros correligionários defendem, inclusive, que Nilo lance sua candidatura logo, interrompendo a corrida entre os candidatos de outros partidos e demarcando seu território o quanto antes. É o caso do deputado federal Félix Mendonça Júnior. “Eu acho que ele deveria ser candidato. Depende se ele vai ter disposição para isso. Se quer ser candidato, que realmente o seja e se lance. Senão nem se apresente candidato”, opinou. Ele argumenta que o governador não impediria sua candidatura e também não se indisporia com o presidente da Assembleia Legislativa.

O PSD também está em franco processo de construir sua própria candidatura, em torno do nome do vice-governador, secretário estadual de Infraestrutura e presidente do partido no estado, Otto Alencar. A articulação, por enquanto, privilegia a manutenção da coalizão da base. O presidente nacional da Sigla, Gilberto Kassab, esteve em Feira de Santana em maio e defendeu que Alencar pode ser o melhor nome para a disputa, apesar de deixar a decisão nas mãos de Wagner.

“O que nós colocamos, o que é legítimo que todos os partidos também coloquem em suas alianças, são os nossos nomes. E o nome que a gente oferece (Otto) entendemos que é o melhor para liderar a chapa às eleições de 2014, mas essa escolha será liderada, coordenada pelo governador Jaques Wagner, que tem toda a confiança do nosso partido”, explicou. O Nome de Otto Alencar é uma “ameaça” real aos planos de petistas no caso da coalizão, uma vez que goza de grande prestígio entre os políticos de todas as colorações em toda a Bahia. Ele por sua vez, revela preferir disputar o senado, apesar de afirmar ser “um homem de partido”, pronto a obedecer aos chamamentos de seus aliados.

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