Crônica do terceiro lugar: ‘acabou a eleição, acabou a amizade’

Se o segundo turno 'zera tudo', Celso Russomanno (PRB) não tardará a encontrar novos companheiros nas hostes que apoiarão Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) no duelo de 28 de outubro

São Paulo – O primeiro carro passou gritando “Serraaaaaaaaa!” Ainda era cedo para festas ou lamentos, a apuração apenas começava, mas a Rede Globo já havia divulgado para todo o país os resultados da boca de urna realizada pelo Ibope em São Paulo. Era surpreendente, comentou William Bonner: depois de liderar isolado praticamente todas as pesquisas de intenção de voto, desde o começo da campanha, Celso Russomanno estaria fora do segundo turno.

Por isso, o escritório político do candidato do PRB à Prefeitura estava começando a ser alvo da alegria alheia motorizada. Não demoraria para que outro veículo passasse ofendendo o político no melhor estilo futebolístico – e bem na hora em que Russomanno reconhecia, em frente às câmeras, sua amarga derrota. Poucos minutos depois, mais um automóvel cantaria pneus na rua em frente: “Haddad, Haddad”. Irritados, dessa vez os funcionários da campanha estavam a postos e retribuíram a gentileza com um chute certeiro na lataria. Pelo menos ali, felicidade tinha limites.

O climão que tomou conta da trupe russomannística – que até então não economizava sorriso e simpatia – pôde ser resumido no desabafo de um segurança. “Ferrou”, disse baixinho a alguns jornalistas que esperavam o candidato do PRB para saber por que caíra tanto nas pesquisas, por que perdera o favoritismo e, uma vez que estava fora da disputa, quem apoiaria agora. Quando chegou a hora de falar, o homem que quase foi para o segundo turno trouxe um quase sorriso no rosto – e, à tiracolo, seus homens mais fortes: o vice na chapa, Luiz Flávio Borges D’Urso; Marcos Pereira, presidente nacional do PRB; e Campos Machado, deputado estadual e presidente do PTB, principal aliado na coligação.

Habilidoso como de costume, o agora ex-candidato esquivou-se de todas as perguntas que poderiam comprometê-lo. Todos queriam saber se a coligação que juntou PRB e PTB na capital iria apoiar, unida, um dos candidatos que disputarão o segundo turno: Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB). “Vamos decidir amanhã”, disseram, sinalizando com um pronunciamento nesta segunda-feira (8). Não será uma escolha fácil. Ambos partidos fazem parte da base aliada do governo Dilma Rousseff (PT) e apoiam a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.

No fim, a saída de Russomanno quase acabou em agressão: o ex-candidato deixou o local rodeado por seguranças. Um deles não gostou do assédio da reportagem e quase expressou com os punhos o tamanho de seu desconforto. Pouco antes, funcionários do comitê tentaram retirar todos os profissionais da sala de imprensa improvisada na garagem – que tinha internet, mas não tinha luz. O despejo foi barrado por um bravo ato de resistência coletiva. “Acabou a eleição, acabou a amizade”, disse um repórter. Outras deverão surgir ao longo da semana.

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