Negociação

Movimentos sociais veem abertura de Alckmin ao diálogo como ‘ponto fora da curva’

Após manifestações, governador chegou a receber grupos no Palácio dos Bandeirantes, mas a grande maioria segue à espera de conversa com ele ou com secretários

©Folhapress/Arquivo RBA

Truculência da PM é a resposta comum às manifestações dos movimentos sociais em São Paulo, repentinamente mudada por Alckmin

São Paulo – A decisão tomada na semana passada pelo governador Geraldo Alckmin de receber grupos da sociedade civil no Palácio dos Bandeirantes é encarada como um ‘ponto fora da curva’ por movimentos sociais que se acostumaram a dar com a cara na porta ao tentar debater suas reivindicações, ao longo dos 18 anos em que o PSDB governa São Paulo. A regra, dizem ativistas de diversas áreas, é a falta de diálogo e de participação social na gestão.

“O governador Geraldo Alckmin (PSDB) não respeita os professores. Se respeitasse, ele nos receberia para ouvir nossas demandas”, critica a presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel. “Nunca fomos atendidos pelo governador, apenas pelo secretário.”

Segundo Bebel, um encontro com Alckmin poderia agilizar o encaminhamento das pautas da categoria. Entre elas destacam-se três: valorização dos professores, extinção da contratação precária de professores temporários e combater de maneira eficaz a violência nas escolas. A greve realizada pela categoria, que se estendeu de 19 de abril a 10 de maio, foi encerrada após negociações com o secretário de Educação, Herman Voorwald. Com o movimento, os professores conseguiram ampliar o reajuste previsto para julho de 2013 de 6% para 8,1%.

A presidenta da Apeoesp reclama que Alckmin recebeu, na semana passada, representantes de movimentos sociais, mas continua sem dialogar pessoalmente com os professores. “Gostaríamos de ter o mesmo tratamento. Quem sabe se fizermos quebra-quebra ele resolve nos atender”, ironiza.

Na semana passada, dia 24, Alckmin recebeu representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Periferia Ativa e Resistência Urbana. Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, diz que a reunião com o governador “foi positiva”. “Agora precisamos ver a sequência, se os acordos serão cumpridos.”

Alckmin se comprometeu a aumentar de R$ 300 para R$ 400 o auxílio-moradia, estudar a operação de ônibus intermunicipais 24 horas por dia e viabilizar o metrô no Jardim Ângela (zona sul da capital). “Exigimos que acabem os crimes da PM e, para isso, é preciso continuar o diálogo com o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella. Queremos punição aos policiais violentos e indenização aos familiares das vítimas”, explica Boulos.

O fim da violência também é bandeira do movimento Mães de Maio, cuja coordenadora, Débora Silva Maria, protesta pelo fato de nunca ter sido recebida por Alckmin. “Só tivemos acesso indireto ao governo do estado.” Para Débora, “os Crimes de Maio são uma vergonha nacional, o maior massacre da história contemporânea”. As apurações estão paradas. “No Ministério Público também não anda. Porque ele já foi contaminado para não andar”, acusa.

Entre os dias 10 e 21 de maio de 2006, 493 pessoas foram mortas. Indícios apontam que a maioria foi causada pelo revide da polícia aos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Gilmar Mauro, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, conta que a última reunião da entidade com o governador paulista foi há cerca de seis meses. “Fazia muito tempo que não nos reuníamos com o governo do estado. No período do Serra não houve nenhuma reunião. Com o Alckmin, aquela foi a primeira.”

Segundo ele, melhorias no transporte público para a população das zonas rurais, escolas para atender a legislação da educação no campo, atendimento de saúde principalmente para quem está longe das grandes cidades, estradas e infraestrutura em boas condições de utilização são as principais reivindicações do MST, além da reforma agrária.

Na segunda-feira (8), o movimento terá agenda com a presidenta Dilma. “Nossa expectativa é que se recoloque a reforma agrária para a ordem do dia. É fundamental que a pauta da classe trabalhadora seja colocada”, diz Mauro.

Federal

Débora Maria Silva, do Mães de Maio, afirma que também a negociação com o governo federal é precária. “Temos um diálogo com o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), mas não avançamos em termos da federalização dos Crimes de Maio, de uma resposta do estado e do governo federal sobre as investigações. O procurador-geral não responde os ofícios feitos pela promotoria pública a pedido do movimento”, conta.

Na semana passada, depois de quase um ano em que o movimento enviou carta a Dilma solicitando um encontro, o grupo foi comunicado de uma reunião na qual participaria ao lado de outras entidades, na esteira das manifestações populares recentes no país. O Mães de Maio, porém, preferiu pedir uma nova data, para não fazer uma conversa “às pressas”, e sem certeza de que o encontro resultaria em soluções definitivas para suas reivindicações.

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