Mesmo rejeitado, Cesar Maia influencia eleições no Rio

Onipresente nas eleições do Rio há duas décadas, Cesar Maia volta a figurar em 2012, desta vez atrapalhando o filho Rodrigo (Leandro Martins/CC) Rio de Janeiro – Na mais recente […]

Onipresente nas eleições do Rio há duas décadas, Cesar Maia volta a figurar em 2012, desta vez atrapalhando o filho Rodrigo (Leandro Martins/CC)

Rio de Janeiro – Na mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha sobre as eleições municipais no Rio de Janeiro, chamou a atenção o alto percentual de rejeição (31%) do eleitorado carioca ao candidato do DEM, o deputado federal Rodrigo Maia. Muito elevada para um candidato jovem (41 anos) e que nunca ocupou cargo no Executivo, essa rejeição é maior até mesmo do que a provocada pelo atual prefeito – e candidato à reeleição pelo PMDB – Eduardo Paes, que fica na faixa dos 20%.

A explicação para tamanha rejeição ao candidato do DEM pode não estar exatamente em Rodrigo, mas no ex-prefeito Cesar Maia, pai do candidato e figura onipresente nas eleições cariocas há duas décadas. A saturação do nome de Cesar pôde ser medida quando ele – que esteve à frente da Prefeitura do Rio por doze anos distribuídos em três mandatos (1993-1996; 2001-2004; 2005-2008) – tentou o Senado em 2010 e recebeu apenas 11% dos votos, ficando na terceira colocação. Naquele pleito, a rejeição ao ex-prefeito apontada pelas pesquisas ultrapassou os 40%.

Apesar daquela derrota, Cesar continua sendo uma figura atuante na política fluminense. Após costurar uma até então impensável aliança para a disputa da prefeitura do Rio com o PR do ex-governador Anthony Garotinho, seu desafeto de longa data, o ex-prefeito decidiu lançar sua candidatura a vereador com o objetivo de dobrar o tamanho da bancada do DEM na Câmara Municipal  –  atualmente composta por quatro vereadores  –  e aumentar a força da oposição parlamentar ao provável segundo governo de Paes.

A presença de Cesar na atual disputa majoritária, entretanto, também é grande, pois além do filho Rodrigo Maia, outros três candidatos à prefeitura do Rio tiveram ligação com o ex-prefeito em algum momento de suas trajetórias políticas. O maior exemplo é o próprio Eduardo Paes, lançado na política por Cesar e legítimo integrante do grupo de jovens gestores que ficou conhecido nos 90 como “cesarboys”.

Os afilhados

Em 1993, Paes foi nomeado por Cesar subprefeito da região Barra e Jacarepaguá, cargo que o permitiu iniciar sua carreira parlamentar – foi eleito vereador em em 1996, como o mais votado entre todos os candidatos. Quando Cesar retornou à Prefeitura, em 2001, Paes foi nomeado secretário de Meio Ambiente, mas deixou o cargo um ano depois para assumir o mandato de deputado federal pelo então PFL. Logo depois, Paes aproximou-se do grupo político de José Serra, foi para o PSDB e iniciou um gradual processo de afastamento de Cesar. Quando o atual prefeito ingressou no PMDB a convite do governador do Rio, Sérgio Cabral, e passou a apoiar o governo Lula, o rompimento com Cesar foi definitivo.

Candidato do PSDB à prefeitura, o deputado federal Otávio Leite foi vice-prefeito da cidade em 2005 e 2006, nos dois primeiros anos do terceiro mandato de Cesar. O processo de estremecimento entre os tucanos e a direção do DEM no decorrer da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República naquele ano, no entanto, fez com que Leite renunciasse ao posto para assumir mandato de deputado federal. Na época, o tucano se queixou do estilo centralizador de Cesar e de falta de espaço político próprio, mas hoje mantém “relações cordiais” com o ex-prefeito, segundo disse à imprensa.

Outra que tem em sua história política uma ligação, ainda que indireta, com Cesar é a candidata do PV, a deputada estadual Aspásia Camargo. Seu principal aliado político no partido, o deputado federal Alfredo Sirkis, esteve na linha de frente dos três mandatos de Cesar, como secretário de Meio Ambiente (1993 a 1996) e de Urbanismo (2001 a 2006). Antiga militante do PPS, Aspásia sempre esteve nos partidos que deram apoio ao ex-prefeito, mas, assim como Sirkis, rompeu politicamente com Cesar no início de seu terceiro mandato.

Trajetória singular

Nascido em 1945, em uma família carioca de classe média, Cesar Maia começou a desenvolver um pensamento socialista, segundo ele mesmo diz, ainda na juventude. Após o golpe militar de 1964, decidiu ajudar mais diretamente na luta pela redemocratização do Brasil e tornou-se militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual atuou em congressos estudantis. Perseguido pela ditadura, Cesar foi viver em Santiago, onde estudou na Escola de Economia e iniciou sua amizade com José Serra, então também exilado no Chile.

De volta ao Brasil em 1973, Cesar já estava casado e era pai de seus dois filhos Rodrigo e Daniela. Após cumprir três meses de prisão por conta de processos pendentes na Justiça Militar, saiu e tornou-se professor na Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Como economista, Cesar aproximou-se de Leonel Brizola quando este voltou do exílio. Ingressou no PDT em 1981, sendo posteriormente convidado para assumir a Secretaria de Fazenda no primeiro governo de Brizola no Rio de Janeiro (1983-1986).

Eleito deputado constituinte em 1986 e reeleito com expressiva votação em 1990, Cesar rompeu com Brizola em 1991 para poder se candidatar à Prefeitura do Rio pelo PMDB no ano seguinte. Seguindo seu périplo político, passou pelo PTB, legenda pela qual se reelegeu prefeito em 2000, e aportou logo depois no então PFL, atual DEM, do qual chegou a ser presidente nacional e onde está até hoje.

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