No primeiro debate em São Paulo, cada um no seu quadrado – e pouca novidade

Fernando Haddad afirma que vai trazer modelo de 'êxito' do governo federal à cidade, José Serra defende Kassab e Gabriel Chalita enfatiza boa relação com Alckmin e Dilma

Serra não foi questionado sobre os desvios na privatização de empresas. Haddad respondeu sobre mensalão e Maluf (Foto: Danilo Verpa. Folhapress)

São Paulo – O primeiro debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo reservou pouco espaço para surpresas e exaltações. Questões incômodas para cada um dos principais candidatos apareceram eventualmente, mas predominaram as defesas dos respectivos projetos passados. De um lado, José Serra (PSDB) tentou defender a gestão Gilberto Kassab (PSD), iniciada por ele e com baixo índice de aprovação. De outro, Fernando Haddad (PT) prometeu trazer a São Paulo o projeto federal, do qual foi ministro da Educação, e enumerou falhas da atual administração. Arriscando o caminho do meio, Gabriel Chalita (PMDB) reforçou a leitura de que é quem nutre melhores relações com a presidenta Dilma Rousseff (PT) e com o governador Geraldo Alckmin (PMDB), de quem foi secretário da Educação.

Para Haddad, São Paulo perdeu tempo ao deixar de firmar parcerias com o governo federal. “Precisamos retomar os investimentos em transporte coletivo, começando por uma ação emergencial nos corredores, que são baratos”, disse, após perguntar à candidata Soninha Francine (PPS) sobre os projetos para o transporte público. Ele levantou polêmica com a ex-subprefeita de Kassab, que acusou o governo federal pela piora do trânsito em São Paulo devido aos incentivos à compra de carros. “O trabalhador em países desenvolvidos tem acesso ao automóvel. Inclusive o automóvel na Europa e nos Estados Unidos é mais barato do que no Brasil. Portanto, a desoneração de impostos me parece uma ação meritória”, indicou o petista. “Precisamos retomar os investimentos em transporte coletivo, começando por uma ação emergencial nos corredores, que são baratos.”

Já Serra, quando perguntado por Paulo Pereira da Silva (PDT) sobre a necessidade de criar empregos nas áreas periféricas, afirmou que sua gestão fez isso ao abrir novas avenidas. O tucano adiantou que pretende promover uma nova operação urbana entre as zonas sul e leste. Trata-se de grandes intervenções que têm servido à abertura de frentes para o mercado imobiliário, uma ação questionada por urbanistas. “Uma coisa fundamental que nós fizemos foram obras que abrem a cidade para uma integração maior econômica nos bairros mais afastados”, disse Serra, que enfatizou a possível parceria com Alckmin e aquilo que considera realizações à frente do governo do estado, entre 2006 e 2010. “Transformamos a CPTM numa espécie de metrô. Trens novos, ar refrigerado, mais rápidos.” 

Enquanto isso, Chalita aproveitou praticamente todas as respostas do evento organizado pela Band para insistir nas boas relações com os palácios do Planalto e dos Bandeirantes. “Quero ser o prefeito da parceria. Quero trabalhar com o governo federal, com o governo do estado”, disse. “São Paulo já teve brigas demais entre partidos, e a gente sai perdendo com isso. Quero trabalhar em parceria com o governador, quero trabalhar em parceria com a presidenta.”

Chalita enfatizou seu passado de secretário de Educação de Geraldo Alckmin e o presente de uma ligação entre PMDB e PT na esfera federal. Para o candidato, ele é o nome mais indicado para negociar a dívida pública municipal. “É uma cidade muito rica, mas há cidades invisíveis dentro dela. A Presidência da República será sensível a isso.”

Temas incômodos

Questões que poderiam ser incômodas foram laterais ao longo das duas horas de evento. Serra passou o primeiro debate sem perguntas sobre A privataria tucana, livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. que mostra como familiares e sócios do tucano desviaram dinheiro da privatização de empresas durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O trabalho foi mostrado por Carlos Giannazi em uma pergunta apresentada a Paulo Pereira, que se esquivou de comentar o tema. Em alguns momentos foi citado o caso de Hussain Aref Saab, ex-diretor do Departamento de Aprovação de Edificações (Aprov) da gestão Kassab, acusado de receber propinas para promover a liberação de obras.

Haddad foi perguntado duas vezes sobre questões político-partidárias. Na primeira, Carlos Giannazi (PSOL) questionou a parceria com o deputado federal Paulo Maluf (PP). “Agradeço a pergunta porque tenho uma visão de democracia baseada em alianças com partidos políticos. Desde janeiro disse que buscaria alianças com partidos da base de Dilma sem exceção. Porque quero replicar em São Paulo o êxito do governo Lula, o êxito do governo Dilma”, afirmou. “Combater a corrupção de indivíduos vamos combater criando a controladoria geral do município. Vamos ter um secretário que vai poder mapear as vulnerabilidades da prefeitura e trazer propostas concretas para combater a corrupção.”

Quando indagado por um repórter da casa sobre o julgamento do mensalão, iniciado hoje (2) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Haddad minimizou o impacto eleitoral do tema e enfatizou que as investigações em geral avançaram durante o governo Lula com o fortalecimento da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal. “Tínhamos (no governo FHC) um procurador geral que era chamado de engavetador geral porque arquivava todas as denúncias de corrupção. Hoje temos instituições que funcionam.”

A taxa de inspeção veicular, instalada na gestão Serra-Kassab e alvo de investigação do Ministério Público Estadual, veio à tona quando o tucano criticou a taxa do lixo, criada na gestão de Marta Suplicy (PT). “Não vou criar nenhum pedágio urbano. Não vou aumentar imposto nenhum. Não aumentei nem quando fui prefeito, nem quando fui governador. Eliminamos aquela malfadada taxa de lixo, que era detestada pela população”, disse o político do PSDB. “A taxa do lixo não foi substituída por nada. Foi uma aberração que foi feita na administração anterior à nossa.”

“A troca da taxa do lixo pela taxa do carro não foi boa. Os carros novos que estão sendo comprados agora serem submetidos a uma inspeção veicular paga é desnecessário. Mantenho a inspeção veicular mas vou reduzir os tributos”, respondeu Haddad. 

Outros candidatos

  • Soninha Francine (PPS)
    A candidata parece ter deixado de lado seu passado de subprefeita de Kassab e de vereadora pelo PT. Fez críticas à atual gestão, da qual seu partido é aliado, e culpou o governo federal pelo trânsito da cidade. “Há anos a gente sabe que as subprefeituras têm dono. A gente tem de lidar com os donos da subprefeitura. Ministério tem dono, empresa pública tem dono”, afirmou ao comentar a lógica das alianças políticas. “É perfeitamente possível conquistar a maioria com seus projetos na Câmara Municipal sem cair no toma lá, dá cá.”
  • Celso Russomano (PRB)
    Segundo colocado até agora nas pesquisas, evitou embates e adotou uma postura de defesa de melhoria na gestão pública. “Quero dizer que não é fácil governar São Paulo, mas podemos fazer. Vamos inovar, vamos fazer uma gestão pública integrada. Vamos defender você. Serei o prefeito que vai às ruas, que vai buscar os seus direitos e que vai construir uma cidade melhor. Se as empresas particulares podem ter qualidade na prestação de serviço, o poder público também pode”
  • Levy Fidelix (PRTB)
    Transportes e melhoria do caixa municipal foram os temas defendidos por Fidelix em quase todas as exposições ao longo de três horas de debate. Ele comemorou que Serra-Kassab tenham dado início à construção do monotrilho, projeto que atribui a si, e insistiu na necessidade de descentralizar a criação de empregos e o abastecimento de São Paulo. “Se construirmos o banco de poupança popular da cidade de São Paulo e arrecadarmos,teremos condições para buscar os recursos para que possamos reduzir essa dívida, incalculável, e essa nossa querida São Paulo se transformar nessa casa da sogra”
  • Carlos Giannazi (PSOL)
    O candidato do PSOL apresentou-se como o diferente na disputa, livre das amarras políticas que pesam sobre os partidos mais antigos. Giannazi criticou o PT, o PSDB, o PDT, enfim, quase todos os presentes.  “Os partidos que estão disputando a eleição já governaram a cidade e afundaram a cidade. Então, é o momento da mudança”
  • Paulinho da Força (PDT)
    Valorização do funcionalismo público e dos aposentados foi uma das questões centrais no discurso do presidente licenciado da Força Sindical, que insistiu na necessidade de criação de empregos em bairros periféricos. “Quero ser prefeito de São Paulo porque tenho duas propostas inovadoras. Primeiro, descentralizar a administração com a eleição para subprefeitos. Depois, levando o emprego para perto da casa das pessoas.”

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