Analistas se dividem sobre renovação do PT em São Paulo com vitória de Haddad

São Paulo – Quando o processo de disputa interna no Partido dos Trabalhadores pela indicação chegou ao fim e, em 2 de junho de 2012, um sábado, o ex-presidente Luiz […]

São Paulo – Quando o processo de disputa interna no Partido dos Trabalhadores pela indicação chegou ao fim e, em 2 de junho de 2012, um sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do lançamento do nome do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, para a disputa da prefeitura de São Paulo, as desconfianças eram muitas.

Como ocorreu no processo que desencadeou na indicação de Dilma Rousseff em 2010, analistas avaliavam que Haddad seria um candidato insosso – “um poste”, nas visões mais mordazes. Algumas delas consideravam que a democracia interna do partido estaria sendo atropelada pela vontade de Lula em renovar os quadros do partido, ao prescindir das prévias e contra a vontade de setores que preferiam o nome da então senadora Marta Suplicy, agora ministra da Cultura. 

Saído de um índice de intenção de votos de 3%, Fernando Haddad entrou na última semana do segundo turno com cerca de 60% a 40% contra o adversário José Serra, com poucas variações entre Ibope e Datafolha. Considerado autoritário por ter interferido no processo pela indicação de “um poste”, Lula, no fim da campanha, mais uma vez é ungido com o epíteto de “gênio político”. 

Fernando Haddad, enfim, representa uma renovação dos quadros do PT ou sua provável eleição é fruto de um fenômeno circunstancial formado por fatores como a rejeição a Serra e a seu aliado, o prefeito Gilberto Kassab? 

“Haddad se projeta como uma nova liderança. Porém, isso não se deve só à eleição, mas principalmente a uma renovação geracional do partido, também provocada pela influência do ‘mensalão’’’, diz o cientista político Lincoln Secco, professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O bom desempenho do petista se deve também, segundo ele, ao fato de o ex-ministro da Educação ser menos conhecido e, portanto, ter menos rejeição.

Para o cientista político Francisco Fonseca, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o fato de o nome de Haddad ter sido escolhido num processo que prescindiu das prévias, as quais, segundo ele, dariam o caráter democrático à escolha, faz com que a renovação tenha se dado de maneira não orgânica, “mais indireta do que direta”.  “Você tem na cidade de São Paulo, a principal seção nacional do partido, um [candidato a] prefeito que não é organicamente partidário. Por este ângulo não se pode dizer que é uma renovação, por não ser fruto de uma renovação por meio de prévias”, avalia Fonseca.

De acordo com Fonseca, porém, a renovação existe, embora não “organicamente”, até por ter “derrotado” lideranças mais tradicionais do PT. Para ele, ainda é cedo para falar em consolidação desse processo de renovação. “A dimensão da mudança vai depender do governo Haddad. A composição de seu secretariado vai ser outro termômetro”, analisa.

Social democracia e esquerda

Já para Lincoln Secco, da USP, a renovação é indiscutível. Ele afirma não achar “decisivo que para a renovação haja prévias”. O que ocorre, segundo sua visão, é que “o PT mais basista dos anos 80 foi substituído por uma máquina partidária. É um processo histórico que acaba acontecendo com todos os partidos de esquerda que crescem e precisam conquistar as classes médias para ganhar eleições. Eles tendem a caminhar para o centro, como os partidos da Europa que caminharam para a social-democracia”. 

Segundo o professor da USP, essa observação não descaracteriza o PT e sua história. “O PT continua de esquerda. É preciso entender que ser de esquerda ou de direita é um conceito relacional. No caso do PT, não há um partido à esquerda dele no cenário político-eleitoral brasileiro hoje”, acredita. E o PSOL? Secco diz que o PSOL “pode vir a ser esquerda do PT se conseguir ter uma votação em eleições presidenciais, repetidamente, de cerca de 10%”. 

E, afinal, Lula, por circunstâncias particulares desta eleição ou não, como com Dilma, acertou com Haddad. Para Lincoln Secco, “Lula teve sagacidade ao escolher o candidato, porque a Marta é conhecida e tem rejeição”. Francisco Fonseca acredita no caráter diferenciado da persona Lula. “Sem dúvida, Lula é um gênio político”, avalia. Porém, ressalva: “Não existe gênio sem liderados, sem instituição. A genialidade precisa ser contextualizada”.

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