Memória

Dilma lamenta morte do ‘amigo’ e ‘conselheiro’ Jacob Gorender, historiador

'Combate nas Trevas' e 'O Escravismo Colonial' são as obras mais conhecidas do pensador marxista

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Filho de imigrantes judeus, nasceu em Salvador em janeiro de 1923. Foi membro do PCB e fundador do PCBR

São Paulo – Morreu hoje (11) o historiador e intelectual Jacob Gorender, referência do pensamento marxista no Brasil. Tinha 90 anos, completados em janeiro. Filho de imigrantes judeus, ele nasceu em Salvador em janeiro de 1923. Foi membro do PCB, no qual entrou em 1942, e fundador do PCBR, no final dos anos 1960. Estudante de Direito, não chegou a concluir o curso – foi voluntário da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra Mundial. Capturado em 1970 e levado ao Dops de São Paulo, ficou quase dois anos preso.

Sua obra mais conhecida é Combate nas Trevas – A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada, de 1987. “Livro escrito de maneira romanesca, mas sem faltar com a verdade histórica. Ainda que marcado pelas antipatias do autor (como é o caso de sua crítica a Luiz Carlos Prestes) é uma obra difícil de ser igualada, pois combina a testemunha ocular da história e o historiador dotado de um método analítico insuperável”, escreveu em 2011 o professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) Lincoln Secco, no blog da editora Boitempo. Outra obra de destaque é O Escravismo Colonial, de 1978, relançado em 2011 pela Fundação Perseu Abramo.

Em nota, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que “foi com tristeza que recebi a notícia da morte do amigo e companheiro”. Ela contou que conheceu Gorender preso no Dops, em São Paulo, durante a ditadura. “Não teve medo das polêmicas intelectuais, assim como não teve medo de defender suas ideias, mesmo pagando o pior dos preços. Nós nos conhecemos presos no Dops, em São Paulo. Ele estava convalescente de torturas e foi conselheiro importante em um momento crucial na minha vida”, diz a presidenta.

“Jacob Gorender é um ser raro: comunista, democrata, intelectual, lutador por toda vida, que a história do Brasil não deve esquecer”, comentou o jornalista e deputado Emiliano José (PT-BA) no Twitter. “Revolucionário, comunista e socialista, Jacob Gorender  foi um grande estudioso da realidade brasileira, com vários livros e com contribuições importantes sobre a trajetória da esquerda, principalmente nos períodos mais dramáticos e duros da luta pelas transformações em nosso país”, declarou no plenário da Câmara o deputado José Genoino (PT-SP).

“Gorender lutou contra a ditadura militar, foi preso e torturado. Estudou profundamente a realidade brasileira, buscando compreender o passado colonial, reconstituir a memória da resistência à ditadura e analisar as experiências socialistas no século 20”, afirmou, em nota, a direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).

“Acima de tudo, Gorender foi sempre um bravo revolucionário. Dirigente do PCB por décadas, fundou nos anos 60, ao lado de Mário Alves e Apolônio de Carvalho, o PCBR, uma das organizações de combate armado contra o regime militar. Combatente contra o nazifascismo nas fileiras da FEB, desde jovem escreveu seu nome entre os heróis do povo brasileiro”, afirmou em sua página no Facebook o jornalista Breno Altman, diretor do site Opera Mundi.

O enterro foi marcado para amanhã, às 10h, no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.

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