Revisor liga ‘conexão Lisboa’ a Daniel Dantas e ‘mensalões anteriores’

Na sessão de ontem do STF, Ricardo Lewandowski disse que viagem de Marcos Valério a Portugal estava ligada a esquema tucano em Minas Gerais

O ministro revisor da Ação Penal 470, Ricardo Lewandowski que alertou para ‘outro esquema’ anterior ao caso envolvendo o PT (Nelson Jr/Ag. STF)

São Paulo – Ricardo Lewandowski, ministro revisor do “mensalão”, afirmou ontem (27) que a viagem do réu do PTB Emerson Palmieri a Portugal, realizada em 2005 e citada no atual julgamento no STF, está ligada “a outro esquema” a envolver o Banco Opportunity e Daniel Dantas e que abasteceu “outros mensalões anteriores, em outras unidades da federação”.

A declaração ocorreu enquanto a ministra Carmen Lúcia finalizava seu voto explicando por que o réu havia ido ao país europeu ao lado dos acusados Marcos Valério e Rogério Tolentino. Segundo a magistrada, Palmieri – então secretário do PTB – foi escalado por Roberto Jefferson para confirmar a realização de um encontro de Valério com o presidente da Portugal Telecom. Do encontro, segundo a acusação, poderiam surgir 16 milhões de reais ao partido, que completariam os 20 milhões do acordo com PT.

Lewandowski pediu para falar sobre a “gravidade” da viagem. “Essa viagem, a qual se dá uma importância muito grande, está relacionada à outra questão, a outro esquema que precede este que estamos analisando agora. Envolve o Banco Opportunity e Daniel Dantas, e abasteceu outros mensalões anteriores, em outras unidades da federação”. Era uma referência ao chamando “mensalão mineiro” na campanha para o governo de Minas Gerais em 1998, que ainda não foi julgado.

Um dia antes, Joaquim Barbosa havia citado a viagem em seu relatório ao listar as acusações sobre Jefferson. Na ocasião, disse ter ficado comprovada a realização de uma viagem “para negociações junto à Portugal Telecom, no período em que representantes da empresa estiveram no Brasil para reunião com os acusados José Dirceu e Macos Valério na Casa Civil”. O relator lembrou que, segundo Jefferson, foi o ex-ministro da Casa Civil quem lhe pediu para mandar um representante do PTB a Portugal, juntamente com um enviado do PT (que seria Marcos Valério).

Barbosa, em seu relatório, lembrou que em um encontro ocorrido no início de janeiro de 2005, o então ministro afirmou que havia recebido também, juntamente com o presidente Lula, um grupo português com o Banco Espírito Santo, que estaria em negociações com o governo brasileiro, mas que não soube dizer quais seriam essas negociações.

O Banco Espírito Santo era um dos principais acionistas da companhia telefônica e tinha outros interesses no Brasil.

A revelação dos contatos de Marcos Valério com a Portugal Telecom deixou clara, conforme relevou CartaCapital em 2005, a participação do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, na gênese da crise. Dantas tinha interesse em vender a Telemig Celular aos portugueses para, com isso, fazer caixa e comprar a parte do Citi no controle da Brasil Telecom.

O Opportunity e a Portugal Telecom chegaram a assinar uma carta de intenção, após meses de exaustiva negociação, mas a venda não foi concluída.

Soube-se em 2005 que Valério intermediou contatos de integrantes da cúpula do PT com executivos do Opportunity. Há registros de encontros de Delúbio Soares, tesoureiro do partido, com Carlos Rodenburg, sócio de Dantas, intermediado pelo publicitário.

Em janeiro daquele ano, o Opportunity ainda não havia desistido de vender a Telemig Celular. As divergências com o Citi aumentavam. E foi nesse ambiente que Valério viaja a Lisboa.

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