Vencedor em Recife, Eduardo Campos precisa de ‘timing’ certo para candidatura ao Planalto

Governador isola o PT de ampla aliança após vitória de Geraldo Julio e ganha ainda mais força nacional e na tarefa de eleger o sucessor

Campos precisa escolher o momento correto de se lançar ao Planalto, sem confrontar Dilma, como tem indicado (Foto: Eduardo Araújo. Agência Brasil)

Recife – Até três meses atrás, o administrador de empresas Geraldo Julio era um desconhecido morador do Recife. No domingo passado (7) ele foi eleito prefeito da capital pernambucana no primeiro turno, com 51,15% dos votos válidos. O sucesso de Geraldo, que nunca tinha disputado uma eleição, é simples de ser explicado. Seu principal cabo eleitoral foi ninguém menos que Eduardo Campos, o governador pernambucano que tem 90% de aprovação e preside o partido que mais cresceu nas eleições deste ano, o PSB.

Geraldo Julio foi o último a candidato a confirmar presença nas eleições e começou sua campanha com 5% das intenções de voto, em terceiro lugar. O governador Eduardo Campos aproveitou-se do racha interno do PT, que demorou a indicar seu candidato, e rompeu com o partido na esfera municipal, lançando um técnico do seu governo para concorrer à prefeitura do Recife. Favorecido pela popularidade de Campos, o candidato disparou nas pesquisas, impulsionado pelo velho slogan “Foi Geraldo que fez”, em que assumia a paternidade de todas as obras e benfeitorias do governo do Estado. 

Nenhuma surpresa

Embora tenha iniciado a campanha como um desconhecido, a vitória de Geraldo Julio no primeiro turno das eleições era previsível, segundo o cientista político Adriano Oliveira, professor e coordenador do Núcleo de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Adriano foi um dos coordenadores da série de pesquisas feitas nas eleições deste ano no Recife pelo Instituto Mauricio de Nassau. “Geraldo Julio tinha como principal cabo eleitoral um governador que tem uma enorme aprovação. Além de representar o ‘novo’, ele tinha uma referência eleitoral. Por outro lado, Humberto Costa, candidato do PT que liderava as pesquisas, representava uma administração municipal muito mal avaliada”, explica.

O grande vencedor 

Para Adriano, Eduardo Campos é o grande vencedor das eleições para a prefeitura do Recife, uma conquista que deixa o socialista ainda mais forte. “O PSB já tem o governo do Estado e agora vai assumir a Prefeitura da capital. A vitória de Geraldo Julio permite que o governador invista ainda mais no seu projeto presidencial. Além do crescimento no seu capital político, o governador também vai ganhar mais espaço com o eleitorado e com a mídia do Sudeste”, diz.

Para o economista Maurício Costa Romão, Ph.D. pela Universidade de Illinois e consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, “a grande figura” das eleições do Recife foi Eduardo Campos. “O governador conseguiu aglutinar 14 partidos que estavam junto com o PSB e o PT nas últimas eleições na chamada Frente Popular. O governador quase isolou o PT. Agora, Eduardo terá autonomia completa, inclusive para indicar o próximo governador”, prevê.

O professor acredita que Eduardo Campos não é apenas o grande vencedor das eleições do Recife. Ele é um dos maiores vitoriosos em todo o país, já que preside nacionalmente o PSB, que elegeu 416 prefeituras no primeiro turno, 32% a mais que nas últimas eleições. Mesmo com todo esse cacife político, Maurício acha que Eduardo não sairá candidato a presidente da República em 2014 e deve apoiar a reeleição de Dilma. “Ele é novo e sabe que talvez essa não seja a hora dele tentar a presidência. O próprio Eduardo diz isso. Mas política é igual nuvem, que passa, e Eduardo pode mudar de ideia”, avalia Maurício.

O governador, em entrevista publicada na última edição da revista Carta Capital, confirmou esta visão. “Não estou pensando em eleição de 2014 e muito menos em dobradinha, estou pensando no Brasil. E quem pensar no Brasil, terminadas as eleições municipais, vai ajudar a presidenta Dilma Rousseff a fazer um bom trabalho pelo país.”

Trânsito livre

O cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco,Túlio Velho Barreto, destaca que o governador Eduardo Campos elegeu candidatos da sua base de apoio em 170 dos 184 municípios de Pernambuco. “É um fato inédito em nossa história. Também porque, em termos relativos, o PSB foi o partido que mais cresceu nestas eleições no país. Com isso, o governador credencia-se, definitivamente, para dar voos mais altos e pleitear, inclusive, protagonismo na disputa presidencial e de fazer o seu sucessor em 2014. Exagero? Bem, é só lembrar que ele é o único pré-candidato que tem trânsito com parte do PT (leia-se Lula e Dilma Rousseff), do PSDB (leia-se Aécio Neves) e PMDB (Jarbas Vasconcelos)”, analisa Barreto.

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