Tucano tentou barrar investigação sobre desvios na educação, suspeita MP

Presidente do FDE e seu filho, que concorre à prefeitura de Taubaté pelo PSDB, são acusados de superfaturamento e corrupção na compra de mochilas

Taubaté (SP) – O Ministério Público de São Paulo investiga se pessoas ligadas ao prefeiturável de Taubaté Ortiz Junior (PSDB) tentaram barrar a denúncia de fraude em licitações da FDE (Fundação para Desenvolvimento da Educação), presidida por seu pai, o ex-prefeito José Bernardo Ortiz.

Um dos indícios é a gravação de um telefonema entre o pivô das acusações – o ex-diretor da empresa Diana Paolucci, Djalma Santos – e o coordenador da campanha de Junior à prefeitura. A gravação foi feita no dia 20 de agosto, dois dias após a publicação da revista IstoÉ que continha uma entrevista de Santos sobre a denúncia.

O arquivo de áudio faz parte de dois inquéritos do MP. Um deles é da Promotoria do Patrimônio Público, que resultou no bloqueio de bens de Bernardo e Ortiz Júnior. O outro é do Gedec (Grupo Especial de Delitos Econômicos), que apura a responsabilidade criminal pela suposta formação de cartel para vencer licitações da FDE.

Diálogo

No telefonema, o marqueteiro Edson Quirino Júnior, conhecido como Edson Chacrinha, propõe um encontro com Santos. A conversa foi gravada pelo ex-diretor, que estava em São Paulo. No diálogo, que revela certo grau de intimidade, os dois combinam de se reunir no fim do dia em Taubaté.

Na sequência, Santos diz ter se encontrado casualmente com coordenador de marketing da campanha de Junior, Marcelo Pimentel. “Ele [Pimentel] falou: Djalma, existe possibilidade de você parar isso [denúncias]? Falei: lógico que existe. O negócio não é política e o Júnior sabe que não é política”, diz ex-diretor da Diana.

“Eu sei disso, mas é melhor sentar, conversar um pouquinho”, diz Chacrinha.

Antes de se despedir, Santos diz que conversou com Júnior sobre o caso, mas que o tucano o teria “enrolado”.

Sequência

No mesmo dia, Santos e seu advogado, José Eduardo Bello Visentin, levaram a gravação para o Gedec. Já no MP, o ex-diretor recebeu novo chamado de Chacrinha.

Nesse segundo diálogo, testemunhado pelos promotores, o encontro entre os dois foi transferido para um shopping de São José. “Os promotores tentaram conseguir pessoal para filmar eventual flagrante de oferecimento da vantagem financeira, mas não conseguiram e encontro foi cancelado”, afirmou Visentin ao O VALE.

Segundo ele, Santos, Chacrinha e Pimentel se encontraram dias depois. “A conversa não agradou o Djalma. O conteúdo foi revelado ao MP, mas não posso comentar devido a compromissos firmados.”

Santos firmou termo de leniência com o Gedec e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) do Ministério da Justiça. Com a ‘delação premiada’, ele não seria responsabilizado pela participação na fraude.