Governo FHC vasculhou dados bancários da CUT-RJ

Brasília – Documentos abertos à consulta pública pelo Arquivo Nacional a partir da Lei de Acesso à Informação mostram que ao mesmo tempo em que o governo Fernando Henrique Cardoso […]

Brasília – Documentos abertos à consulta pública pelo Arquivo Nacional a partir da Lei de Acesso à Informação mostram que ao mesmo tempo em que o governo Fernando Henrique Cardoso defendia o neoliberalismo aos quatro ventos nos anos 90, a prática era outra. Enquanto a doutrina político-econômica prega, ou pregava, liberdade máxima para transações financeiras e intervenção mínima do estado, a Subsecretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) do Planalto monitorava dados bancários de entidades críticas à cartilha neoliberal, como aconteceu com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio de Janeiro.

“A CUT RJ possui uma conta corrente no banco Bradesco, sob o n⁰ XXX na agência n⁰ 0026-4, localizada na rua 1⁰ de Março n⁰ 45-47, no Centro, no RJ”, começa o documento Recursos Financeiros da Central Única do (sic) Trabalhadores, sob a identidade C0216835-2000 da SAE, que veio a substituir o Serviço Nacional de Informação (SNI) em 1990 e depois deu origem à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em 1999.

“No extrato de conferência constam vários avisos de crédito efetuados por entidades classistas a favor da CUT”, segue o documento da subsecretaria antes de especificar valores desde R$ 2.292,61, do sindicato dos trabalhadores da Universidade Federal Fluminense, até R$ 8.088,20, (digitado 8.0088,20 no documento) do sindicato dos bancários, totalizando R$ 21.335,78 no dia 10 de setembro de 1998.

Ao saber do monitoramento, José Antonio Garcia Lima, secretário de finanças da CUT-RJ à época, se disse perplexo. “Me causa absoluta espécie isso. Estou surpreso que um organismo de um governo democrático vai à conta da CUT para saber se tem depósito. Que troço mais despropositado. Tivesse a CUT sob investigação, sob desconfiança, ou alguma coisa desse tipo, vá lá, mas esse tipo de coisa?”, questionou ele.

“É absolutamente natural que existam depósitos na conta da CUT oriundos de sindicatos. A CUT só faz finanças recebendo depósitos de sindicatos. Me causa espécie que o governo vá forungá extrato bancário da CUT em uma coisa absolutamente normal como essa. Nessa época do mês é a época que terminam os recolhimentos. Os sindicatos estão pagando à CUT”, continuou ele.

Ao referir-se à data do documento, Lima desconfia das reais intenções de tal vigilância, apontando uma possível mistura entre interesses nacionais e interesses partidários do governo FHC. “O que me chama atenção unicamente neste negócio é o calendário. Setembro de 98, período eleitoral. Nós, e a grande maioria desse campo político que trabalha junto à CUT, defendíamos outra candidatura, e os caras ficaram olhando as minhas contas em plena campanha eleitoral. Deveriam estar procurando algo… Uma bobagem sem tamanho. É um absurdo. Uma coisa absolutamente de causar nojo”.

Leia a reportagem completa na página da Carta Maior.

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