Em último debate, Haddad se apresenta como sólido, e Serra insiste em mensalão

Tucano volta a evocar questões morais e Bilhete Único de seis horas, proposta que é ironizada pelo adversário: 'Meu programa de governo não muda ao sabor das circunstâncias'

Último do segundo turno, o debate da Globo durou menos de uma hora (Foto: Fabio Braga/Folhapress)

São Paulo – Se não apresentou novidades, o último debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo serviu para consolidar visões. De um lado, o petista Fernando Haddad apresentou-se como o canal para a mudança e como o representante de um programa sólido de governo, em contraposição a um adversário que muda as ideias ao sabor dos ventos. De outro, José Serra (PSDB) voltou a evocar questões morais e abordou em vários momentos o julgamento da Ação Penal 470, o chamado mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Após um primeiro bloco sem questões polêmicas, a segunda parte do debate promovido pela Rede Globo teve início com o sorteio de uma pergunta sobre corrupção. Serra aproveitou para chamar atenção para o mensalão, tônica de sua campanha desde o domingo (7) em que se confirmou sua passagem ao segundo turno. 

O petista respondeu refinando um pensamento que havia apresentado em outros momentos: “Serra,mais do que eu, talvez você pudesse responder, porque isso começou em Minas Gerais com o PSDB. O mentor intelectual disto tudo foi o Eduardo Azeredo, que está sendo processado por tudo isso. Você, que foi da cúpula do PSDB… Eu não. Nunca fui filiado às instâncias partidárias (…) Não finja que não sabe do que aconteceu em Minas Gerais. Não é correto com a população”, disse. “Meu partido defende a apuração. O presidente Lula nomeou oito dos dez ministros que julgaram no STF. Nomeou o procurador. Meu partido não tem problema de ir às últimas consequências”, continuou Haddad, que voltou a lembrar o caso de Hussain Aref Saab, ex-diretor da prefeitura responsável pela liberação de grandes empreendimentos imobiliários na capital. “Um único funcionário que você nomeou na prefeitura angariou esse valor todo em imóveis apenas. Sabe Deus o que está por trás desses imóveis.”

Na réplica, Serra manteve a ideia de citar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado este mês pelo STF. Ele lembrou ainda uma condenação em simultâneo promovida pela Justiça Federal em Minas Gerais.  “Uma coisa que aconteceu em Minas Gerais até agora segura é que José Dirceu e outros dirigentes do PT foram condenados em Minas Gerais. O resto a Justiça é que vai mostrar. E se havia algo errado lá, pior ainda é quem copiou o procedimento”, justificou, voltando a levantar a questão quando perguntado sobre sua política social para a cidade, questão que não respondeu. “Em matéria de política social, queria dizer ao Fernando Haddad que a melhor política social que o PT poderia ter feito era não ter feito o mensalão.”

Solidez

Outra tecla batida pelo tucano foi a da ampliação do número de horas do Bilhete Único, de três para seis horas, e a criação de uma passagem válida pelo dia inteiro aos finais de semana. Todas as vezes em que a questão apareceu, o ex-ministro da Educação dos governos Lula e Dilma ironizou que a sugestão tenha aparecido de última hora, e indicou que se trata de uma proposta copiada de Levy Fidélix (PRTB), candidato derrotado no primeiro turno. “Meu programa foi apresentado no dia 13 de agosto. E não muda ao sabor das circunstâncias. Serra, vou construir 150 quilômetros de corredores de ônibus”, disse.

Serra aproveitou o momento para rebater a afirmação de Haddad de que Serra tirou a proposta da cartola de última hora no desespero de reverter a tendência de voto, que, segundo as pesquisas, é favorável ao petista. “Não tirei da cartola. Tirei da caixola. Porque nós estudamos. Isso foi estudado, medido, avaliamos a proposta.” O adversário rebateu: “Tirou a ideia da caixola do Levy Fidelix.”

A questão voltou a ser abordada por Haddad nas considerações finais. “(O programa) não foi remendado desde então ao sabor das pesquisa de opinião. É um programa sério para colocar São Paulo em um tempo novo. Não podemos aceitar a situação em que a cidade se encontra. Nós podemos muito mais”, afirmou, recordando ainda a saída prematura de Serra da prefeitura em 2006, pouco mais de um ano após assumir o mandato, para disputar o governo de São Paulo. “É preciso se dedicar ao longo dos quatro anos. Nada de renúncia, nada de meio expediente. Dinheiro existe no Brasil. O que falta é ideia. O que falta é projeto. É isso que falta na cidade de São Paulo. Uma visão generosa.”

Nas considerações finais, Serra mais uma vez recordou o mensalão. “Vamos perseguir todos aqueles objetivos para melhorar a condição de vida dos paulistanos. Tenho que dizer que a população leva em conta, sim, questões de honra. Este procedimento do mensalão indigna a população.”

O último debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo foi também o mais curto, com duração de menos de uma hora. Antes, Haddad e Serra haviam se encontrado na Band e no SBT. Segundo as pesquisas de intenção de voto, o petista lidera com uma vantagem que vai de 17 a 20 pontos.

Outros momentos relevantes do debate

Serra pergunta a Haddad sobre a ampliação do Programa Mãe Paulistana. A resposta do petista: “Na minha opinião, o candidato José Serra tem uma visão muito restrita da mulher. Ele vê a mulher apenas como gestante. Vejo a mulher de maneira muito mais ampla: da maternidade à terceira idade”

Serra rebate resposta na qual Haddad lamentou que o adversário diga que professores podem ser reciclados: “Você está muito nervoso. Muito agressivo. Isso não ajuda a qualidade do debate, com toda a franqueza“

Haddad responde a Serra sobre a ampliação das linhas do metrô: “O que a população sabe, Serra, é que talvez nossos netos vão conhecer essas obras de vocês. A cada ano eleitoral vocês anunciam novas linhas, e no ano seguinte às eleições vocês”

 

Leia também

Últimas notícias