Com segundo turno indefinido, estrutura partidária pode fazer a diferença em SP

Especialista da Escola de Sociologia e Política vê maior crescimento de Gabriel Chalita e Fernando Haddad na reta final da campanha; PT desconfia de resultados do Datafolha

Mobilização partidária pode favorecer Serra, Haddad e Chalita contra Russomanno, diz especialista (Foto: Rodrigo Dionisio/Frame/Folhapress)

São Paulo – “Do ponto de vista político, partido é igual família: está lá para segurar as pontas na hora do vamos ver”, compara a professora Jacqueline Quaresemin, da Escola de Sociologia e Política (ESP) de São Paulo. É assim que esta especialista em opinião pública e pesquisa eleitoral projeta as últimas 48 horas e analisa os últimos números colhidos pelas sondagens do Ibope e Datafolha na corrida pela prefeitura da capital, que apontam queda do candidato do PRB, Celso Russomanno. Os levantamentos foram divulgados na terça (2) e quarta (3), respectivamente.

“Russomanno entrou com maior determinação nas eleições, isso o impulsionou e ele começou a aparecer mais nas pesquisas”, lembra Jacqueline, ressalvando que o apresentador de tevê convertido em político concorre sozinho com três pesos pesados da política nacional. “Estamos falando de siglas grandes e fortes: PSDB, PT e PMDB, que passaram a ocupar as ruas, fazer bandeiradas e panfletagem. Na reta final o que conta é isso, é a capilaridade dos partidos.”

A professora explica que, ao assumir a liderança isolada na disputa logo no começo da campanha, o candidato do PRB passou a ser o alvo natural de seus dois principais concorrentes: o tucano José Serra e o petista Fernando Haddad. “Na última semana, o debate ficou mais acirrado e a cobrança sobre os candidatos aumentou”, pontua. “Todos começaram a bater em quem estava na frente, porque é de onde podem tirar mais votos. É normal que o primeiro colocado caia.”

A força dos partidos às vésperas do pleito se reflete tanto nas figuras públicas – governantes e ex-governantes bem avaliados, que podem transferir votos a seus candidatos – como na militância que vai às ruas com a missão de convencer os indecisos. Nos diversos comícios em que participou ao lado de Fernando Haddad, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu insistentemente aos eleitores do PT que tentassem arrancar votos para o ex-ministro da educação em todos os lugares por onde passassem.

O PSDB não ficou atrás e colocou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para apoiar os programas televisivos de José Serra. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ambos os partidos organizaram hoje (5) uma espécie de “blitz” nos bairros da periferia paulistana para aumentar os ataques contra Celso Russomanno na esperança de repartir seu butim de eleitores. O alvo da vez é sua proposta de implementar, se for prefeito, o Bilhete Único proporcional, cobrando passagem mais barata de quem cumprir trajetos menores nos ônibus municipais.

Metodologias

Se as últimas pesquisas do Ibope e Datafolha coincidiram ao apontar queda nas intenções de voto a Celso Russomanno, divergiram ao detectar os números atribuídos a José Serra na corrida para a prefeitura de São Paulo. Ambos colocam o tucano em segundo lugar, mas, enquanto o Ibope divulgado na terça lhe dá 19% das intenções de voto, o Datafolha da quarta-feira (3) lhe atribui 23% – causando rebuliço ao apontar empate técnico entre José Serra e Celso Russomanno, com 25%, na reta final da campanha.

Jacqueline vê os resultados com cautela, pois as pesquisas, apesar de terem se mostrado historicamente confiáveis, trazem uma margens de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Assim, o suposto empate entre Serra e Russomanno poderia significar também uma vantagem de oito pontos para o candidato do PRB sobre o tucano. “As pesquisas podem ser defendidas do ponto de vista estatístico e metodológico. O problema é o uso que se faz dessa informação”, afirma. “A forma como se divulga dados é sempre uma decisão editorial dos meios de comunicação.”

Apesar de utilizarem metodologias diferentes para medir a intenção de voto, a professora da ESP avalia que tanto Datafolha como Ibope costumam produzir resultados confiáveis. Enquanto o Ibope busca informações na casa dos eleitores, o Datafolha prefere escolher locais na cidade de São Paulo com grande fluxo de pessoas para aplicar seus questionários. Ambas, porém, definem suas amostragens a partir das chamadas “cotas estratificadas”, ou seja, levam em consideração a realidade demográfica do município – sexo, idade, religião, nível de instrução e bairro – na hora de escolher seus entrevistados.

Contudo, a professora destaca uma pequena diferença entre os institutos: “O Datafolha tem sido mais preciso em São Paulo”, entende, ressaltando que a pesquisa deve ser vista apenas como um indicador – e que, como tal, pode eventualmente estar equivocada. “O maior patrimônio de um instituto de pesquisa é a credibilidade. E os institutos trabalham com dados muito elaborados.”

Desconfianças

Nem todos os partidos estão confiando nas medições divulgadas pela imprensa. Procurada pela RBA, a assessoria de imprensa do PSDB afirmou que não comentaria o resultado das pesquisas. A coordenação de campanha de Celso Russomanno tampouco respondeu às solicitações da reportagem. O PT, por sua vez, disse que “existe alguma coisa esquisita” nos números obtidos pelo Ibope e, principalmente, pelo Datafolha.

“Há várias semanas todas as pesquisas internas – não só nossas, mas de outros partidos, como PSB, PMDB e outras que tivemos conhecimento – apontam dados diferentes”, argumentou o vereador petista Chico Macena, membro da coordenação de campanha de Fernando Haddad. “Não sei se é uma questão de metodologia apenas, mas a segurança que nós temos é que o Haddad vai para o segundo turno. Estamos numa curva de crescimento muito grande, sobretudo na periferia.” De acordo com o parlamentar, o PT trabalha com a expectativa de que seu candidato alcançará a marca de 27% dos votos nas eleições do próximo domingo. 

Jacqueline não arrisca qualquer palpite, mas, a partir das pesquisas realizadas até agora, desenha um cenário que pode ser confirmado pelas urnas. “Haddad é o único que está crescendo desde lá detrás, mas nas últimas semanas quem cresceu mais foi Gabriel Chalita, do PMDB. Quanto ao Serra, acredito que esteja estável”, vislumbra. “O último resultado do Datafolha terá de ser confirmado com as outras pesquisas que virão.” Os dois principais institutos do país divulgarão amanhã (6), por encomenda da Rede Globo, suas derradeiras sondagens antes do primeiro turno.

Colaborou Gisele Brito

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