Debates tensos e visita de Lula encerram campanha em Salvador

Petista Nelson Pelegrino aposta nos laços com os governos estadual e federal para garantir vitória contra ACM Neto em disputa que se mostra acirrada

Uma das armas de Pelegrino para desequilibrar a disputa é o comício realizado com Lula e Jaques Wagner esta semana (Foto: Raul Spinassé/Ag. A Tarde/Folhapress)

Salvador – A última semana da campanha para prefeito no segundo turno em Salvador foi marcada por uma série de debates tensos em emissoras de TV da capital baiana e também pela visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cidade. Ele veio reforçar a candidatura do correligionário Nelson Pelegrino (PT) e, com sua presença no cenário local, ajudou a reforçar o principal argumento do postulante ao Palácio Thomé de Souza: o alinhamento com os governos estadual e federal.

Lula participou de uma carreata no Subúrbio Ferroviário, área que costuma desequilibrar o pleito na capital, e discursou curtamente em um palco montado ao final do percurso. Lá, confirmou a estratégia que permeia toda a argumentação petista no pleito e disse que apenas Pelegrino tinha as credenciais para afirmar que faz parte de seu time e que terá todo o apoio para trazer obras, projetos e melhorias para a cidade. 

Além disso, o ex-presidente criticou a tentativa de ACM Neto (DEM) assumir a paternidade do Bolsa Família, principal bandeira social de sua passagem pela Presidência da República (2003-10). Segundo o adversário, seu avô, o falecido senador Antônio Carlos Magalhães, o ACM, criou os dispositivos que fomentaram a criação do programa. “O ‘Bolsa Família’ de ACM não foi repartido com o povo. Ficou só com uma família”, atacou Lula, que classificou a versão do político do DEM como uma “mentira sórdida” do demista e acrescentou que, em 2002, não valia a pena polemizar com Neto em relação ao episódio em que o então deputado federal prometia lhe dar uma surra. 

“Eu não vou falar mal de ninguém, mas tem um companheiro aí, que está concorrendo com o Nelson, que disse que ia me bater. Eu jamais iria brigar com ele, porque, se eu batesse nele, seria uma vergonha, e se eu apanhasse, (seria) uma vergonha e meia”, disparou. Lula foi o segundo personagem nacional a prestar apoio a Pelegrino no segundo turno. A presidenta Dilma Rousseff também esteve na cidade na semana passada em comício no bairro de Cajazeiras. Já Neto não trouxe nenhum apoio semelhante à cidade e, por isso, foi considerado pelo adversário como “isolado” politicamente.

A afirmação de apoio dos caciques petistas em nível federal alimentou a estratégia global de debates de Pelegrino na semana em que três deles foram realizados nas principais emissoras de TV da cidade. Entretanto, o que não se esperava foi o tom agressivo dos dois adversários nos encontros. Com foco nas trocas de farpas, contradições de discursos e até mesmo xingamentos em alguns momentos, Pelegrino e ACM Neto causaram surpresa nos eleitores e não chegaram propriamente a fazer debates de ideias.

No encontro da TV Band, na segunda-feira (22), foi marcante o uso da palavra “fracassado” por ambos os lados. A iniciativa foi de ACM Neto, que causou visível irritação em Pelegrino, que devolveu o xingamento por diversas oportunidades ao longo do debate. Segundo o demista, Pelegrino nunca havia sido gestor de nada e, quando esteve à frente da Secretaria de Justiça do governo estadual, viu a violência subir a  níveis recorde. Em resposta, o candidato do PT disse que ACM Neto também jamais foi gestor de nada e que, quando concorreu a prefeito na última eleição, sequer alcançou o segundo turno.

Além disto, havia uma rusga permanente sobre falta de respostas a perguntas que pouco ou nada tinham a ver com a discussão sobre os problemas da cidade. “Nelson Pelegrino, se o senhor for prefeito, como vai lidar com uma greve de professores da rede estadual? Vai cortar quatro meses de salários? Vai suspender o plano de saúde e a concessão de crédito dos servidores?”, provocava Neto. “Por que a rede municipal, cujo secretário é do seu partido, deixa as crianças com mais de 40 dias sem aula porque o órgão virou um comitê eleitoral? Responda, ACM Neto. O povo precisa e merece saber”, devolvia o petista.

O discurso de Pelegrino permeava sempre o mesmo centro: ele é o único candidato com possibilidade de estabelecer uma verdadeira parceria com os governos estadual e federal para resolver os problemas de Salvador, ao passo que o adversário, por ser de oposição, estaria isolado. Já Neto prometia que, se eleito, seria um prefeito “retado” e que se reuniria com as instâncias federais do PMDB para mediar, com ajuda desta, o diálogo necessário com a Presidência. Ele pregou também que o discurso do petista era uma “tática do medo” e desafiou Pelegrino a provar que Dilma ou Lula haviam dito que isolariam um eventual prefeito que não fosse da base petista na cidade.

A tensão continuou à toda no debate da TV Aratu realizado na quarta (24), com mais tempo sendo usado para que os adversários se criticassem mutuamente do que explicando propostas. Novamente, as acusações de “fracassado” e “mentiroso” voltaram à tona, com questionamentos cíclicos sobre as mesmas perguntas sem resposta clara. A novidade deste debate foi a inclusão das candidatas a vice-prefeita das duas chapas, a vereadora Olívia Santana (PT-Pelegrino) e a professora Célia Sacramento (PV-Neto), no encontro. 

Ambas tiveram direito a uma pergunta cada e, enquanto Olívia perguntou como uma mulher negra poderia participar de uma chapa com um partido contrário às cotas sociais e que seria “o mais corrupto do Brasil”, Célia declarou que a participação da própria Olívia no pleito se dava à indicação original da docente à posição de vice e também devolveu questionamento perguntando sobre o episódio do mensalão. Irritada, a vereadora disse que devia a indicação à sua história política e lembrou que o PV teve um episódio de corrupção sério no Rio Grande do Norte este ano.

O último debate da série, realizado pela TV Bahia na noite de ontem (26), teve um recuo das acusações e demonstrações de agressividade. O formato do debate, com uma série de perguntas sugerindo temas específicos, também ajudou a abrandar o clima predominante nos encontros anteriores. Assim, a audiência acabou considerando o evento monótono, mas houve também momentos de tensão, como no bloco de perguntas livres entre os candidatos.

Em determinado momento, ACM Neto perguntou se Pelegrino era de fato o coordenador de Segurança Pública de Jaques Wagner e, portanto, responsável pela crescente escalada de crime e assassinatos no estado. A resposta veio agressiva. “Todo mundo sabe quem é fracassado. Todo mundo sabe que fui secretário de Justiça muito bem avaliado”, disse o petista. Por sua vez, o candidato acusou o adversário de copiar suas propostas de governo para a mobilidade urbana e foi respondido também de maneira ríspida. “Não copiei nada. Apresentei plano de governo em agosto; já estava prevista a construção de viadutos, que custarão R$ 350 milhões.”

Mesmo com o final da campanha nos meios de comunicação, a mobilização continua dos dois lados. Para este sábado, Nelson Pelegrino programou uma caminhada no bairro popular de Cajazeiras, enquanto ACM Neto faz uma carreata por diversos bairros da cidade. A palavra de ordem, segundo os dois concorrentes, é manter a militância ativa até o último minuto, convencendo os indecisos e debatendo as propostas de ambos.

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