Em Taubaté, candidato do PSDB precisa defender herança política sob denúncias

Isaac do Carmo (PT) e Ortiz Júnior (PSDB) priorizam as mesmas áreas e se baseiam nos apoios federal e estadual para convencer os eleitores de que são os melhores

São Paulo – Não há favoritos no duelo pela prefeitura de Taubaté. Os números podem contradizer a afirmação, mas a modéstia dos candidatos que disputam o segundo turno não permite cantar vitória publicamente antes do dia 28. Após um pleito que quase se decidiu no primeiro turno, Isaac do Carmo (PT) e Ortiz Júnior (PSDB) agora duelam pelo direito de governar esse município de 280 mil habitantes localizado no Vale do Paraíba, a 140 quilômetros da capital. Taubaté é uma das seis cidades brasileiras – uma das três paulistas – onde petistas e tucanos se enfrentam em segunda votação.

Por enquanto, Ortiz Júnior foi parcialmente vencedor das eleições taubateanas. Quando a apuração terminou, na noite do dia 7, o candidato do PSDB tinha sido escolhido por 78 mil eleitores, número equivalente a 48,7% dos votos válidos. Filho de José Bernado Ortiz, que governou Taubaté por três vezes nos anos 1980, 1990 e 2000, Júnior lançou-se candidato por uma ampla coligação, que engloba, além dos tucanos, DEM, PDT, PTB, PP e PCdoB, entre outras siglas menores. Sua vitória era esperada por alguns apoiadores ainda no primeiro turno, mas o candidato recebeu a notícia do segundo turno com naturalidade.

“Na verdade, minha expectativa era vencer bem o primeiro turno para entrar forte no segundo. E a gente conseguiu isso”, afirma Ortiz Júnior. “Numa eleição em que você disputa com um deputado em terceiro mandato, um ex-prefeito e um candidato que representa o Sindicato dos Metalúrgicos, é óbvio que você tem de estar preparado para dois turnos de eleição. Há uma pulverização de votos muito grande.” O ex-prefeito é Mário Ortiz, primo do tucano. O deputado é Padre Afonso (PV). 

E o adversário em questão é Isaac do Carmo, dirigente sindical desde 1999. Em 2007 assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, cargo que exerceu até o começo deste ano. O petista acredita que sua atuação como representante dos trabalhadores nas fábricas da Ford e Volkswagen lhe deu credenciais políticas e experiência para lançar-se à prefeitura da cidade. Sua candidatura, porém, é mais modesta que a do rival. No primeiro turno, Isaac contou com o apoio de apenas dois partidos: PMDB e PSDC, além, claro, do PT, ao qual é filiado. Contabilizou 40,9 mil votos – 25,51% do total. Por pouco ficou de fora do segundo turno, mas nega ter pensado que perderia as eleições logo de cara.

“Nossa expectativa era ir ao segundo turno. Tínhamos apenas 2,8% das intenções de voto no começo da campanha e fomos a candidatura que mais cresceu com o tempo”, lembra Isaac. “Cerca de 20% do eleitorado não votou no primeiro turno devido a um feriado em Taubaté. Agora teremos uma outra estratégia, são apenas dois candidatos e a discussão dos projetos para a cidade vai se intensificar.”

Propostas

Apesar de terem propostas diferentes, ambos candidatos pretendem atacar as mesmas deficiências que, julgam, são as principais mazelas da cidade: saúde, trânsito, educação e segurança pública. Contudo, enquanto Ortiz Júnior vê o governo do estado de São Paulo como parte da solução, Isaac enxerga a contínua gestão do PSDB à frente do Palácio dos Bandeirantes como origem dos problemas.

“O governo tucano no estado sucateou a saúde de Taubaté, destinando dois hospitais da cidade para atender pacientes de toda a região”, critica o candidato do PT. “A violência nas ruas também é fruto de uma política equivocada do PSDB, que trouxe vários presídios para o Vale do Paraíba. Na cidade, o índice de homicídios a cada 100 mil habitantes é semelhante ao Rio de Janeiro. Isso é muito grave. Para piorar, o governo do estado retirou o serviço 190 de Taubaté, concentrando tudo em São José dos Campos.”

Ortiz Júnior pensa diferente. “O governo do estado tem investido muito na cidade. Na parte da saúde, recentemente foram anunciadas verbas de R$ 50 milhões para resolver um problema sério, que é a internação hospitalar. Devemos ter em breve dois hospitais estaduais”, conta. “Novos investimentos estaduais serão importantes para enfrentar a violência, com a instalação do Centro de Operações Integradas, e os problemas da educação, com reforma de escolas e apoio para o material didático.”

Como ocorre em todas as cidades paulistas que terão segundo turno entre PT e PSDB, em Taubaté o candidato tucano faz muita referência a parcerias passadas e futuras com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), enquanto o petista lembra do apoio inconteste da presidenta Dilma Rousseff (PT) para a liberação de verbas federais. “O governador é muito ligado a Taubaté. Seu apoio é fundamental agora e será fundamental no futuro para recuperar a capacidade de investir na cidade”, avalia Ortiz Júnior, ao que rebate Isaac do Carmo: “Temos o apoio do ex-presidente Lula, que tem um carinho especial por Taubaté, e demonstramos durante toda a campanha o apoio da presidenta Dilma”.

O suporte de lideranças estaduais e federais se materializa em comícios e eventos de campanha. Geraldo Alckmin esteve em Taubaté no último sábado (13) para transferir seu prestígio público à candidatura de Ortiz Júnior. Na próxima quinta-feira (25), a três dias do pleito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia que irá à cidade do Vale do Paraíba para tentar “puxar votos” para seu correligionário.

Denúncias

Em sua passagem por Taubaté, o governador de São Paulo aproveitou o assédio das câmeras para defender o candidato tucano das denúncias que vem sofrendo do Ministério Público estadual desde finais de setembro. Ortiz Júnior e seu pai, Bernardo Ortiz, respondem por supostos desvios de verbas para compra de mochilas pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), instituição vinculada ao governo paulista e presidida pelo ex-prefeito taubateano. O PT acredita que o dinheiro proveniente do superfaturamento está financiando a campanha milionária de Ortiz Júnior. Já o PSDB diz que se tratam de denúncias mentirosas e eleitoreiras, sem correspondência na realidade.

“A intenção desde o início foi criar um fato político durante a campanha”, argumenta o candidato tucano, para quem as suspeitas de corrupção não tiveram impacto negativo em sua votação. “Não sofremos com isso em decorrência de serem denúncias falsas, inverídicas e mentirosas, que não têm condição de se sustentar.” Ortiz Júnior explica que as mochilas foram compradas pelo menor preço do Brasil: as pequenas por R$ 6,50 e as maiores a R$ 9,30. “Quando terminou a licitação, o ex-prefeito Bernardo Ortiz, presidente da FDE, exigiu desconto de mais de R$ 5 milhões.”

Perguntado se o PT está utilizando as denúncias contra a família Ortiz na campanha, Isaac do Carmo afirma que está apenas “mostrando a verdade” para a população. “Temos um candidato que responde processo por desvio de dinheiro da Educação, que teve seus bens bloqueados pela Justiça, e isso é muito sério”, argumenta. “Taubaté vive um problema político pelo fato de o atual prefeito ter perdido o comando da cidade ao ter ficado o tempo inteiro se defendendo para não ser cassado. Não podemos ter tudo isso de novo.”

Herança

A postura dos candidatos em relação à atual administração municipal de Taubaté também é semelhante. Ambos querem se desvencilhar dela e, ao mesmo tempo, têm ligações políticas com o governo do prefeito Roberto Pereira Peixoto, do PDMB. Peixoto está em seu segundo mandado. Foi eleito pela primeira vez em 2004, e na época era filiado ao PSDB de José Bernardo Ortiz, a quem sucedeu. “Mas saiu do partido dois anos depois da eleição, em 2006, mudou-se para o PMDB e fez um acordo com o PT”, explica Ortiz Júnior. Nas eleições de 2008, Peixoto teve como vice-prefeita a petista Vera Saba, que continua no cargo. “Mas ela foi tolhida pela atual administração”, diz Isaac do Carmo. “E a população sabe disso.”

Tanto Ortiz como Isaac se classificam como candidatos da mudança – e se acusam mutuamente como encarnações do status quo. Aliás, o representante do PSDB alega que essa é sua principal diferença perante o rival. “O candidato do PT luta para manter a estrutura de poder vigente. O braço direito de sua campanha é o braço direito do prefeito Roberto Peixoto”, aponta. “A gente propõe uma mudança radical na forma de administrar a cidade, planejar e oferecer serviços públicos. Esse governo deixou de atender à população.”

O petista concorda com a opinião de que se tratou de uma má administração. “É um governo que tem de ser apagado da história da cidade”, comenta. “Estou assumindo compromisso com Taubaté para ter responsabilidade com o dinheiro público, ética e gestão participativa do orçamento municipal.” Isaac afirma que quer quebrar com uma sequência de governos “elitistas” que têm administrado a cidade há mais de vinte anos, e lembra que a família Ortiz – com José Bernardo e Antonio Mário – já ocupou a prefeitura em quatro dos últimos sete mandatos.

Promessas

Caso consiga a maioria dos votos no domingo (28), o PT vai governar Taubaté pela primeira vez em sua história. “O partido vem crescendo muito no Vale do Paraíba”, destaca Isaac. Nas últimas eleições, os petistas venceram a prefeitura em duas das principais cidades da região: São José dos Campos e Jacareí. O PSDB terá quatro anos à frente de outras duas: Guaratinguetá e Pindamonhangaba, terra do governador. A disputa taubateana pode ser vista como uma espécie de desempate para os simpatizantes de uma e outra siglas.

Para vencê-la, Isaac do Carmo promete trazer à cidade quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do governo federal, ambulâncias do Serviço Ambulatorial e Médico de Urgência (SAMU), além de dois Centros Educacionais Unificados (CEU), para empreender uma “transformação social” na qualidade do ensino, esporte, cultura e lazer de Taubaté. “Também vamos reestruturar a via férrea para melhorar o trânsito da cidade”, propõe. “Temos ruas da década de 1970 com uma quantidade de veículos do século 21.” Outra proposta de Isaac é aumentar o efetivo da Guarda Civil Municipal de 300 para 500 homens, além de instalar câmeras de segurança no centro e nas principais avenidas de Taubaté.

Em seu favor, Ortiz Júnior anuncia os já citados hospitais e o Centro de Operações Integradas – que serão viabilizados em parceria com o governo do estado. As medidas em saúde serão complementadas pela instalação de um Ambulatório Médico de Especialidades (AME), que pretende levar atendimento aos bairros. Em segurança, o tucano aposta também na Operação Delegada, que permite aos policiais militares fazer “bico” para a prefeitura nos dias de folga, em conjunto com a Guarda Civil.

 

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