Apoiado pelo PT, PSOL de Belém enfrenta tucano e ala do próprio partido

Corrente interna vê com 'profunda perplexidade' apoio de Lula e Dilma e se retira da campanha de Edmilson Rodrigues no segundo turno

Edmilson (ao centro) destacou que os apoios são importantes e não estão condicionados a possíveis cargos (Foto: Antonio Cicero/Fotoarena/Folhapress)

Rio de Janeiro – Criado há oito anos com origem em uma dissidência do PT, o PSOL enfrenta hoje turbulências internas por causa do apoio que o candidato do partido à prefeitura de Belém, Edmilson Rodrigues, recebeu nos últimos dias das principais lideranças petistas no país: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff. A aproximação provocou manifestação contrária de uma das correntes do partido – a CST, liderada pelo ex-deputado paraense, hoje radicado no Rio, João Batista de Araújo, o Babá – e também o rompimento do até então aliado PSTU. Babá foi candidato a vereador neste ano e não se elegeu.

O adversário de Edmilson no segundo turno é o tucano Zenaldo Coutinho, que, além da estrutura do forte PSDB paraense (liderado pelo governador Simão Jatene), tem ao seu lado o atual prefeito Duciomar Costa (PTB). Por esse motivo, Edmilson reforça a importância dos apoios para que o PSOL obtenha a vitória no segundo turno, já que as últimas pesquisas mostram uma desvantagem de dez pontos percentuais (55% a 45%). 

“Conquistamos apoios importantes, especialmente do PT. Mas também vieram PPL, PDT e PTN, além de lideranças sociais e religiosas. Numa disputa de segundo turno, nossa tarefa é conseguir aliados programáticos e eventuais, neutralizar possíveis apoios ao adversário e desvelar apoios incômodos que ele tenta ocultar, caso do prefeito Duciomar. É isso o que temos feito todos os dias”, diz.

Sem criticar diretamente nenhuma corrente do partido, Edmilson lamenta a falta de compreensão em relação aos apoios recebidos em Belém e à importância que terá uma vitória na cidade para o PSOL em nível nacional: “Sou profundamente grato a todos os partidos e pessoas que se somaram à Frente Belém Nas Mãos do Povo neste segundo turno. Nenhum partido condicionou o apoio à presença no governo. E o PT fez questão de deixar isso claro”, diz.

O candidato do PSOL alega satisfação com a aliança firmada com o PT, mas diz não acreditar que a experiência paraense signifique um marco na aproximação entre os dois partidos: “Fico muito alegre de ver o trabalho conjunto da militância do PSOL com os petistas, mas isso não quer dizer que nossas diferenças tenham acabado. Não acho que essa aliança represente um novo embrião de alianças [em nível nacional], mas certamente é um aprendizado imenso de como somar forças contra inimigos comuns”.

Ex-militante do PT, partido pelo qual foi prefeito de Belém por oito anos, Edmilson saúda o apoio recebido da presidenta Dilma que, assim como Lula, gravou mensagens para a propaganda eleitoral do PSOL no rádio e na tevê: 

“Como militante, manterei minhas críticas programáticas ao governo do PT. Mas como gestor manterei estreito contato com o governo federal. Minha responsabilidade será, ao mesmo tempo, governar de forma inovadora e participativa e solucionar os graves problemas sociais de minha querida cidade. O apoio do governo federal é decisivo, especialmente nas áreas de saúde e saneamento básico”, afirma.

A primeira vez

Edmilson está animado com as chances de ser o primeiro membro do partido a chegar à prefeitura de uma capital: “Será uma honra, mas principalmente uma enorme responsabilidade política. Sei que minha eleição depende do conceito que o povo tem do meu governo anterior, mas também represento o novo na política, a renovação das práticas políticas em nosso país”, diz.

O candidato do PSOL diz que “continuidade e mudança ao mesmo tempo” marcarão seu terceiro mandato como prefeito, se sair vitorioso das urnas no domingo (28): “Continuidade da tradição de participação popular e inversão de prioridades que tínhamos naquela época. E inovação porque representará novas formas de interagir com a população e um alento de esperança para todos que querem ver governos de esquerda honestos, participativos e que diminuam as desigualdades sociais”, diz.

Edmilson ressalta ainda o processo de amadurecimento pelo qual passaria o PSOL em caso de vitória em Belém: “Para o nosso partido, será um intenso e desafiante aprendizado. Ser governo, interagir com todas as forças sociais de uma cidade, entabular relação com o governo federal e, essencialmente, ter a possibilidade de mudar a vida dos excluídos”.

Fora da campanha

Em nota assinada por 16 dirigentes da corrente, incluindo quatro integrantes da Executiva Nacional do PSOL, a CST anuncia que “se retira da campanha e chama voto crítico em Edmilson”. O apoio de Lula parece ter sido particularmente mal digerido pelo grupo: “Com a definição de Lula de gravar programas de tevê para Edmilson todos os limites foram ultrapassados. Assim, levam nosso partido para a vala comum da base aliada do governo Dilma/Temer e da ordem estabelecida, cujo maior representante é Lula”, diz o documento.

A CST alega que o PT estaria usando o PSOL em Belém: “É com profunda perplexidade e indignação que assistimos a declaração de Lula, usando o tempo de tevê do PSOL para iludir os trabalhadores e o povo pobre ao mesmo tempo em que usa nosso partido para tentar respaldar pela esquerda o seu projeto político nacional. É a primeira vez que Lula apoia um candidato do PSOL. É a primeira vez que o governo federal, o governo Dilma, apoia nosso partido. Lula é a figura que simboliza a conversão do PT em um instrumento da ordem e da classe dominante. Traição que deu origem ao PSOL, pela sua capitulação ao FMI e à política econômica de [Henrique] Meirelles e [Antonio] Palocci”.

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