Com queda de Russomanno, São Paulo pode voltar a ter embate PT-PSDB

Há uma semana, José Serra e Fernando Haddad decidiam quem iria ao segundo turno contra o candidato do PRB; Em 2008, petista Marta Suplicy enfrentou Gilberto Kassab, então no DEM

São Paulo – A forte queda do líder nas pesquisas em São Paulo, Celso Russomanno (PRB), traz à tona a possibilidade de que o embate nacional entre PT e PSDB volte a ser realizado na maior capital do país. Principais adversários no plano nacional desde 1994, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), petistas e tucanos não se encontram na rodada decisiva na cidade desde 2004, quando Marta Suplicy e José Serra se enfrentaram, com vitória do tucano.

Oito anos mais velho, o ex-prefeito tem pela frente, caso Russomanno fique de fora, um quadro novo do PT, que nunca disputou eleições e que figura com uma taxa de rejeição que gira em torno da metade da sua. Fernando Haddad é ex-ministro da Educação de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, dois dos nomes nos quais apostou na caminhada para tentar crescer e chegar ao embate final e dois políticos que sabem como bater Serra – Lula venceu o tucano em 2002 e Dilma em 2010. 

No primeiro turno, os dois se depararam com o surpreendente Russomanno, que evitou, até aqui, a polarização esperada desde a definição dos nomes que se lançariam ao pleito. A boa votação na periferia e entre o eleitorado evangélico garantiu ao candidato do PRB o primeiro lugar nas pesquisas de intenções de voto durante boa parte do primeiro turno. De 18 de setembro para cá, segundo o Datafolha, sofreu uma queda de dez pontos, tão rápida e surpreendente quanto sua liderança, justamente em um momento em que PT e PSDB já admitiam duelar pela vaga restante no segundo turno. 

“É um quadro inédito na cidade de São Paulo, é um quadro em que três disputam duas vagas, não tenho lembrança de ter acontecido isso. Temos eleições diretas desde 1985 e não tenho nenhuma lembrança como essa”, disse hoje (6) Haddad durante visita ao estádio do Itaquerão, do Corinthians, na zona leste da cidade, de acordo com o portal G1.

Situação inédita a ponto de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com cinco eleições presidenciais nas costas, afirmar que é a disputa mais complicada que já viu. “Há um embolamento. Eu não tenho como adivinhar, mas estou convencido que vai ganhar, certamente, o melhor, o mais inteligente”, afirmou na sexta-feira (5) durante caminhada ao lado de Haddad.

Clima esquentando

Nos encontros públicos, Haddad e Serra alternaram entre momentos absolutamente frios e um começo de acirramento. Em um dos principais até aqui, o petista questionou o tucano sobre haver afirmado que Dilma, ao opinar sobre a eleição, estava “metendo o bico” em São Paulo ao nomear Marta Suplicy para o Ministério da Cultura supostamente em troca de um engajamento maior da ex-prefeita na atual campanha. “Às vezes você é deselegante até com pessoas do seu próprio partido, isso não agrega”, disse Haddad. 

Durante todo o primeiro turno, de um lado o petista explorou a alta rejeição do tucano, provocada pelo abandono da prefeitura em 2006 para se candidatar ao governo do estado e pela derrota na disputa pelo Planalto em 2010. Do outro lado, Serra tentou conectar Haddad ao julgamento do mensalão, agendado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para o mês eleitoral, com a avaliação do caso do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a apenas três dias da ida às urnas. 

Na reta final, a campanha do PSDB teria distribuído milhões de panfletos abordando a questão. “Desde o início a presidenta Dilma me alertava para me preparar para o pior em relação do PSDB, sobretudo ao Serra”, manifestou hoje Haddad. “É o estilo de campanha, tem muito a ver com a personalidade dele, com o estilo de política, ele trata os adversários como inimigos.”

Outros encontros

Se o embate em São Paulo é até agora apenas uma das possibilidades, em outras capitais ele é certo. Em João Pessoa, entre Cícero Lucena (PSDB) e Luciano Cartaxo (PT). Em Rio Branco, ainda não se sabe se Marcus Alexandre (PT) vence no primeiro turno ou se terá de enfrentar Tião Bocalom (PSDB).

Há também importantes encontros por meio de partidos aliados. A começar por Manaus, onde Vanessa Grazziotin (PCdoB) deve enfrentar Artur Neto, outrora Arthur Virgílio (PSDB), no segundo turno. Grazziotin, que venceu o tucano em 2010 na disputa pelo Senado, ganhou força nas últimas semanas e empatou a disputa. Trata-se de uma capital importante para Lula, que teve no ex-senador um dos principais opositores, a ponto de o parlamentar afirmar em plenário que gostaria de “dar uma surra” no petista. 

Situação parecida é vista em Salvador, onde o PSDB apoia ACM Neto (DEM) e se esforça para vencer a disputa contra o petista Nelson Pelegrino e evitar que o governo estadual e a capital fiquem sob o comando do PT.

O clima de confrontação entre as duas legendas fica claro, inclusive, no discurso das lideranças partidárias. Presidente do PSDB, o deputado Sérgio Guerra (PE), fala em “fadiga crescente com o status quo” e aposta nos “setores que não dependem da bolsa familiar ou dos sindicatos e burocracia petistas” para obter resultado expressivo. “No mínimo em cinco capitais vamos chegar no segundo turno. Nos eleitorados superiores a 200 mil eleitores, estamos crescendo e PT está diminuindo”, avaliou Guerra à Reuters.

Do lado petista, o tom de alta tensão com os principais adversários se mantém. “O objetivo do PT não é que só o PT vença. Nós queremos vencer e queremos derrotar o projeto neoliberal do PSDB e dos Democratas. Aquela oposição que não se conforma de ver trabalhadores governando, com essa visão popular. E também que nossos aliados vençam”, disse o deputado federal André Vargas (PT-PR), secretário de Comunicação do PT, em entrevista recente ao site da legenda.

O PSDB tem chances de vencer no domingo ou ir para o segundo turno em pelo menos 10 capitais. O PT tem chances em 9.

Leia também

Últimas notícias