PSOL recebe apoios do DEM e do PSDB em Macapá

Porto Alegre – Nas eleições municipais deste ano, o PSOL conquistou sua primeira prefeitura no país, em Itaocara, no Rio de Janeiro, e está disputando o segundo turno em duas capitais: […]

Porto Alegre – Nas eleições municipais deste ano, o PSOL conquistou sua primeira prefeitura no país, em Itaocara, no Rio de Janeiro, e está disputando o segundo turno em duas capitais: Belém (PA) e Macapá (AP). Entretanto, o crescimento do partido em termos de viabilidade eleitoral pode estar vindo junto com outro fenômeno: uma distensão em sua política de alianças.

No ano passado, o Congresso Nacional do PSOL admitiu a possibilidade de serem feitas alianças para além da Frente de Esquerda (PSTU e PCB). De acordo com a decisão, qualquer aliança fora desse arco político teria que ser aprovada pela direção nacional do partido. “O diretório nacional avaliará caso a caso as alianças que avançarem para além do acúmulo da Frente de Esquerda, cabendo somente a essa instância a decisão final sobre a possível concretização de ampliações”, estabelece o documento. A diretriz do Congresso Nacional do PSOL também estabeleceu como prioritárias as disputas em Macapá, Belém e Rio de Janeiro. “Serão prioritárias para o PSOL as disputas pelas capitais do Pará, Amapá e Rio de Janeiro, em função do acúmulo partidário e das grandes potencialidades de vitórias político-eleitorais existentes nessas cidades.”

Em Belém, o candidato Edmilson Rodrigues concorre junto com PSTU e PCdoB – partido que está umbilicalmente ligado ao projeto nacional comandado pelo PT, que o PSOL combate na Câmara de Deputados e no Senado. O vice de Edmilson é Jorge Panzera, do PCdoB. Nesta coligação, o PSTU recebeu prioridade na disputa proporcional e conseguiu eleger Cleber Rabelo à Câmara Municipal de Belém.

Agora, na disputa pelo segundo turno contra o candidato Zenaldo Coutinho (PSDB), Edmilson – ex-prefeito de Belém pelo PT – começa a coletar outros apoios de partidos que integram campos políticos combatidos pelo PSOL, como o PT e o PPL.

Em Macapá, o vereador Clécio Luís concorreu numa ampla coalizão que envolve partidos de direita e nanicos ligados a grupos cristãos e evangélicos – que possuem pouca expressão política, mas acrescentam alguns segundos no horário eleitoral gratuito. A aliança Unidade Popular inclui PSOL, PPS, PV, PCB, PMN, PRTB e PTC.

Na corrida pelo segundo turno, Clécio já conseguiu o apoio de partidos que gravitam em campos diametralmente opostos ao PSOL. Na semana passada, a coligação derrotada de Davi Alcolumbre (DEM) declarou apoio ao candidato do PSOL. Com isso, DEM, PSDB e PTB – além do PCdoB, que também teve uma candidatura derrotada no primeiro turno – passam a fazer campanha para Clécio Luís em Macapá, que disputa contra o atual prefeito Roberto Góes (PDT).

Apesar de não serem coligações formais, os apoios no segundo turno em Macapá e em Belém foram celebrados em atos políticos com a presença dos candidatos à prefeitura e dos partidos em questão.

É preciso fazer alianças

O vereador Clécio Luís ficou com 27,89% dos votos em Macapá (AP) e disputa o segundo turno contra o prefeito Roberto Goés, que fez 40,18%. Em conversa com o Sul21, ele reconhece que é necessário fazer alianças para vencer a eleição. “Sou filiado a um partido nacional. Para o PSOL se consolidar como partido nacional, temos que compreender as diferenças regionais e políticas. Para podermos libertar Macapá do jugo dessa organização que governa a cidade e ganhar as eleições, é preciso fazer alianças”, justifica.

Entretanto, ele diferencia a coalizão que o tornou vitorioso no primeiro turno dos apoios que vem recebendo no segundo turno. “No segundo turno não há coligação nem alianças formais. Os candidatos do DEM e do PCdoB fizeram uma campanha que também reivindicava mudanças, então foi natural que eles declarassem apoio a mim. Não tinha como eles baterem no atual prefeito e apoiá-lo no segundo turno”, explica.

Clécio Santos assegura que esses apoios recebidos no segundo turno não o colocam no compromisso de governar com DEM e PSDB, caso vença as eleições. “Não discutimos a adesão desses partidos ao governo, o apoio deles não está vinculado a isso. Eles apenas querem que o projeto que combateram no primeiro turno não continue”, minimiza.

Entretanto, o candidato do PSOL teve de incorporar propostas do democrata Davi Alcolumbre para obter seu apoio. “Aceitamos acolher algumas propostas pragmáticas do programa dele, como a de desafogar o fluxo de carros na zona norte da cidade com a construção de passarelas”, exemplifica.

Distorção

Vereador de Porto Alegre e presidente do PSOL no Rio Grande do Sul, Pedro Ruas não poupa críticas as alianças e aos apoios costurados por integrantes do seu partido em Belém e em Macapá. Para ele, se trata de uma “distorção” que enfraquece o caráter nacional da sigla. “Entendo que isso é uma distorção. Nós, do PSOL, temos que trabalhar como um partido nacional. O que é realidade em Alegrete deve ser também para Orós, no Ceará. Tanto em Belém quanto em Macapá está havendo uma distorção da linha nacional do PSOL, que só permite alianças com PSTU e PCB”, critica.

O vereador considera, entretanto, que não é possível proibir outros partidos de apoiarem o PSOL no segundo turno. “Não podemos ter nenhuma conversa com partidos como DEM e PSDB, mas não temos como interferir em quem eles desejam apoiar”, avalia.

Pedro Ruas teme que essas alianças deponham contra o projeto de esquerda do partido. “Devemos sempre salientar que o projeto do PSOL é de esquerda e não faz concessões. Falo como dirigente estadual: esse tipo de aliança ou de apoio negociado é um desvirtuamento e não deveria ser permitido”, opina.

Ele lembra de dois casos no Rio Grande do Sul em que a direção do PSOL gaúcho interferiu: São Lourenço do Sul e Montenegro. Em Montenegro, o caso ainda aguarda uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Lá, o candidato Paulo Azeredo (PDT) venceu as eleições ao lado de Luiz Aldana (PSOL). Entretanto, no início da campanha, os dois tentaram costurar uma aliança majoritária com PR e DEM. Foi essa coligação que o PSOL gaúcho conseguiu dissolver na Justiça. O partido obteve ganho de causa em primeira instância e a aliança teve que ser apenas entre PSOL e PDT, mas a coligação recorreu em segunda instância e foi vitoriosa. Agora, o caso está no TSE.

Pedro Ruas garante que irá tomar medidas administrativas contra Luiz Aldana, que poderá ser expulso do partido. “Houve uma desobediência a um tema que é estatutário, por isso fiz a intervenção e faria de novo se fosse necessário”, comenta.

Rebaixamento programático

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PSOL, Ivan Valente avalia que o partido não está se submetendo a um “rebaixamento programático” para receber apoios no segundo turno. Ele reforça a diferenciação entre aliança no primeiro turno e declaração de apoio. “Sobre a questão de Macapá, a executiva nacional irá discutir nessa semana a forma como foi feita a declaração de apoio (num ato político com as lideranças envolvidas). Mas não existe aliança (com DEM e PSDB), e sim uma adesão de segundo turno”, diferencia.

Ivan Valente reforça que o PSOL não pretende “governar a qualquer custo” e ressalva que as alianças com PCdoB em Belém e com o PPS em Macapá foram referendadas pela direção nacional do partido. “Elas foram aprovadas com base na resolução de que o PSOL analisaria, caso a caso, alianças com partidos que, no passado, integravam a Frente Popular. Isso implica em ter alguma flexibilidade, analisando casos específicos de parceria com PT, PDT, PCdoB e com o PPS, originário do PCB”, comenta. O parlamentar frisa que, no caso de Macapá, apenas o diretório municipal apoiou o PSOL. “Os deputados do PPS não apoiaram o Clécio”, aponta.

Ivan Valente conta que, apesar das divergências nacionais entre PSOL e PCdoB, em Belém os comunistas têm uma trajetória afinada com as lutas das populações urbanas e rurais. “O PCdoB no Pará tem uma enorme atuação comum com o PSOL na cidade e no campo, temos algum grau de afinidade por isso. Possuímos divergências nacionais, mas trata-se de uma aliança tópica naquela cidade”, explica.

O presidente nacional do PSOL não acredita que o partido poderá perder sua identidade com essas alianças. “Vamos estar muito zelosos para que o PSOL mantenha seu caráter programático e ideológico. Não nos interessa chegar a todo custo ao poder, mas precisamos dialogar com a sociedade. Não há nenhuma proposta de rebaixamento programático nem de troca de cargos por apoio político. O PSOL está preservado”, assegura.

Caso excepcional

Ex-candidato à Presidência da República pelo PSOL, o paulista Plínio de Arruda Sampaio não demonstra muita inconformidade com as alianças e apoios costuradas pelo partido em Belém e em Macapá. “São cidades onde temos condições fortes de vencer a eleição. Nesse momento, os adversários se unem, então nossos candidatos também estão obtendo apoios”, explica.

Para o ex-presidenciável, o apoio recebido por DEM e PSDB em Macapá é uma situação isolada. “É um caso muito particular e diz respeito a um lugar remoto num estado muito pequeno, de modo que, nesse caso, se fez uma vista grossa”, comenta.

Plínio reconhece que ser apoiado pelo DEM “é dose para leão”, mas acredita que o PSOL não está arrefecendo em seu projeto político. “Todo partido corre o risco de se degenerar, não há nenhuma garantia de que isso não ocorrerá. Mas me sinto confortável no PSOL e não vejo que isso possa acontecer de jeito nenhum. Vejo o partido muito fiel aos seus propósitos. Esses fatos em Macapá são excepcionais”, avalia.

A reportagem do Sul21 entrou em contato o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), padrinho político do candidato Clécio Luís, mas não obteve retorno de sua assessoria até o fechamento desta matéria.

No início deste ano, o secretário de comunicação do PSOL de Santa Catarina, Leonel Camasão, enviou uma nota para a reportagem informando que, nas eleições municipais de 2008, o PSOL realizou 21 coligações no país que iam além do PCB e do PSTU. O montante representou 8% do total de campanhas majoritárias do partido naquele ano e incluiu parcerias com: PCdoB, PV, PDT, PPS, PSB, PMN, PTN e PSDC.