PSDB precisa de mais vínculo social, diz coordenador da campanha de José Serra

Edson Aparecido comenta resultado desfavorável no segundo turno das eleições em São Paulo e afirma que tucano 'patinou' discutindo 'kit gay'

São Paulo – O coordenador da campanha de José Serra (PSDB) para a prefeitura de São Paulo, Edson Aparecido, disse hoje (28) que o partido precisa “ter mais vínculo e vida” na sociedade. “Não podemos ser um partido que se mobiliza apenas em época de eleição”, disse. “Não podemos fazer só oposição parlamentar. Temos de fazer essa mudança, ter coragem de entrar na sociedade, no dia a dia.”

Edson Aparecido conversou com jornalistas após o discurso em que José Serra reconheceu sua derrota para Fernando Haddad (PT) no pleito para a prefeitura de São Paulo. De acordo com o tucano, que é deputado federal, o PSDB “perdeu tempo” na primeira semana do segundo turno discutindo um tema que não fazia parte da estratégia da campanha serrista: o “kit gay”. “A gente patinou uma semana com esse assunto”, diz, afirmando que temas como o Bilhete Único de 6 horas e as Organizações Sociais (OS) fizeram José Serra subir nas pesquisas.

“Perdemos a eleição, mas estamos de cabeça erguida”, contemporizou Edson Aparecido. “O PSDB tem agora o desafio de continuar administrando bem o governo do estado, e as prefeituras que ganhamos: entre PSDB e partidos aliados, que são quase 350 no estado.” Confira a entrevista:

O PSDB precisa se renovar?

O principal desafio do PSDB é deixar de ser um partido cartorial pra ser um partido com vida partidária e com vida na sociedade. Não pode ser um partido que se mobiliza apenas em época de eleição. É isso. Renovar? Tem um monte de gente nova no PSDB. Para estas eleições, escolhemos o melhor candidato. Foi o candidato que uniu o partido, só ele conseguiria reunir a aliança que fizemos – nenhum outro do PSDB conseguiria. Serra uniu duas lideranças importantes, o Geraldo [Alckmin, governador do estado,] e o [prefeito Gilberto] Kassab. Então, era o melhor candidato que o PSDB tinha para apresentar, pela experiência, pela história e porque estava absolutamente preparado para administrar a cidade. O desafio maior do PSDB é romper a vida cartorial e passar a ter uma vida de vínculo forte com a sociedade. É o principal desafio.

Houve erros na campanha?

Acho que a gente deixou de fazer uma campanha mais dura, sob o ponto de vista do enfrentamento, talvez. O PT fez isso o tempo todo e passou como bonzinho. Bateram na gente a campanha inteira e conseguiram passar para a imprensa que eles eram os bonzinhos, e que quem atacava éramos nós. Coisa de maluco. O prefeito, às 16 horas, praticamente eleito, vai pra rádio socar o porrete no Serra. É absurdo. Bateram na gente o tempo inteiro, até depois da eleição. Muita gente na nossa campanha nos critica por não termos sido mais incisivos: 90% da nossa campanha foi propositiva. Quando o mensalão entrou na campanha, foi para dar uma resposta a nosso eleitor, até porque a mídia do país já acompanhava. Defendemos o tempo todo que fosse uma campanha municipal.

No primeiro turno, enfrentamos uma adversidade bastante grande, porque eram cinco candidatos batendo na gente. Mesmo assim ficamos em primeiro lugar. No segundo turno, talvez tenhamos perdido uma semana decisiva, porque poderíamos ter entrado com a questão do Bilhete Único de 6 horas e apontado a questão das Organizações Sociais de Saúde. Patinamos uma semana discutindo um assunto que não era da nossa campanha – o chamado “kit gay”, que virou personagem da campanha. Isso não era estratégia nossa. É uma coisa que veio de fora e virou no debate da cidade, ocupou o debate.

A gente patinou uma semana com esse assunto e deixamos de discutir esses dois assuntos – Bilhete Único e OS – que inclusive fizeram a gente recuperar. Quando a população entendeu a proposta do Serra sobre Bilhete Único e o perigo do PT acabar com as OS, a gente voltou a crescer. Só que não deu tempo de fazer a curva novamente. Então, perdemos muito tempo na primeira semana da campanha com esse personagem externo, o “kit gay”.

Mostrar-se como continuidade do governo Gilberto Kassab foi um erro?

Não. A gente não conseguiu passar para a cidade o que a administração fez – e a administração fez muita coisa: desfavelamento, sistema de saúde das AMA, educação. A gente não conseguiu passar nem capitalizar. É natural que a aprovação dos governos cresça na campanha – mas não conseguimos, embora houvesse esforço nosso.

E a saída de Serra da prefeitura, em, 2005, pesou?

Acho que não. Não conseguimos explicar pra população que, quando o Serra saiu da prefeitura, ele foi para ser governador do estado – e, como governador, fez muito pela cidade. O PT conseguiu passar para a população que o Serra tinha saído da prefeitura para ser candidato à presidência. Nós não conseguimos. Andávamos na rua e as pessoas falavam isso: “Você saiu para ser candidato a presidente!” E não era, né.

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