Dilma critica países ricos por medidas que levam recessão para todo o mundo

Em discurso na abertura da 67ª Assembleia Geral da ONU, presidenta também cobra fim do embargo a Cuba e defende paz no Oriente Médio

Dilma afirmou que a crise não será resolvida com política monetária, mas sim reduzindo o desemprego (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – Em seu discuso na abertura da 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), hoje (25) em Nova York, a presidenta Dilma Rousseff criticou a fórmula dos países ricos para combater os efeitos da crise econômica internacional. Segundo ela, as medidas adotadas nestes países – injetando moeda nova, aumentando impostos e reduzindo investimentos, em vez de estimular o crescimento da produção o emprego – espalha a recessão para o mundo todo.

“A política monetária não pode ser a única resposta para resolver o desemprego que aflige estas populações. Os Bancos Centrais dos países desenvolvidos estão insistindo em uma política monetária expansiva, o que agrava  o quadro de recessão ao redor do mundo”, disse a presidenta.

Segundo Dilma, as políticas expansionistas adotadas por estes países fazem com que o Brasil adote medidas de defesa de sua economia e de seu comércio, sendo acusado de protecionista. “A dívida econômica não será sanada em um quadro de recessão. É necessário que se faça um pacto de crescimento global, reduzindo o desemprego e a desesperança dos países hoje em crise”, disse.

Ela lembrou que no Brasil, mesmo afetado pela crise mundial, a política econômica retirou 40 milhões de brasileiros da pobreza, aumentou o consumo, manteve o desemprego em patamares elevados e elevou a renda do trabalhador. “A austeridade exagerada derrota a si mesma. Há momentos em que não podemos escolher entre um ou outro, mas encontrar um equilíbrio entre dois”, disse.

Oriente Médio

Ao longo do discurso, Dilma também se posicionou sobre os problemas no Oriente Médio. Ela lembrou que a região e o norte da África passam por momento decisivo, em que os movimentos sociais se levantam contra os regimes autoritários, o que, segundo ela, é também um grito de revolta contra a pobreza. “Percebe-se que há interesses econômicos por traz daquelas políticas autoritárias”, disse.

“O Brasil é contra a violência e este drama humanitário de grandes proporções que abate a Síria e seus vizinhos. As maiores vítimas são as mulheres, as crianças e os idosos. Não há solução militar  para a crise síria, a diplomacia é a única opção”, disse a presidenta. Ela também afirmou repudiar veementemente o preconceito islamofóbico, bem como os atos de terrorismo como o que mataram o embaixador americano na Líbia.

A presidenta aproveitou para cobrar reformas no Conselho de Segurança da ONU, dizendo ser inaceitável que o uso da violência à revelia da ONU ainda seja aceito como uma opção aceitável por estas nações participantes. “Não, não é uma opção aceitável”, disse.

Rio+20, Cuba e Olimpíadas

A presidenta citou ainda o documento multilateral aprovado em junho durante a Rio+20, dizendo que é necessário colocar em prática uma agenda de desenvolvimento sustentável baseada nos compromissos firmados naquela ocasião.  

Dilma fez um apelo pelo fim do embargo econômico a Cuba. Segundo ela, o país avança na atualização de um modelo econômico e necessita do apoio das outras nações, mas que o embargo econômico provocado pela maioria dos países membros das Nações Unidas tem sido prejudicial.

E terminou falando sobre as Olimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro. Segundo a presidenta, a cada quatro anos a humanidade desperta para valores de igualdade e de respeito às diferenças. E propôs que os presentes à conferência  se deixassem iluminar por estes ideais. 

Primeira mulher

A presidenta chegou anteontem (23), de manhã, aos EUA acompanhada da filha Paula e dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Aloizio Mercadante (Educação) e Helena Chagas (Comunicação Social). Dilma se dedicou a finalizar o texto para o discurso de hoje.

No ano passado, Dilma foi a primeira mulher na história a abrir a Assembleia Geral. Em seu discurso de 2011, a presidenta já havia abordado a crise econômica e defendido o fim da guerra fiscal e monetária e do protecionismo.

O Brasil tem a tradição de abrir os trabalhos da organização desde 1947, com o chanceler Oswaldo Aranha. Isso se deve ao fato de o país ter sido o primeiro a aderir às Nações Unidas, em 1945, ano de criação da entidade. 

A 67ª edição da Assembleia-Geral da ONU conta com a participação de chefes de Estado dos 193 países integrantes das Nações Unidas. Na sequência do discurso de Dilma, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, faria o seu discurso.

Atualmente, o Conselho de Segurança da ONU é formado por 15 países – cinco ocupam vagas permanentes e dez, rotativas. O Brasil defende a ampliação para pelo menos 25 lugares no total. Também reivindica uma vaga entre os cinco membros permanentes – China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Estes países têm poder de veto no conselho, responsável por definir medidas e sanções nas principais questões globais.

 

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