Deputado diz que Serra autorizou obra suspeita de desvios

Roque Barbiere (PTB), que em 2011 denunciou esquema de venda de emendas na Assembleia paulista e agora aparece em grampos com 'quadrilha' investigada pelo MP, afirma que levou pleito do grupo a Saulo Abreu Castro, um dos principais auxiliares do ex-governador

O deputado estadual Roque Barbiere, que atribui obra suspeita a Serra e volta a falar de venda de emendas na Assembleia paulista (©Adriano Vizoni/Folhapress)

São Paulo – O deputado estadual Roque Barbiere (PTB) – que há um ano e meio denunciou um suposto esquema de venda de emendas parlamentares na Assembleia Legislativa paulista – afirmou ontem (10) à Rede Brasil Atual que a obra pela qual está sendo investigado na Operação Fratelli, deflagrada nesta semana em operação conjunta do Ministério Público e da Polícia Federal, foi autorizada pelo então governador José Serra (PSDB) e por dois de seus principais auxiliares: Saulo de Abreu Castro, hoje secretário de Geraldo Alckmin, e Aloysio Nunes Ferreira, hoje senador, todos tucanos.

A investigação atual, no caso de Barbiere, envolveria a duplicação de uma estrada em Birigui, na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, de responsabilidade da empreiteira Demop, “campeã das obras feitas por emendas do orçamento do governo estadual”, segundo informação publicada ontem no jornal O Estado de S.Paulo. A empresa é controlada pelo grupo Scamatti & Seller, cujo sócio Olívio Scamatti é apontado pelo MP como “chefe da quadrilha que desviava recursos de emendas”.

Barbiere acabou envolvido nas investigações porque aparece conversando com integrantes desse grupo em interceptações telefônicas feitas pela PF. Ele diz que o contato se deu a respeito da conclusão da obral. “Essa suposição pode ter partido dos poucos contatos que tive com essa empresa (Demop) para concluir essa obra de Birigui. E tive esses contatos”, admite.

Segundo o deputado, a obra começou no governo de José Serra (2007-2010). “A duplicação da estrada foi autorizada pelo Serra, e no período do governo dele foi feito mais de 90%”, conta. Ele diz que com Alckmin, a partir de 2011, a obra parou. 

“Essas duas empresas, a Demop, e a do Paraná, JMalucelli, se não me engano, vieram no meu gabinete porque sabiam que eu era o pai político dessa obra, que era meu interesse e do meu povo que concluísse a obra”, explica. “Aí levei a documentação que eu tinha de autorização do Serra e do Aloysio (então Chefe da Casa Civil) para a obra ser concluída. O secretário de Transportes (Saulo Abreu Castro) me atendeu, e dois meses depois determinou a conclusão da obra.”

Emendas

O petebista disse não poder “garantir” conexões entre o surgimento de seu nome nas investigações de agora e a denúncia feita em setembro de 2011, quando disse, em vídeo (assista aqui), que entre “25% e 30%” dos deputados estaduais de São Paulo ganhariam propinas com emendas parlamentares fazendo o lobby das empreiteiras junto às administrações municipais. Na época, ele não deu os nomes nem das empreiteiras nem dos deputados, e praticamente não houve investigação.

Mas reafirmou na entrevista de ontem à RBA: “A venda de emendas envolve empresas, deputados e prefeitos. O deputado não vende se não tiver quem compra, a empresa não compra se não tiver o prefeito que concorda em dar a obra para ele”.

Para Barbiere, o mais provável é que seu envolvimento na operação do MP seja obra de adversários políticos em Birigui. O parlamentar diz que, a partir de uma ação movida por ele, o prefeito eleito na cidade, Pedro Bernabé (PDT), teve seu mandato cassado em fevereiro pela Justiça eleitoral.

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Questionado se o fato de a duplicação da estrada ter sido autorizada durante o governo Serra poderia ser um indício de participação do grupo político do ex-governador no esquema, Barbiere diz que não poderia inferir isso. “Não posso dizer que Serra ou seu pessoal teve algum contato com a Demop. Eu tive na situação que te expliquei”.

Itamar Borges

O deputado Itamar Borges (PMDB), também citado nas denúncias, diz que recebeu pedido de emenda para atender entidades como o “Recanto Tia Marlene” em Votuporanga. Ele diz que destina 100% das suas emendas parlamentares para atender entidades assistenciais e filantrópicas da região que representa na Assembleia Legislativa.

“Acontece que uma das pessoas que solicitou apoio para a entidade é empresário em Votuporanga e está sendo investigado”, justifica. Segundo ele, suas emendas são destinadas a entidades, prefeituras e hospitais, nas áreas social e da saúde, “bandeiras do meu mandato”.

 

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