Eleitor tende a caminhar para o centro, avalia diretor do Sensus

Para Ricardo Guedes, crescimento econômico e consenso político tornam o cenário eleitoral pouco favorável a propostas consideradas extremistas

Guedes: Política de segurança pública garantiu reeleição fácil para Eduardo Paes no Rio de Janeiro (Marcello Casal Jr/ ABr)

São Paulo – Com a estabilidade econômica do país e o consenso na forma de conduzir a política monetária nacional, a tendência centrista do eleitorado brasileiro tende a se acentuar ainda mais. É o que afirma o diretor do instituto de pesquisa Sensus, Ricardo Guedes, a partir dos resultados das eleições municipais realizadas ontem (7) em todo país.

O quadro explicaria, por exemplo, o crescimento de 40% do PSB em total de prefeituras no país – de 310 para 436 municípios. “Essas tendências mais centristas são emergentes à medida que o Brasil vai se desenvolvendo economicamente. Hoje não há mais grandes dúvidas sobre a maneira macroeconômica de se conduzir o país, o que era uma questão há 10 ou 20 anos e levou vários nomes, como direita e esquerda.”

“É uma espécie de um não ao radicalismo”, afirma. “Vamos ter uma tendência de rotatividade onde os extremos ficam menos atrativos para o eleitor do que as porções mais centrais. A Dilma já está no centro. Ela tem mantido uma relação macroeconômica saudável para o país, que está capitalizado, cresce economicamente e aumenta suas reservas cambiais.”

Essa tendência explica, por exemplo, a liderança do candidato do PRB à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, durante a maior parte do período eleitoral. Para o especialista, o crescimento do candidato se deve ao desgaste do governo do atual prefeito Gilberto Kassab (PSD), aliado do candidato José Serra (PSDB), e a existência de uma oposição que até então não tinha sido legitimada pelo eleitor, representada por Fernando Haddad (PT). 

“Quando isso ocorre, está aberto o campo para o desenvolvimento de uma terceira via, que foi o que aconteceu com o Russomanno”, avalia. “Ele chegou por volta de 35% ou 39% [das intenções de voto] e aí começou um processo de desconstrução muito forte em cima dele, o que paulatinamente aumenta sua rejeição.”

A exemplo das eleições de ontem, Guedes espera que o segundo turno seja acirrado. “A eleição vai ser decidida nos últimos cinco dias. É imprevisível”, afirmou. “O paulistano fez a escolha por aquilo que ele considera mais conhecido ou mais seguro. Por um lado você tem o Serra, que foi prefeito e governador, e por outro tem o Fernando Haddad, que representa o PT, do Lula e da Dilma. Agora vai depender muito de campanha”. 

Rio e Belo Horizonte

O principal fator responsável pela reeleição de Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro, com 64,6% dos votos, foi sua política de segurança pública, avalia Ricardo Guedes. “Foi esse ponto que fez a eleição fácil. O combate ao crime organizado e a pacificação de áreas residenciais, em um trabalho conjunto com Sérgio Cabral [governador do estado pelo PMDB] e Dilma Rousseff, facilitaram muito sua eleição”. 

Ele acredita também que o prefeito reeleito aproveitará bem as oportunidades das Olimpíadas e da Copa do Mundo “devido [ao atual] encaixe que existe entre prefeitura, governo estadual e governo federal. Isso porque o Rio é uma cidade que sempre sofreu com um desencaixe entre os três níveis de governo”.

Em Belo Horizonte, Guedes não acredita que o prefeito reeleito Marcio Lacerda (PSB) retome sua aliança com o PT, que elegeu o candidato em 2008 e foi rompida do começo da campanha eleitoral. “Foi efetivamente uma ruptura. A aliança foi feita em um momento de interesse ao PT e PSDB nacional. Ela surgiu por certa proximidade de algumas lideranças, perdurou por quatro anos, e se rompeu, o que é o natural por se tratar de propostas diferentes.”

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